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Lenny Kravitz fez melhor show | AFP PHOTO / Luisa DE PAOLA
Lenny Kravitz fez melhor show| Foto: AFP PHOTO / Luisa DE PAOLA

Brasília – Mais do que expor o adultério de Renan Calheiros (AL), as negociatas milionárias de Joaquim Roriz (DF) e as emendas duvidosas de Leomar Quintanilha (TO), a crise no Senado mostra a ambigüidade do maior partido do país. Coadjuvante nos escândalos da legislatura passada do Congresso Nacional, o PMDB reforça os sinais de que não se entende. E, mesmo sem a definição do futuro de Renan, sofre com a disputa para saber quem ocupará possíveis espaços de poder deixados pelo alagoano.

Ao mesmo tempo em que o presidente do Senado recebe o apoio de 17 dos 19 colegas de legenda na Casa, as críticas dos senadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcellos (PE) causam os maiores estragos na sua luta para permanecer no cargo. As duas figuras históricas do partido se manifestaram em plenário nesta semana pedindo o afastamento de Renan, acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista. Enquanto isso, poucos se esforçaram para defender Roriz, que renunciou na quinta-feira, após ser flagrado em uma escuta de uma operação da Polícia Federal acertando a partilha de R$ 2,2 milhões.

Os problemas éticos ou legais envolvendo Renan e Roriz, porém, não são exatamente novidade para a bancada do partido no Senado – a maior de todas, com 20 dos 81 senadores. Levantamento do portal congressoemfoco.com. br mostra que os peemedebistas são os recordistas em processos criminais movidos contra os atuais parlamentares da Casa. Ao todo, são 23 acusações contra membros da bancada, o que representa 62% dos 37 processos de todos os senadores no Supremo Tribunal Federal.

Uma das denúncias mais pesadas envolve o presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha. O responsável pelo julgamento de Renan é alvo de inquérito no Tocantins. Segundo o Ministério Público, ele teria feito emendas orçamentárias que favoreceriam a empresa de um irmão.

Heterogêneo demais

Os números chocam porque o partido passou ao largo, por exemplo, dos escândalos da máfia dos sanguessugas e do mensalão. Nesse último, ficou comprovada dentro da legenda apenas a participação do deputado federal paranaense José Borba. Ele foi cassado, suspeito de receber R$ 2 milhões como "mesada" do governo.

"A crise atual é uma situação que vai contra a história do partido", destaca a cientista política Maria Dalva Gil Kinzo, professora da Universidade de São Paulo. Ela ressalta que o PMDB é uma das siglas com o passado mais importante na luta pela democracia brasileira, mas que sofre pelo inchaço e por ser heterogêneo demais. "É um partido que tem uma trajetória tão consolidada, mas que ao mesmo tempo sempre foi fragmentado", diz Maria Dalva, que tem pós-doutorado em Estudos Eleitorais e Partidos Políticos pela Universidade de Georgetown (EUA).

Apesar dos escândalos, a professora consegue enxergar aspectos interessantes para o futuro do PMDB. A teoria é que o espaço deixado por Renan pode ser ocupado por lideranças "adormecidas". "A fragilização dessa ‘banda podre’ pode fortalecer as áreas que são mais responsáveis, mais competentes, que têm um maior compromisso político. Encaixam-se nesse perfil o Jarbas e o Simon."

Essa troca de lideranças seria benéfica à legenda para as próximas eleições presidenciais. De acordo com o presidente nacional do partido, Michel Temer, o candidato próprio é algo indispensável (veja entrevista acima). Apesar da distância até as eleições, Maria Dalva lança como favorito atualmente o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

Muitos membros do partido, porém, acreditam que as perdas provocadas pela crise no Senado são grandes. "O Renan era um dos comandantes do partido, que exercia uma importante função de fazer o diálogo com o Palácio do Planalto", diz o deputado federal paranaense Osmar Serraglio. Segundo ele, esse espaço deve ser ocupado por Temer, mas isso não significa que a sintonia entre o partido e governo permaneça igual.

Por outro lado, Serraglio, que ocupa o cargo de primeiro-secretário da Câmara dos Deputados, não vê possibilidade de que o escândalo cause estragos regionais. "Nacionalmente, há estrago. Mas enquanto tradução de voto popular para as eleições municipais do ano que vem, acho que não."

A opinião é compartilhada pelo deputado federal Rodrigo Rocha Loures, tesoureiro da diretoria estadual do partido.

"O PMDB, ao mesmo tempo em que tem um peso político enorme na política nacional, também tem uma nota muito regional, uma capilaridade enorme. Nossa sorte para escapar desse constrangimento é essa: o partido é muito grande", resume.

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