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Combinação perigosa

Rebite é arma contra o sono

18% dos caminhoneiros entrevistados dizem usar rebite, um tipo de anfetamina, para permanecer acordados por mais tempo

“Melhorar nossas condições de vida é primordial. Precisamos ter acesso rápido ao médico, ao exame de vista, aos psicólogos. Mas não adianta ofertar os serviços em um lugar que não dá para parar muitos caminhões ao mesmo tempo.” Paulo Roberto Sister, caminhoneiro com 24 anos de estrada | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
“Melhorar nossas condições de vida é primordial. Precisamos ter acesso rápido ao médico, ao exame de vista, aos psicólogos. Mas não adianta ofertar os serviços em um lugar que não dá para parar muitos caminhões ao mesmo tempo.” Paulo Roberto Sister, caminhoneiro com 24 anos de estrada (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

A combinação de poucas horas de sono e muito tempo dirigindo diariamente é perigosa. Quando o corpo não responde mais, motoristas que lutam contra o tempo para entregar mais cargas e, assim, ganhar mais dinheiro, começam a usar e abusar de substâncias psicoestimulantes, como café, refrigerantes e até anfetaminas (o conhecido rebite). Para a Polícia Rodoviária Federal, 18% dos motoristas parados em estradas paranaenses admitem usar anfetaminas para agüentar a rotina do trabalho. O mais curioso, entretanto, é que apenas 7% deles dizem que continuam dirigindo mesmo quando estão com sono.

A pesquisa de pós-doutorado do psiquiatra e professor da Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, José Carlos Souza, mostra que, dos 406 caminhoneiros entrevistados (200 de Portugal e 206 do Brasil), em média, 95% deles disseram que fazem uso de estimulantes. Ainda, 11% confirmaram já ter usado o rebite (anfetaminas).

"Falta fiscalização. O caminhão não pode circular à noite porque o pico de sonolência de uma pessoa ocorre entre as 22 horas e 3 horas da madrugada", explica Souza. No momento que o corpo não agüenta mais, descobre-se que uma carreta tombou em uma reta porque o motorista estava há dois dias sem dormir. "Se o caminhoneiro não tiver conscientização, nada vai mudar. Muitos dizem que vão até o Paraguai para comprar anfetaminas, porque lá o uso não é restrito", comenta Souza.

O psiquiatra analisou o comportamento dos caminhoneiros brasileiros e portugueses e percebeu que algumas medidas adotadas em Lisboa ajudam a minimizar os acidentes. "No Brasil, as estradas são monótonas nas laterais. Se olharmos nos cantos das rodovias, é sempre a mesma coisa. Isto causa sonolência. Em Lisboa, as rodovias são mais dinâmicas e ajudam o motorista a ficar desperto", comenta Souza. Além disso, os portugueses costumam dormir mais que os brasileiros, têm maior instrução escolar e ganham mais.

Na conclusão da pesquisa, Souza alerta para o perigo, que é tendência, de o caminhoneiros desenvolverem distúrbios do sono. "É polêmico. Mas já existe um projeto de lei que quer exigir o exame de polissonografia dos motoristas, para que eles tratem dos problemas que decorrem de uma noite mal dormida. Eles precisam estar conscientes de que é preciso parar quando se tem sono. Precisam saber dos seus limites", comenta o psiquiatra.

O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos do Paraná (Sindcam), Dilmar Bueno, afirma que deveria haver uma fiscalização maior nas estradas. O problema é que ainda nenhuma lei foi aprovada para assegurar a autuação, em casos de infrações.

"Existem projetos de lei para regulamentar o tempo de trabalho. Com o sistema de tacógrafo (aparelho que registra o tempo que o motorista está dirigindo e a velocidade) seria possível impedir os motoristas de fazer hora extra e trabalhar além da conta. Falta a lei ser aprovada para que se regule quanto seria este tempo. Defendemos que, no mínimo, os motoristas devem ter oito horas de descanso ininterrupto", afirma.

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