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Marco Antônio Vieira Leal matou a filha de 2 anos para se vingar da ex-mulher | Marco Antonio/ Gazeta do Povo
Marco Antônio Vieira Leal matou a filha de 2 anos para se vingar da ex-mulher| Foto: Marco Antonio/ Gazeta do Povo

Fatores de risco podem alertar para prevenção

Segundo o levantamento da Universidade de Manchester, há alguns fatores de risco a serem observados que podem permitir uma ação preventiva junto à família: pais muito jovens, violência doméstica, negligência, doenças psiquiátricas e depressão pós-parto, entre outros.

Segundo Lídia Weber, doutora em Psicologia e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no caso específico do assassinato de Vitoria, pode ter havido negligência familiar e do poder público, uma vez que, dias antes, em 13 de outubro, a mãe da menina registrou um boletim de ocorrência relatando ameaças sofridas por Leal. "Não é possível saber se o crime poderia ter sido evitado, mas o poder público tem de estar mais bem equipado para lidar com situações como essa. É preciso pensar que há verdade na denúncia. Lembra um pouco o caso do menino Bernardo", observou.

A psicóloga também destacou a importância de não haver tolerância com comportamentos violentos na educação dos filhos e no relacionamento marital. "Se não há reação, o agressor tende a aumentar a gravidade da violência para que ela surta algum efeito e muitas vezes pode atingir extremos", explicou.

Veja alguns casos emblemáticos de filicídio:

Isabella Nardoni

A menina de cinco anos morreu após ser arremessada do sexto andar de um edifício localizado em São Paulo, em março de 2008. O caso gerou grande repercussão nacionalmente porque a autoria do crime foi reputada ao pai e à madrasta, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. O casal foi condenado por homicídio doloso triplamente qualificado. Na época, vizinhos relataram brigas constantes entre o casal quando Isabella estava no apartamento motivadas pelo ciúme que Anna Carolina sentia da menina.

Bernardo Boldrini

Outro caso emblemático. Bernardo foi morto em abril desse ano com uma superdose de sedativo e, depois, enterrado em uma cova rasa em área rural de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul. O inquérito apontou Leandro Boldrini, pai do menino, e Graciele Ugulini, a madrasta, como mentores do crime. Eles respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver junto com outros dois réus. Há provas em vídeo e áudio, além de depoimentos de vizinhos e conhecidos da família, de que Bernardo sofria maus tratos e ameaças.

"Não sei o que aconteceu. Eu tive um surto por causa dos remédios. Não tinha planejado matar minha filha. Agora espero que a Justiça seja feita comigo." Essa foi a declaração dada ontem por Marco Antônio Vieira Leal, 36 anos, autuado em flagrante pelo homicídio qualificado por motivo torpe da filha mais nova, Vitoria, de 2 anos. Na terça-feira, Leal levou os três filhos para passear na zona rural de Roça Nova, em Piraquara, quando, por volta das 17 horas, disparou contra a menina na frente dos outros dois filhos, de 5 e 7 anos.

Em seu depoimento, ele alegou ter cometido o crime para se vingar da ex-mulher, mãe das crianças. Depois, afirmou ter sofrido um surto psicótico por causa dos remédios de uso controlado que consome. Conforme o delegado Guilherme Fagundes, responsável pelo caso, Leal permanecerá detido na delegacia de Piraquara enquanto aguarda o fim do inquérito policial, cujo prazo é de 10 dias, para então ser encaminhado ao Complexo Penitenciário.

O assassinato da menina pelo próprio pai causou comoção e revolta entre a população local, que tentou incendiar a residência de Leal. O episódio traz à tona uma questão pouco discutida e de difícil compreensão: o filicídio, ou o assassinato de filhos.

Absurdo

Contrariando a ideia de que o amor paterno e materno é incondicional e inquestionável, o filicídio viola leis e normas estabelecidas moral e socialmente, tornando-se um tabu. No entanto, é um crime bastante antigo, aparecendo já na mitologia grega através de Medéia, mãe que, conforme o dramaturgo Eurípedes (século 5 a.C.), mata seus dois filhos para se vingar de Jasão, o marido traidor.

Doutora em Psicologia e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber explica que a maioria dos casos de filicídio ocorre em cinco situações específicas: em episódios de surtos psicóticos; quando os pais não desejam a criança; quando a motivação do crime é vingança contra o cônjuge ou ex-cônjuge; por negligência ou descuido; e quando o filicida acredita estar fazendo algo benéfico para o filho, nesses casos, geralmente o pai ou a mãe comete suicídio na sequência.

Em 2009, o Centro de Prevenção contra o Suicídio, da Universidade de Manchester, na Inglaterra, mapeou os estudos sobre filicídio dos últimos 20 anos e, a partir dos resultados, elaborou estatísticas mundiais. Descobriu-se que os homens respondem pela maioria dos filicídios.

Pesquisa realizada nos Estados Unidos com base em assassinatos de filhos entre 1958 e 2002 revelou que os pais respondem por 67% das mortes e as mães, por 33%. Outro levantamento, nos Países Baixos, também verificou a predominância de 55% dos homens enquanto autores de filicídios entre 1953 e 2004. Enquanto 50% dos pais tiram a própria vida após assassinarem um filho, entre as mulheres o suicídio ocorre em 22% dos casos.

Verificou-se, também, que os pais tendem a matar crianças mais velhas, com 8 anos de idade em média, enquanto as mães filicidas costumam matar bebês mais novos, com até 4 anos em média – em muitos casos em decorrência da depressão pós-parto.

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