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Comportamento

Quando o pedido de socorro machuca

Especialistas alertam para o aumento da agressividade entre crianças e adolescentes

Vídeo | Reprodução / Paraná TV
Vídeo (Foto: Reprodução / Paraná TV)

Durante o intervalo da aula, na fila do refeitório, Marcelo, 9 anos, dá um tapa no rosto de seu colega de sala Rafael, da mesma idade. Em outra situação, Rodrigo, 7 anos, sai batendo repentinamente em seus amiguinhos da escola. Ele só é contido com a intervenção de funcionários e professores. O comportamento reincidente acaba afastando-o da escola, pela ameaça que representa ao grupo. Em casa, Cibele, 4 anos, sempre bate e xinga sua irmã mais velha Carolina, 5 anos.

As cenas acima foram narradas por pais, mães, familiares e professores, que convivem cada vez mais com casos de agressões promovidas por crianças e adolescentes. E essa agressividade ocorre nos relacionamentos interpessoais e nos mais diferentes tipos de ambientes, tanto nas escolas como em casa.

A professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), da Faculdade Evangélica e psicóloga clínica Patrícia Guillon observa que o número desses casos aumentou nos últimos dois anos. "Muitas das queixas partem de crianças e adolescentes que estão utilizando a agressão com o objetivo de controlar o comportamento do outro", diz. Em alguns casos os agressores geralmente têm perfil de serem quietos e acabem sendo discriminados. "Essa prática é muito freqüente nos EUA e está chegando com força aqui", diz.

Para a psicóloga é preciso que os pais estejam atentos ao que pode significar esse comportamento agressivo. "Muitas vezes a criança está querendo se defender ou chamar a atenção, pedindo ajuda", afirma. Foi o que percebeu a coordenadora administrativa Adnéia Amaral Aguiar, 38 anos, mãe de Alessandra Belly, 4 anos, e de Natália, 5 anos. "Teve uma época em que as duas estavam bem agressivas. A Belly batia a porta com tudo e queria chamar a atenção de qualquer forma", lembra.

Como passava o dia todo fora de casa e havia mudado de cidade recentemente, Adnéia resolveu pedir ajuda. Em agosto do ano passado, mãe e filhas passaram a ser atendidas por um dos projetos desenvolvido pela Clínica-Escola da PUCPR. "É melhor arrumar agora para não vivermos outras conseqüências no futuro. Hoje elas já estão bem mais calmas e eu também tenho mudado", ressalta.

Para a doutora em Psicologia Paula Gomide, os estudos sobre práticas parentais demonstram que existem formas de educar que aumentam o comportamento anti-social, entre eles, a agressividade. A negligência e permissividade por parte dos pais na educação de seus filhos são alguns dos fatores que contribuem para esse tipo de comportamento. "A ausência de regras informa à criança que ela pode tudo e que seus pais não têm autoridade. Quando os pais deixam uma criança pequena bater em seu rosto estão ensinando que isto é permitido. A criança faz isto em casa e depois na escola", afirma. Já a psicopedagoga e mestre em educação Laura Monte Serrat Barbosa também acredita que faltam limites para as crianças desta geração. "Os pais estão perdidos. As pessoas não nascem mais violentas. Estão regidas pelo princípio do prazer. Não sabem lidar com a frustração", afirma.

A personalidade anti-social, no sentido de crueldade, tem sido cada vez mais precoce, e está ocorrendo já aos 4, 5 anos de idade, segundo observa o neurologista Antônio Carlos de Farias, responsável pelo ambulatório dos distúrbios de desenvolvimento e comportamento infantil do Hospital Pequeno Príncipe. "Elas repetem o que vêem na televisão como uma forma de defesa na linha de matar ou morrer", diz. O neurologista ressalta que é importante diferenciar as crianças que apresentam problemas comportamentais das que apresentam algum tipo de doença. De acordo com Farias, a agressividade crônica pode ser conseqüência desde um problema físico, como disfunção na tireóide, por exemplo, até distúrbios neurológicos como o déficit de atenção (TDAH) e transtornos bipolar ou de humor.

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