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Vagas para moças de fino-trato

Carla, Andréa, Rafaelly e Samantha são transexuais e venceram o maior dos obstáculos no mundo trans – conseguiram uma fonte de renda que passa longe do mercado de sexo. Carla Amaral, 34 anos, se encontrou profissionalmente na militância junto à ONG Marcela Prado. "De vergonha eu virei o orgulho da família", diverte-se. Ela já foi atendente de farmácia, cobradora de ônibus, balconista de locadora de vídeo, auxiliar de cartório, mas também profissional do sexo. "Não tive como agüentar a pressão da escola e do ambiente de trabalho."

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O Centro de Referência, que funciona no Grupo Dignidade, contabilizou 156 denúncias de violência contra GLBT em Curitiba, entre 10 de janeiro de 2006 e 28 de fevereiro de 2007. Os casos foram classificados da seguinte maneira: bissexual (01), gay (67), heterossexual (17), lésbica (31), não informado (12), transexual (24), travesti (04).

• Um assassinato a cada três dias – Relatório do antropólogo baiano Luís Mott, divulgado em 1997, mostra o Brasil como país do mundo que mais desrespeita os direitos homossexuais.

• 1.661 mortes – Balanço do número de assassinatos a homossexuais nos últimos 20 anos, de acordo com pesquisa do Grupo Gay da Bahia.

• 15 milhões – Número estimado de homossexuais brasileiros, sendo que 10 mil são trans.

• Travestis versus transexuais – A diferença entre os dois grupos é que o primeiro se sente à vontade com seu sexo, embora se vista de mulher, e o segundo não, procurando, comumente, operação de adequação sexual e tratamento hormonal, já que tem psicologia feminina.

Fonte: Centro de Referência, grupo Dignidade, Doc. Brasil sem homofobia, do Ministério da Saúde.

Hoje, cerca de cem mil pessoas devem ocupar o 1,5 quilômetro que separa as praças 19 de Dezembro e Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, para fazer a 12.ª Parada da Diversidade – a "Parada Gay". Os custos do evento são modestos – cerca de R$ 25 mil. Já os ganhos para os membros do movimento GLBT – gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros – não têm preço. Das mais de 300 ações feitas pelos militantes em todo o país, as paradas são as de maior alcance popular e repercussão na mídia. Não à toa, servem de palanque para gritos de guerra da comunidade homossexual.

A parada curitibana de 2007, por exemplo, pede a criminalização da homofobia. Um projeto de lei complementar está em banho-maria na Comissão de Direitos Humanos, em Brasília, onde deve passar por ajustes. Enquanto a discussão esbarra na conversa-mole do Distrito Federal, membros de ONGs esquentam o debate e recolhem assinaturas para pressionar os parlamentares.

Paradas também servem de termômetro para saber a temperatura das causas GLBT. Pesquisas ligeiras feitas durante o evento costumam apontar a quantas anda o bem-estar da comunidade. As respostas não costumam ser motivo de festa: comumente passa de 60% o número daqueles que se dizem alvo de discriminação e violência.

Em meio a esse "público-alvo", os mais sujeitos à intolerância são, com folga, os transgêneros. Trata-se de um segmento pequeno. Não passa de 10 mil pessoas, entre transexuais e travestis, em meio aos estimados 15 milhões de homossexuais brasileiros. Em contrapartida, são vítimas fáceis de maus-tratos domésticos, rejeição dos vizinhos, intolerância policial, bullying na escola (termo técnico usado para caracterizar as contínuas lorotas e situações vexatórias impostas por colegas de colégio ) e rejeição no mercado de trabalho. Até encontrar casa para alugar é um parto.

Estatística

Segundo Carla Amaral, 34 anos, presidente do grupo transgênero Marcela Prado, ano passado 15 "trans" foram assassinadas em Curitiba. Dados do Centro de Referência da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, instalada no Grupo Dignidade, em Curitiba, confirmam que o perigo anda à solta. O balanço de 2006 aponta 156 denúncias, divididas em discriminação, agressão e processo criminal, entre outros. Os maiores reclamantes são os gays e as lésbicas, com 67 e 31 notificações respectivamente, seguidos dos trans, com 28. Por ser um grupo infinitamente menor, o número é alarmante.

De acordo com a psicóloga Ana Carolina Ribeiro, 26 anos, que atua no Centro de Referência, as travestis tendem menos à denúncia do que os outros segmentos. "Elas são mais autônomas. É cada uma por si. Muitas negociam proteção com a polícia. As trans são ao contrário. Como têm uma psicologia feminina muito forte, são mais gregárias, gostam de estar em grupo e procuram ajuda."

Embora espantosos, os dados do centro são conseqüentes com o país que mata um homossexual a cada três dias – de acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB). O índice também tem linha direta com o estilo de vida das travestis e transexuais. Elas são maciçamente entregues à prostituição e, por tabela, sujeitas ao massacre das ruas e ao assédio dos traficantes.

Emprego

A saída, acredita-se, passa pelo mundo do trabalho, mas esbarra na resistência dos empregadores. Além de ter de driblar o preconceito, o grupo tem histórico de baixa instrução e falta de capacitação profissional. Não é preciso uma grande pesquisa para entender por quê. Por volta dos 13 anos, quando o conflito sexual começa a se manifestar, a maioria se vê expulsa da escola, da família e entregue ao mercado do sexo. Virar essa página e achar um emprego é que são elas. De acordo com levantamento do grupo Marcela Prado, dentre aproximadas 400 trans residentes em Curitiba, apenas 10% têm atividade formal, sendo a maioria como cabeleireiras. Para o restante sobram as ruas.

A exclusão das trans, contudo, tende a ser controversa. Por ter uma sexualidade mais plástica e exteriorizada – como explica a psicóloga Ana Carolina Ribeiro – os homossexuais costumam ser vistos como promíscuos e fadados à prostituição. Uma pesquisa recém-iniciada pela trans Rafaelly Wiest, 24 anos – confeiteira numa rede de supermercados da zona sul de Curitiba – mostra que não. Em entrevista com 20 travestis e transexuais, todas disseram preferir um emprego com carteira assinada.

Por essas e outras, as militantes do grupo Marcelo Prado aceitaram o convite para participar do conselho da Delegacia Regional do Trabalho (DRT). A discussão já tem lastro nacional – pelo menos desde 2004 – e inclui a aplicação de uma política de cotas.

Outra reivindicação é obrigar as discussões de gênero no ciclo básico e fundamental. Nada mal. Trans costumam se lembrar da sala de aula como uma sessão de tortura. Foi ali que se viram vencidas pelo professor despreparado e pela crueldade dos colegas.

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