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A articulação de policiais militares de baixa patente na região da Grande Curitiba começou, nesta quarta-feira (18), a ganhar proporções maiores e dar mostras de estar desagradando ao comando da corporação. Desde o início da semana, a frequência do sistema de comunicação da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros tem sido "invadida", substituindo as informações sobre as ocorrências por músicas das paradas de sucesso. O canal também tem sido usado pelos "praças" – como são conhecidos soldados, cabos e sargentos – para articular uma eventual paralisação, como forma de pressionar a regulamentação da Emenda 29 à Constituição do Paraná. Entre outras coisas, este dispositivo estabelece a incorporação das gratificações no soldo dos policiais.

A movimentação começou a partir de viaturas da PM. Ao longo da terça-feira (17), os comunicadores da corporação tiveram a frequência invadida e passaram a reproduzir canções como "Ai, se eu te pego". Na quarta-feira, a manobra se alastrou para unidades do Corpo de Bombeiros. Paralelamente, o sistema era usado para fazer apologia à Emenda 29. "O descontentamento entre os soldados, cabos e sargentos é geral, porque os oficiais na última hora são seduzidos pelo governo e o problema não é resolvido. Desde 1998 que o sistema dos subsídios não é implantado. Se perdermos essa oportunidade, vai ser difícil ter outra", disse um cabo, que pediu para não ser identificado.

Além das trocas de mensagens por meio do sistema de comunicação interno da PM, os praças esboçam uma "operação-padrão", em que só ocorrências urgentes seriam atendidas. Nos bastidores, os policiais se mostram propensos a antecipar uma eventual paralisação. Ao longo desta quarta-feira, os radiocomunicadores da PM veicularam inúmeras mensagens incentivando a redução no ritmo de trabalho.

Ainda que aparentemente desordenada, a movimentação dos policiais de baixa patente parece ter desagradado a chefia da PM. Dois praças ouvidos pela Gazeta do Povo contaram que os HTs (comunicadores portáteis) de todos os policiais da 1ª Companhia do 17º Batalhão (que compreende a região de São José dos Pinhais) haviam sido recolhidos pelo comando. A medida foi mal recebida pelos policiais, que viram na iniciativa mais um motivo para a operação-padrão. "Eu não vou entrar em um beco sem meu HT. Se eu precisar me comunicar para pedir reforço, como vou fazer? A ordem é [fazer] operação tartaruga", disse o soldado que solicitou anonimato.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a PM confirmou que "alguns" comunicadores de "diversas áreas" foram recolhidos pelo comando. De acordo com o órgão, há suspeitas de que a frequência da corporação não tenha sido invadida por policiais, mas por terceiros. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi acionada, segundo a PM, para alterar a frequência utilizada pela corporação. Os radiocomunicadores devem ser devolvidos aos policiais em, no máximo, dois dias. A assessoria da PM não informa quantos aparelhos foram retirados momentaneamente de circulação.

Associação diz que momento é inapropriado para "bravatas", mas prevê "apagão"

A Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares (Amai), que representa também o Corpo de Bombeiros, informou que teve conhecimento da invasão da frequência da corporação e da troca de mensagens estimulando a paralisação. Para o presidente da entidade, o coronel Elizeo Furquim, no entanto, a categoria deveria primar pelo diálogo. "Há um fórum formado por sete entidades negociando com o governo. O momento é inapropriado para bravatas", avaliou.

O coronel atribui a invasão do sistema de comunicação ao ato isolado de alguns praças, mas reconhece que o clima é de ebulição entre os policiais de baixa patente. Para Furquim, no entanto, a categoria deveria optar pela negociação até meados de fevereiro, prazo dado pelos policiais ao governo para que um acordo seja firmado. "Gostaríamos que isso [essas manifestações] cessasse. Porque, se não houver acordo em fevereiro, aí sim haverá um grande movimento de paralisação, que trará, inclusive, outros segmentos do serviço público. Será um grande apagão", prevê o presidente da Amai.

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