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Meio ambiente

Refúgio seguro para animais em risco

Existem 120 propriedades mantenedoras, parceiras do Ibama, espalhadas em todo o país. Uma delas fica em Campina Grande do Sul

O médico Luciano do Valle Saboia com um filhote de tamanduá | Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo
O médico Luciano do Valle Saboia com um filhote de tamanduá (Foto: Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo)
Onça parda: uma das moradoras do santuário de Campina Grande do Sul |

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Onça parda: uma das moradoras do santuário de Campina Grande do Sul

Se não fosse a iniciativa de pessoas e instituições interessadas no bem-estar animal, boa parte da fauna silvestre apreendida diariamente pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – principalmente espécies vítimas do tráfico – não teria um destino apropriado. Como o poder público não tem infraestrutura para manter os animais impossibilitados de retornar à natureza, o Ibama é obrigado a recorrer à iniciativa privada.

O coordenador do Departamento de Gestão do Uso de Espécies da Fauna do Ibama, João Pessoa Moreira Júnior, explica que a prioridade é reintroduzi-los na natureza. Quando a reintrodução não é possível, no caso de animais sem condições de viver em seu hábitat natural ou de espécies exóticas, eles são encaminhados para cativeiro em zoológicos, criadores comerciais (os animais cedidos viram obrigatoriamente matrizes para a reprodução de descendentes que podem ser comercializados) e, principalmente, mantenedores, conhecidos popularmente por santuários (propriedades particulares onde os animais são mantidos sem fins lucrativos, reprodutivos e nem de exposição). "Os mantenedores são grandes parceiros do Ibama. Sem eles os animais provavelmente acabariam sem uma destinação adequada. Tanto que o ideal seria ter o dobro de mantenedores que temos", ressalta Moreira.

Levantamento parcial do Ibama aponta que, dos 31.019 animais silvestres apreendidos em 2007 – os dados de 2008 ainda estão sendo compilados –, praticamente metade, 15.037, foi encaminhada para cativeiro. A maior parte foi para as 120 propriedades mantenedoras espalhadas em todo o país, sendo 110 de fauna nativa e 10 de fauna exótica.

Campina Grande do Sul

O médico oncologista Luciano do Valle Saboia é um dos mantenedores licenciados pelo Ibama. Desde 2003 ele mantém uma área de 55 alqueires (o equivalente a 133 campos de futebol) em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba, exclusivamente para a manutenção de animais da fauna brasileira.

A ideia inicial do médico era repovoar a área, que estava completamente degradada à época. Hoje, ele mantém cerca de 1,5 mil animais de 200 espécies. São onças, macacos, tamanduás, antas, jabutis, uma infinidade de aves, entre outras espécies, que recebem todo o tratamento adequado, desde alimentação balanceada, supervisão de um médico veterinário, até a construção de ambientes adaptados para cada espécie – os animais que não correm risco de fugir vivem soltos na mata fechada da propriedade.

O cuidado é tanto que os ambientes têm áreas maiores do que o recomendado para as espécies viverem em cativeiro. Esse é o caso dos cachorros-vinagre, cuja recomendação é que tenham um espaço de 30 metros quadrados em cativeiro, mas que vivem em um recinto de 1,8 mil metros quadrados na propriedade de Saboia.

Bem-estar

Já os jabutis contam com aquecimento elétrico em suas tocas para não sofrerem as consequências do inverno – por terem sangue frio, os répteis não suportam temperaturas muito baixas. "Tudo foi projetado exclusivamente para o bem-estar dos animais. Não é para ser bonito, até porque eles não estão em exposição. É para ser funcional para os animais, para eles se sentirem cem por cento bem", reforça Saboia, cuja atenção é tamanha que chega a verificar o ângulo de inclinação do suporte em um viveiro de aves para que elas fiquem mais confortáveis.

A recompensa o médico recebe na resposta dos animais. Como no caso da onça-pintada Juca. Após viver 19 anos em uma jaula de 4 metros quadrados de um zoológico de Matelândia, o animal foi para o santuário em 2003, onde viveu mais cinco anos. "O Juca chegou velho, com artrite e artrose, mas mesmo assim rolava de alegria, que nem um filhote, já que ele não conhecia grama. Ele morreu como merecia: comeu, bebeu água e dormiu", orgulha-se o médico, que logo após a entrevista foi pessoalmente ao aeroporto buscar os mais novos moradores da propriedade: quatro guarás que vieram do Maranhão.

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