• Carregando...
Policial civil há dez anos, Rafael Martins foi alvo de preconceito em escola do Rio de Janeiro
Policial civil há dez anos, Rafael Martins foi alvo de preconceito em escola do Rio de Janeiro| Foto: Reprodução

Um policial civil do Rio de Janeiro foi convidado por um professor a deixar a quadra da escola em que seu filho estuda há oito anos após pais de outros alunos terem relatado ao docente que estavam se sentindo desconfortáveis com a presença do profissional de segurança pública. O episódio aconteceu no dia 29 de maio em uma instituição de ensino na capital fluminense com Rafael Martins, que é policial há dez anos.

Apesar de ser policial civil, que via de regra não usa fardamento como policiais militares, ele estava com trajes policiais e com armamento aparente, já que após deixar o filho em casa passaria a noite fazendo um plantão extra em uma operação de repressão ao roubo de cargas e veículos.

Após o ocorrido, Martins gravou um vídeo (veja no final da matéria) contando o caso sem identificar a escola e publicou em suas redes sociais para comentar um duplo padrão de comportamento: em abril, quando havia grande preocupação com ataques a estudantes após a ocorrência de episódios de violência em escolas pelo país, a presença de policiais nos arredores dessas instituições teve demanda sem precedentes. “Até um tempo atrás queriam a polícia nas escolas, e agora que está tudo bem ficam incomodados com nossa presença”, disse o policial à Gazeta do Povo.

No vídeo, que viralizou nas redes sociais, Rafael Martins – que é criador e apresentador do podcast Fala Guerreiro Cast, que tem como objetivo aproximar a polícia da população – afirma que a reação dos pais que pediram sua retirada é resultado de uma guerra cultural na qual a imagem da polícia é constantemente atacada.

Veja a seguir entrevista com o policial sobre o ocorrido.

Como tudo se desenrolou até a sua saída do local e qual foi sua percepção sobre esse episódio?

Rafael Martins: Meu filho estuda nessa escola há oito anos. Todo mundo me conhece lá, e todos os dias que tem escolinha de futebol eu saio da delegacia e chego no final para assistir alguns minutos. Mas dessa vez eu estava equipado.

Fui abordado pelo professor, que foi muito gentil e educado. Percebi que ele estava sem graça, desconfortável com aquela situação. Ele disse que alguns pais ficaram incomodados, desconfortáveis com minha presença, com a arma. Ele não me pediu para sair, mas veio me dar ciência de que minha presença estava causando incômodo. Não sei se foi um, dois ou mais pais que o procuraram, mas eu não queria guerra com ninguém e decidi sair. Quando eu saí ele veio atrás tentando amenizar a situação. Na verdade, ele foi o enviado para aquele serviço ingrato.

No caminho até o carro, veio na minha cabeça que algumas semanas atrás as escolas estavam com aquelas ameaças de ataques, e várias fizeram comunicados aos pais dizendo que as crianças estariam seguras porque polícia estaria na escola. Eu pessoalmente participei de uma operação em uma comunidade para efetuar a prisão de um dos jovens que estavam fomentando aqueles ataques.

Entendo que a reação desses pais faz parte dessa guerra cultural; é aquela coisa que fica no subconsciente, de tanto falarem mal da polícia algumas pessoas têm essa imagem negativa. Mas a ideia de fazer o vídeo não foi para me vitimizar, mas por que lembrei que mesmo com essa imagem negativa, lá atrás queriam nossa presença, e agora que está tudo bem ficam incomodados. E aqui cabe uma frase muito comum que falamos: “A polícia é a presença mais incômoda e a ausência mais sentida”.

É uma mensagem para ficarmos atentos a essa guerra cultural, aos conteúdos que nossos filhos acessam. Nos filmes, quando há um personagem de um policial é sempre um cara envolvido com crime, corrupção, violência. As notícias de jornal, quando um policial acaba neutralizando um criminoso, muitas vezes vêm assim: "Polícia mata jovem", ou "Polícia mata suspeito". Mas o “jovem” e o “suspeito” estavam com fuzil na mão trocando tiros com a polícia. E toda essa informação infelizmente acaba influenciando o modo de pensar das pessoas.

A escola entrou em contato com o sr. após o ocorrido?

Rafael Martins: Sim. A direção me ligou, me pediram para ir até lá. Fizeram uma reunião, pediram desculpas e disseram que esse não é o pensamento da escola, e que apoiam o trabalho da polícia. Disseram também que o professor ficou numa saia justa quando os pais o abordaram.

Eu nunca expus a escola e não fiquei chateado. Mas sei que teria colegas que teriam batido o pé e não sairiam. Eu não quis criar essa situação, até porque estava carregando comigo as insígnias da minha instituição. E no final das contas, meu comportamento causou uma comoção muito maior do que se eu tivesse batido o pé e ficado, porque ali talvez eu seria mais um policial criticado e perseguido. Talvez surgiriam matérias dizendo que "um policial entrou armado numa escola e se recusou a sair". Isso se viraria contra mim.

Mas pelo contrário, o vídeo repercutiu muito bem. E o número de pessoas que me procuraram com mensagens de apoio deixou muito claro que estamos mudando nosso país. Pode ter tido dois ou três pais que ficaram incomodados, mas a grande maioria apoia. Tanto que a escola disse que queria a escola mais próxima da polícia e me convidou para fazer uma palestra para os alunos sobre a polícia. Isso, no fim das contas, trouxe uma coisa muito positiva.

Veja abaixo o vídeo com a manifestação do policial:

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]