Atualizado em 08/11/06 às 15h50
A Biblioteca Pública do Paraná divulgou nesta quarta-feira (8) que o prejuízo com o furto de 120 livros raros pode chegar a R$ 500 mil. Na terça (7), o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) divulgou o retrato falado do pricipal suspeito pelos roubos.
O setor onde ficam as obras literárias mais raras da biblioteca não possui sistemas de segurança, como alarmes e câmeras, e tem apenas uma funcionária cuidando do local.
Suspeitas
Na entrevista coletiva à imprensa, o diretor da Biblioteca, Cláudio Fajardo, disse que há suspeitas de que o furto tenha sido praticado com a ajuda de funcionários.
Desconfia-se também que o furto das 120 obras tenha ocorrido de uma só vez, durante um final de semana. É que em feriados e finais de semana, apenas um guarda faz a segurança de toda a biblioteca, explicou Fajardo.
A delegada Vanessa Alice, do Cope, que conduz as investigações, não tinha revelado esses detalhes na entrevista de terça-feira (7). Disse apenas que o suspeito freqüentava a Biblioteca há vários meses e, de acordo com descrições de funcionários, usava uma capa de chuva grande e grossa, que teria servido para esconder os livros furtados.
Pós-eleição
Cláudio Fajardo contou também que a funcionária que cuida do setor de obras raras sentiu falta dos livros no dia 2 de outubro, a segunda-feira pós-eleições no primeiro turno. Por isso a desconfiança que o furto tenha ocorrido durante aquele final de semana.
Ainda de acordo com Fajardo, antes de avisar a polícia, a direção da BP decidiu investigar o caso por conta própria, internamente, averiguando entre funcionários. A partir daí, o suspeito - o jovem alto e moreno que usava capa de chuva - sumiu. Esse fato reforça a tese de que o furto contou com a ajuda de funcionários da Biblioteca.
Algumas das obras levadas integram séries ou coleções que estão, em partes, com colecionadores de São Paulo. Daí também a hipótese de o furto ter ocorrido sob encomenda e a serviço de quadrilha especializada, que revende as obras ilegalmente para colecionadores particulares.Lista
A direção da BP divulgou também a lista de obras furtadas. Entre elas estão livros de Machado de Assis, em edições de 1896, 1906, 1923 e 1909; uma edição de 1893 de obra de Aluísio de Azevedo; mapas e gravuras antigos; e ainda, uma coleção bastante valiosa, as Obras Completas de Georges Louis Leclerc Buffon - edição em francês da Garnier Frères, com doze volumes, datada de 1733.
A direção da Biblioteca afirmou também que estuda melhorar o sistema de segurança da Biblioteca para evitar que novos roubos aconteçam. Uma das obras roubadas, segundo o ParanáTV, valia cerca de R$ 3.500.
Descaso
O professor Paulo Venturelli, da Universidade Federal do Paraná, disse em entrevista à rádio CBN nesta quarta-feira que o furto de 120 livros raros demonstra o descaso do poder público com a cultura no Paraná. Para ele, não há como mensurar o valor do furto - ele acredita que ultrapassa "e muito" os R$ 500 mil estimados pela direção da Biblioteca.
"É óbvio que houve falha na segurança. Essas obras deveriam estar muito bem protegidas e guardadas", disse o professor de Literatura.
Venturelli confirmou que, "infelizmente", existe um grande comércio negro de obras e objetos de arte, e que tem certeza que os livros furtados da Biblioteca foram levados por encomenda para coleções particulares.
As investigações O Cope investiga o caso há cerca de um mês, desde que a direção da Biblioteca comunicou o furto à polícia. A delegada Vanessa Alice, que comanda as investigações, acredita que as obras foram roubadas por encomenda e que já tenham saído do Paraná. Por isso, o Cope entrou em contato com as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo para pedir cooperação. A idéia é ter informações sobre restauradores de livros antigos, por exemplo, que podem dar pistas sobre as obras furtadas em Curitiba. Também houve casos semelhantes de furtos de obras literárias raras em São Paulo e no Rio.
A delegada disse também, em entrevista coletiva na tarde desta terça, que no Paraná não existe comércio especializado para esse tipo de obras literárias. Há possibilidade de que o ladrão estivesse trabalhando para uma quadrilha internacional, que tenha conexões com colecionadores de obras raras.
Veja imagens do local onde os livros ficam guardados na reportagem do ParanáTV



