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Os três policiais civis paranaenses que estavam detidos no Rio Grande do Sul chegaram a Curitiba nesta sexta-feira (30). A Justiça gaúcha deferiu o pedido de transferência na tarde desta quinta-feira (29). De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Paraná, uma aeronave oficial do governo do estado foi utilizada no transporte. Eles chegaram à capital paranaense por volta da zero hora desta sexta-feira.

A transferência foi acatada pela juíza Eda Salete Zanatta de Miranda, da 1ª Vara Criminal de Gravataí, após a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp) ter dado "garantias" de que os investigadores continuarão presos. Segundo a Polícia Civil do Paraná, um pedido anterior de remoção dos agentes havia sido negado.

O local onde eles estão presos em Curitiba não foi divulgado pela Polícia Civil. Uma das possibilidades é de que fiquem detidos na sede do Grupo Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial).

De acordo com a decisão, os agentes devem ficar à disposição da Justiça gaúcha e da Corregedoria de Polícia daquele estado (responsável pelas investigações), além do Ministério Público gaúcho. Nota divulgada pelo Tribunal de Justiça (TJ-RS) ressalta que os investigadores devem permanecer presos, "sem direito a passeios e saídas de qualquer natureza". O TJ-RS informou que a decisão pode ser revista a qualquer momento, caso as condições estabelecidas não sejam observadas.

O comandante da Polícia Civil do Paraná, o delegado-geral Marcus Vinícius Michelotto, comemorou a transferência dos policiais na quinta-feira, mas ressaltou que considera injusta a prisão deles. "A prisão foi uma decisão injusta. Não havia nenhuma necessidade de eles [os policiais paranaenses] terem sido presos. Eles não cometeram nenhuma falha e isso vai ficar comprovado", disse.

Desgaste entre autoridades paranaenses e gaúchas

Uma semana depois do incidente que acabou com a prisão dos policiais paranaenses e que resultou na morte do sargento gaúcho e de um dos reféns, o Paraná elevou pela primeira vez o tom do discurso. O deputado federal Fernando Francischini (PSDB) saiu em defesa dos policiais paranaenses e apresentou à Comissão Representativa do Congresso Nacional um requerimento pedindo que o governador gaúcho Tarso Genro (PT) explique o "tratamento diferenciado" dado aos agentes paranaenses e gaúchos, envolvidos no episódio.

"O caso está virando uma questão política, porque o governador do Rio Grande do Sul está querendo encobrir um erro da polícia gaúcha, que ele comanda, jogando toda a culpa em cima dos policiais do Paraná. Ele [Genro] está superdimensionando o acontecimento para acobertar a própria falha", atacou o deputado.

Na semana passada, Genro havia classificado a ação dos policiais paranaenses como uma "operação irresponsável e ilegal", se­­gundo o jornal Zero Hora. Os chefes da Brigada Militar e da Polícia Civil gaúcha também condenaram a atuação dos agentes. O principal argumento era que a Polícia Civil paranaense não teria avisado as autoridades gaúchas sobre a operação.

Uma organização independente formada por delegados paranaenses, a Comissão de Direitos Humanos "Irmãos Naves", divulgou um relatório ontem, avaliando que não houve "ilegalidade" ou "clandestinidade" na ação dos policiais do PR. O documento ressalta que, de acordo com o Código do Processo Penal (CPP) a comunicação sobre a operação às autoridades gaúchas poderia ocorrer ao fim dos trabalhos. O relatório ressalta ainda a natureza sigilosa da ação e o risco que corriam as vítimas.

O texto, assinado pelo delegado Cláudio Marques, conselheiro da comissão, aponta ainda que a morte do refém ocorreu por falhas na ação cometida por delegados gaúchos e que a Brigada Militar havia quebrado o sigilo da operação, divulgando uma foto de um dos sequestradores.

Operação

Os três policiais do Grupo Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial) investigavam o sequestro de dois empresários paranaenses que eram mantidos em cativeiro em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre. Em uma das diligências, um sargento da Brigada Militar gaúcha morreu em uma suposta troca de tiros. No dia seguinte, uma das vítimas morreu quando a polícia tentou abordar os sequestradores.

A operação do grupo Tigre, a unidade de elite antissequestro da Polícia Civil do Paraná, que acabou de forma trágica em Gravataí, no Rio Grande do Sul, ocorreu no dia 21 de dezembro. Os policiais paranaenses foram ao estado gaúcho resgatar duas vítimas de sequestro sem avisar as autoridades locais e mataram um sargento da Brigada Militar numa suposta troca de tiros. Ao saber dos motivos da investida da polícia paranaense, dois delegados gaúchos estouraram o cativeiro e acabaram matando uma das vítimas, o agricultor paranaense Lírio Persch.

Prisão e morte

O sargento Ariel estava de moto e teria sido atingido por cinco disparos, quatro no estômago e um no pescoço, na Avenida Planaltina, por volta de 1h30 da manhã do dia 21. De acordo com o comandante da Brigada Militar, a viatura do grupo Tigre estava parada de modo transversal na via, o que levou à abordagem do sargento. Lopes acredita que os disparos efetuados pelo sargento teriam sido feitos após ele ter sido atingido. Segundo ele, os locais onde ficaram as marcas dos tiros apontam que ele já estaria deitado quando revidou.

Já para a Polícia Civil do Paraná, os policiais do Tigre relataram que estavam sendo seguidos por um homem em uma motocicleta. Em um semáforo, ele abordou o veículo dos policiais. Houve troca de tiros e o homem morreu no confronto. A troca de tiros ocorreu no bairro Morada do Vale, bem longe da casa onde ocorria o sequestro, no centro de Gravataí.

No pedido de prisão, o promotor de Justiça André Luís Dal Molin Flores critica a ação do grupo Tigre. "Pelo histórico da ocorrência policial e gravidade do fato, há sérios indícios de que os policiais civis do Paraná não possuíam autorização para estar na cidade, não apresentaram argumentos convincentes sobre o episódio, e, possivelmente, tenham deturpado a seu favor os acontecimentos", justifica.

Sargento foi confundido com bandido

Em depoimento prestado na terça-feira (27), os policiais disseram que pensaram que o sargento Ariel da Silva seria segurança dos sequestradores. Pilotando uma moto, ele teria ultrapassado o veículo descaracterizado da polícia do Paraná e retornado por detrás da viatura. O sargento estava à paisana, em uma motocicleta também sem identificação.

Após a manobra, Ariel da Silva teria sacado uma arma, provocando a reação dos policiais paranaenses, que atiraram diversas vezes. O sargento foi atingido e morreu no local. Segundo a versão dos agentes do Grupo Tigre, os tiros disparados por eles e por Ariel da Silva partiram praticamente ao mesmo tempo.

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