• Carregando...
 | Alan Marques/Folhapress
| Foto: Alan Marques/Folhapress

Crítica

"Modelo deveria ser revisto em dois anos", afirma Gilmar Mendes

O ministro Gilmar Mendes classificou como caricatural o estabelecimento de um "tribunal racial" que define se o candidato é ou não é negro (modelo utilizado pela Universidade de Brasília). Ele disse que esse órgão "está longe de ser infalível". Como exemplo, citou o episódio envolvendo gêmeos univitelinos (idênticos). Um foi considerado negro e o outro branco para a política de cotas da UnB. Gilmar Mendes afirmou ainda haver problemas no Brasil em razão das dificuldades de acesso à universidade pública. De acordo com ele, as instituições públicas brasileiras geralmente oferecem poucas vagas. Na UnB, por exemplo, são cerca de 50 vagas por turno no curso de Direito.

Para Mendes, uma saída seria expandir o número de vagas no sistema público de ensino. Mas isso levaria à necessidade de uma dotação maior de recursos. "Se tivéssemos vagas em número suficiente, essa tensão praticamente não existiria", afirmou. Joaquim Barbosa citou a experiência de outros países. Ele informou que em cidades como Nova York e Paris existem cerca de 15 universidades públicas.

Também a favor da adoção das cotas, o ministro Cezar Peluso disse que o sistema "é um experimento que o Estado brasileiro está fazendo e que pode ser controlado e aperfeiçoado". "Com o diploma, de algum modo está se garantindo o patrimônio educacional", afirmou Peluso. Gilmar Mendes criticou o fato de a política adotada pela UnB ser baseada em critérios puramente étnicos e defendeu uma revisão do modelo daqui a dois anos.

Índios Guaranis são expulsos do STF

Dois índios foram expulsos do STF por atrapalhar a sessão de julgamento da constitucionalidade do sistema de cotas raciais. Durante o voto do ministro Luiz Fux, os índios Araju Sepeti (foto) e Carlos Pankararu iniciaram uma manifestação no plenário e foram repreendidos mais de três vezes pelo presidente da corte, Carlos Ayres Britto, que suspendeu a sessão até que eles fossem retirados do local. Os índios criticaram o fato de que só o sistema de cotas raciais estava em julgamento.

Por que as cotas existem em tantas universidades?

Em 2002 duas universidades do Rio de Janeiro (UERJ e UENF) adotaram cotas raciais, em 2003, mais uma estadual, do Mato Grosso do Sul (UEMS), e a primeira federal (UnB). O Paraná foi o primeiro estado da Região Sul a adotar tais políticas, com UFPR e UEL iniciando seus programas em 2004. Em 2010 o Ipea apontava que 69 instituições públicas de ensino superior adotavam ações afirmativas, das quais 55 com recorte étnico-racial.

Leia a matéria completa

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem, por unanimidade, que a reserva de vagas em universidades públicas com base no sistema de cotas raciais é constitucional. Durante dois dias de julgamento, os ministros analisaram a ação ajuizada pelo partido Democratas (DEM), em 2009, contra esse sistema na Universidade de Brasília (UnB).

Os dez ministros – Dias Toffoli não participou do julgamento porque atuou no caso quando era advogado-geral da União– deram nesta quinta-feira o aval para que universidades brasileiras reservem vagas para negros e índios em seus processos seletivos e afirmaram que as ações afirmativas são necessárias para diminuir as desigualdades entre brancos e negros e para compensar uma dívida do passado, resultante de séculos de escravidão no Brasil. No caso específico julgado, o STF concluiu que a política de cotas estabelecida pela UnB não viola a Constituição.

O mais aguardado dos votos foi dado por Joaquim Barbosa, único negro a integrar o Supremo e que, na semana passada, disse ser vítima de racismo na própria corte. "É natural que as ações afirmativas sofram um influxo de forças contrapostas e atraiam resistência da parte daqueles que historicamente se beneficiam da discriminação de que são vítimas os grupos minoritários", afirmou Barbosa.

Na quarta-feira, o relator do processo, ministro Ricardo Lewandowski, já havia votado favoravelmente às políticas de cotas. O voto foi seguido pelos demais. "A construção de uma sociedade justa e solidária impõe a toda coletividade a reparação de danos pretéritos perpetrados por nossos antepassados", afirmou o ministro Luiz Fux, o primeiro a votar na sessão desta quinta-feira.

Mal necessário

A ministra Rosa Weber afirmou que a disparidade racial no Brasil é flagrante e que a política de cotas não seria razoável se a realidade social brasileira fosse outra. "Se a quantidade de brancos e negros pobres fosse aproximada, seria plausível dizer que o fator cor é desimportante", acrescentou. Os ministros ressaltaram, no entanto, que a política de cotas deve ser temporária, até que essas disparidades sejam corrigidas.

O ministro Marco Aurélio Mello afirmou que a neutralidade estatal ao longo dos anos resultou em um fracasso. "Precisamos saldar essa dívida. Ter presente o dever cívico de buscar o tratamento igualitário", disse. Ele lembrou que quando presidiu o STF implementou um sistema de cotas para contratação de funcionários terceirizados.

Apesar de votar favoravelmente às cotas, Gilmar Mendes ressaltou que a reserva de vagas para afrodescendentes pode provocar situações controversas. Na opinião do ministro, o ideal seria que a ação afirmativa fosse baseada em critérios socioeconômicos. "Aqui permite-se uma possível distorção. Que pessoas que tiveram um desenvolvimento educacional adequado sejam convidadas a trilhar caminho facilitário das cotas", disse. "Ricos que se aproveitam da cota, pervertendo, portanto, o sistema", completou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]