
A rede estadual de ensino do Paraná vem conseguindo reduzir o número de alunos fora da série correta, mas essa evolução poderia ser mais acelerada se fosse revertida a tendência de aumento na reprovação. De 2008 a 2012, a taxa de distorção idade/série caiu de 24,5% para 21,8% no ensino fundamental e de 29,7% para 24,8% no ensino médio. No mesmo período, a taxa de reprovação no ensino fundamental passou de 14,3% para 14,5%, enquanto nas séries seguintes, de 12,4% para 14,2%. Esses números são superiores às taxas nacionais de reprovação verificadas em escolas estaduais no ano passado 10,1% no ensino fundamental e 13,1% no ensino médio. Já o índice de distorção idade/série no Brasil é maior que o do Paraná 23,4% no fundamental e 34,8% no médio.
INFOGRÁFICO: Reprovações contribuem para que índices de distorção idade/série persistam no PR
Os dados, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), chamam atenção para uma defasagem que demanda não só tempo, mas investimento em novas políticas públicas. É o que defende o professor Ângelo de Souza, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ao argumentar que a faixa de distorção idade/série no estado ainda é alta. Em escolas particulares, por exemplo, a taxa de reprovação não passa de 1,9% no ensino fundamental e de 3,9% no ensino médio.
Cultura
Souza afirma que é preciso mudar a "cultura" da reprovação, dar um novo sentido à escola e converter tudo isso em uma reforma curricular. "A população entende que reprovar não é ruim, mas reduzir a reprovação não é aprovar em massa. A taxa de reprovação nunca foi demonstração de qualidade de ensino", sustenta.
Ele assinala que a maior disparidade entre idade e série na rede pública abrange alunos dos anos finais do fundamental. É nesta época que entra em campo um modelo pedagógico que, segundo Souza, não favorece a formação completa. "É preciso pensar no aluno como sujeito que aprende. Antes era razoável que 20% reprovassem, hoje não. Todos devem aprender", enfatiza.
Para a mestre em Educação Ermelina Bontorin Tomacheski, professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), atribuir um novo significado ao papel que a escola tem na vida dos jovens também é um dos caminhos para reduzir esses índices. "É necessário trabalhar com a autoestima deles. Cabe à instituição levantar a defasagem, identificar as dificuldades e convocar as famílias para ajudar neste processo", define.
Ao mesmo tempo, propõe, é fundamental criar melhores condições para o desenvolvimento global dos estudantes. "As políticas públicas criam muitos apêndices, mas o básico continua com professores cansados, turmas cheias e uma comunidade sem envolvimento. Quando mexemos na avaliação estamos vendo apenas a ponta do iceberg", opina.
Distorção afeta o trabalho do professor em sala de aula
A distorção idade/série causa mais prejuízos pedagógicos do que estruturais na educação, avalia a secretária educacional da APP Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública no Paraná, Walkíria Olegário Mazeto. "A cada ano que o aluno é retido, ele vê outros chegando cada vez mais jovens e vai ficando desestimulado. Isso também é ruim para a organização do trabalho pedagógico em sala porque ele vai destoar da turma", diz.
A professora sustenta que o problema deve ser resolvido com o investimento em ações de recuperação do aprendizado. Para isso, argumenta, são necessários docentes específicos e não atuando apenas durante um período que, por lei, é voltado à hora-atividade. "Somos contrários ao PPA [Plano Personalizado de Atendimento, da Seed]. Não é garantia de aprendizado", analisa.



