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Denúncia do Coletivo Marias da Boca Maldita mostra qual a imagem as calouras foram obrigadas a colocar em suas redes  sociais | Reprodução/Facebook
Denúncia do Coletivo Marias da Boca Maldita mostra qual a imagem as calouras foram obrigadas a colocar em suas redes sociais| Foto: Reprodução/Facebook

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) abriu investigação interna para apurar denúncias sobre um trote de teor degradante aplicado pelos veteranos do curso de Engenharia Civil em calouras. O caso foi revelado por um coletivo feminista nas redes sociais.

Abuso deve ser denunciado também à polícia, diz OAB

Para Sandra Lia Bazzo Barwinski, da Comissão de Estudos sobre Violência Gênero da OAB, além de levar os casos de eventuais abusos em trotes ao conhecimento da universidade ou faculdade, é importante procurar a polícia para denunciar o ocorrido. “Recomendo que (a pessoa que se sentir lesada) consulte um(a) advogado(a) para ser melhor orientada, porque as vezes pode não configurar um crime, mas um dano passível de indenização cível. Sempre convém registrar com fotos e filmagens, que poderão facilitar sobremaneira a apuração das responsabilidades”, disse ela, em entrevista por e-mal.

Segundo ela, hoje há uma grande inversão de valores quando se trata de trotes universitários. O ritual de passagem, que deveria acolher o calouro ou caloura a um novo passo na sua trajetória de vida, acaba sendo algo que “humilha, constrange, estigmatiza e marginaliza”.

“O trote tem sido sinônimo de violência física e moral, inclusive tipificando condutas que, pelo nosso Código Penal, caracterizam crime (lesão corporal, cárcere privado e crimes contra a honra)”, afirma a advogada.

“O trote violento, humilhante, não é ritual de passagem. Não é brincadeira. É passível de punição por atentar contra a vida, a integridade e a liberdade das pessoas”, completou Barwinski. Ela informou ainda que o caso específico do trote de Engenharia Civil da PUCPR ainda não foi relatado à comissão.

De acordo com a postagem, realizada pelo grupo “Coletivo Marias da Boca Maldita”, as calouras foram obrigadas a trocar sua foto de capa no Facebook por uma imagem em que está escrito “sou caloura burra de Engenharia Civil e esse semestre a cerveja é por minha conta”. Os veteranos também teriam solicitado que as novas alunas gravassem um vídeo contando a idade, posições sexuais preferidas e orientação sexual, entre outros aspectos. Esses vídeos foram compartilhados entre veteranos do curso em grupos do aplicativo Whatsapp.

A reportagem teve acesso a um dos vídeos no qual uma adolescente menor de 18 anos se identifica como “caloura safadinha”, diz “ser virgem, mas não por muito tempo” e “totalmente heterossexual”. Ela também relata beber demais e já ter “dado PT” (perda total, uma gíria para quem bebe demais e apaga) uma vez por causa da ingestão de bebida alcoólica e ter preferência por “tapas”, “mordidas” e “coisas mais agressivas” durante as relações sexuais.

Um aluno do primeiro período do curso de Engenharia Civil entrou em contato com a página responsável pela denúncia e contou que os vídeos foram gravados por homens e mulheres e que o objetivo era garantir “uma aproximação entre os calouros e uma melhor interação entre todos que estavam prestes a se conhecer”. Ele também afirmou na mensagem que os calouros não foram obrigados a gravar as apresentações e que os vídeos eram para ter ficado “somente na roda de amigos de Engenharia”. Por fim, pediu para que a publicação fosse apagada.

As responsáveis pela página “Coletivo Marias da Boca Maldita” não excluíram a postagem e afirmaram em um comunicado que seria enviado ainda nessa quinta-feira (12) por e-mail à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da PUCPR que os vídeos e trotes já fugiram ao controle dos veteranos, sendo divulgados pelas redes sociais. O texto também afirma que as meninas participantes são “xingadas”, “expostas” e “desmoralizadas”. O documento é assinado por grupos que lutam contra o machismo, homofobia e outros tipos de preconceitos nas instituições de ensino: FURF – Frente Universitária Feminista, Coletivo Alzira – Universidade Positivo, Coletivo Saia na Rua – Unicuritiba, Coletivo Três Marias – PUCPR e Coletivo Marias da Boca Maldita – Universidade Tuiuti.

Outro lado

Os vídeos e as imagens foram condenados pelo presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil da PUCPR, Luiz Fernando David, que afirmou que os envolvidos no trote não fazem parte e não têm ligação com o centro acadêmico. “É um grupo de pessoas que não entendeu o motivo de estar na universidade. Não podemos nem chamá-los de estudantes, mas sim de baderneiros, que não têm noção da gravidade do problema”, declarou. David também afirmou que a única forma de trote apoiada pelo centro acadêmico do curso são as ações sociais e de voluntariado. David afirmou ainda que a entidade está colaborando com a coordenação do curso na apuração dos fatos e na identificação dos envolvidos.

A PUCPR afirmou, por meio de nota, que proíbe a realização de trotes e que já deu início à apuração para identificar os responsáveis pelas situações citadas e lembrou que quem pratica trotes violentos ou de caráter constrangedor está sujeito a sanções disciplinares de suspensão e, em casos mais graves, até mesmo de expulsão. A instituição também ressalta que alunos que sejam coagidos ou ameaçados podem fazer denúncia para os professores, coordenadores de curso, na ouvidoria ou na reitoria da instituição.

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