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Entenda o caso

Na madrugada de 21 de dezembro, o Grupo Tigre investigava o sequestro dos fazendeiros paranaenses Osmar José Finkler e Lírio Persch, que haviam ido a Gravataí para comprar uma máquina agrícola anunciada pela internet. Os três investigadores faziam um levantamento quando o sargento Ariel da Silva, da Brigada Militar, tentou abordá-los em uma avenida. Segundo o depoimento dos agentes, o sargento estava à paisana e desceu da moto com arma em punho. Houve troca de tiros, o brigadista foi atingido por cinco tiros e morreu.

Na manhã do mesmo dia, os sequestradores e as vítimas deixavam o cativeiro em um carro. Policiais gaúchos tentaram abordar o veículo. Lírio Persch foi atingido por dois tiros nas costas e morreu. Osmar José Finkler disse que os tiros foram disparados por delegados gaúchos.

A Polícia Civil gaúcha deve se concentrar esta semana em apurar como foram os últimos passos do sargento da Brigada Militar, Ariel da Silva,morto em confronto com investigadores paranaenses do Grupo Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial), na madrugada de 21 de dezembro, em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre. Os policiais do grupo de elite do Paraná investigavam o sequestro de dois fazendeiros e empresários, que eram mantidos reféns no estado vizinho. Na sequência dos acontecimentos, um deles acabou morto com dois tiros nas costas, quando policiais gaúchos tentavam libertá-los. Quatro suspeitos foram presos. Os investigadores do Tigre estão presos.

O delegado da Corregedoria da Polícia Civil do RS, Paulo Rogério Grillo, responsável pelas investigações, informou que pretende ouvir testemunhas circunstanciais, que estiveram com o sargento, instantes antes de ele ter sido morto. O objetivo da polícia é descobrir o que o brigadista fazia no local, quando tentou abordar os investigadores paranaenses. "Quero ter uma ideia do porquê de ele estar ali", resumiu o delegado.

As investigações revelam que o confronto entre os investigadores paranaenses e o sargento gaúcho ocorreu após a tentativa de abordagem. Ariel da Silva estava à paisana e em uma moto sem identificação da polícia. Ele teria tentado interpelar os agentes do Tigre já com arma em punho e sem se identificar como policial. "Em princípio, ele [o sargento] não pediu socorro à Brigada, não acionou ninguém. Ele estava agindo meio solitário", definiu Grillo.

Apesar da abordagem fora dos padrões policiais (sozinho, à paisana e sem comunicar a corporação), o delegado disse que não é possível afirmar que Ariel da Silva fazia "bicos" como segurança na região. "Queremos ouvir essas testemunhas até para esclarecer tudo isso", acrescentou.

Na semana passada, o deputado federal Fernando Francischini (PSDB) questionou a abordagem do brigadista gaúcho, afirmando que a série de equívocos ocorreu por causa da ação errônea do sargento. "O que ele fez é contra qualquer regra de abordagem. Como um policial à paisana vai sozinho abordar um carro?", disse.

Em depoimento à polícia gaúcha, os investigadores do Grupo Tigre disseram que pensaram que o sargento fazia segurança a bandidos. O equívoco teria gerado o tiroteio.

Reconstituição deve ser realizada na próxima semana

A expectativa da Corregedoria da Polícia Civil gaúcha é de que na próxima semana seja realizada a reconstituição simulada dos fatos que culminaram com a morte do sargento Ariel da Silva. Para que o procedimento seja realizado, a unidade precisa receber os laudos do Instituto de Criminalística (a perícia de local de crime e o exame de balística) e do Instituto Médico-Legal (laudo de necropsia).

Para que a reconstituição seja realizada, os três policiais do Tigre, que estão presos e foram transferidos a Curitiba na semana passada, devem ser levados a Gravataí. Os gastos administrativos da remoção dos agentes deve ser custeado pelo governo do Paraná. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Paraná, os agentes permanecem detidos em uma unidade da corporação, não informada.

A transferência

Na semana passada, a Justiça gaúcha autorizou a transferência para Curitiba dos três policiais civis paranaenses que estavam detidos em Porto Alegre. O pedido só foi deferido depois que a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) do Paraná ofereceu "garantias" de que os investigadores permanecerão presos, "sem direito a passeios e saídas de qualquer natureza". Um pedido anterior de remoção dos agentes havia sido negado.

Desgaste entre autoridades paranaenses e gaúchas

Na semana passada, uma semana depois do incidente que acabou com a prisão dos policiais paranaenses, o Paraná elevou pela primeira vez o tom do discurso. O deputado federal Francischini saiu em defesa dos policiais paranaenses e apresentou à Comissão Representativa do Congresso Nacional um requerimento pedindo que o governador gaúcho Tarso Genro (PT) explique o "tratamento diferenciado" dado aos agentes paranaenses e gaúchos, envolvidos no episódio.

"O caso está virando uma questão política, porque o governador do Rio Grande do Sul está querendo encobrir um erro da polícia gaúcha, que ele comanda, jogando toda a culpa em cima dos policiais do Paraná. Ele [Genro] está superdimensionando o acontecimento para acobertar a própria falha", atacou o deputado, em entrevista à Gazeta do Povo.

Anteriormente, Genro havia classificado a ação dos policiais paranaenses como uma "operação irresponsável e ilegal", segundo o jornal Zero Hora. Os chefes da Brigada Militar e da Polícia Civil gaúcha também condenaram a atuação dos agentes. O principal argumento era que a Polícia Civil paranaense não teria avisado as autoridades gaúchas sobre a operação.

Uma organização independente formada por delegados paranaenses, a Comissão de Direitos Humanos "Irmãos Naves", divulgou um relatório avaliando que não houve "ilegalidade" ou "clandestinidade" na ação dos policiais do PR. O documento ressalta que, de acordo com o Código do Processo Penal (CPP), a comunicação sobre a operação às autoridades gaúchas poderia ocorrer ao fim dos trabalhos. O relatório destaca ainda a natureza sigilosa da ação e o risco que corriam as vítimas. Segundo o texto, assinado pelo delegado Cláudio Marques, conselheiro da comissão, a Brigada gaúcha quebrou o sigilo da operação.

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