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Projeto Vila da Cidadania oferece aulas de contraturno para 1,9 mil alunos: esforço contra a reprovação e a evasão escolar | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Projeto Vila da Cidadania oferece aulas de contraturno para 1,9 mil alunos: esforço contra a reprovação e a evasão escolar| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Entrevista

"Crianças têm direito de aprender, não apenas de ir à escola"

Alejandra Meraz Velasco, gerente técnica do movimento Todos pela Educação.

Qual o caminho para reduzir os índices de reprovação nas escolas públicas brasileiras?

O ideal é que tenhamos ações de recuperação paralela para que o aluno não chegue ao final do ano com o aprendizado pouco adequado, independentemente do sistema de ensino que a escola adote. É muito importante ter isso ao longo do ano para que se tenha oportunidade de intervenções que recuperem esse aprendizado.

Qual o significado da reprovação no atual contexto escolar?

As crianças têm direito de aprender, não apenas de ir à escola. Todos os atores envolvidos neste processo têm responsabilidade nisso. A taxa de reprovação acaba sendo um mecanismo de exclusão, vai deixar para trás a criança que apresenta mais dificuldades e um dia ela desiste. Se pensamos na universalização do ensino, devemos pensar não só no acesso à educação, mas na permanência e inclusão também.

E qual é o impacto do atraso escolar na sociedade brasileira?

O atraso escolar desmotiva a criança, que tem menos possibilidade de um grau de escolaridade maior. Isso faz com tenhamos uma sociedade menos preparada para o mercado de trabalho e para a cidadania como um todo.

Ações

Secretaria adota plano individualizado de acompanhamento

Uma das ações para enfrentar a distorção idade/série no Paraná, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação (Seed), é o Plano Personalizado de Atendimento (PPA). Estudantes que cursam séries com defasagem de dois ou mais anos da série prevista para sua idade passam por um acompanhamento pedagógico e depois são submetidos a uma avaliação para uma possível readequação escolar.

Há ainda o Centro de Atividades Pedagógicas Vila da Cidadania, em Piraquara, na Grande Curitiba. Durante o contraturno são oferecidas aulas e oficinas para 1,9 mil estudantes de 11 a 17 anos. "São alunos em situação de vulnerabilidade social, na série correspondente à idade ou com atraso escolar. Esperamos acelerar o aprendizado com esse processo", explica a superintendente da secretaria, Eliane Rocha.

Ela afirma que uma série de variáveis está envolvida no processo de aprendizagem e que a Seed ainda investiga porque os índices de reprovação persistem no Paraná. Segundo Eliane, a problemática está na agenda de discussões nas escolas, sindicatos e núcleos de ensino. Um plano de ações personalizado será desenvolvido conforme as demandas da comunidade escolar.

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A rede estadual de ensino do Paraná vem conseguindo reduzir o número de alunos fora da série correta, mas essa evolução poderia ser mais acelerada se fosse revertida a tendência de aumento na reprovação. De 2008 a 2012, a taxa de distorção idade/série caiu de 24,5% para 21,8% no ensino fundamental e de 29,7% para 24,8% no ensino médio. No mesmo período, a taxa de reprovação no ensino fundamental passou de 14,3% para 14,5%, enquanto nas séries seguintes, de 12,4% para 14,2%. Esses números são superiores às taxas nacionais de reprovação verificadas em escolas estaduais no ano passado – 10,1% no ensino fundamental e 13,1% no ensino médio. Já o índice de distorção idade/série no Brasil é maior que o do Paraná – 23,4% no fundamental e 34,8% no médio.

INFOGRÁFICO: Reprovações contribuem para que índices de distorção idade/série persistam no PR

Os dados, divulgados pe­lo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu­cacionais Anísio Teixeira (Inep), chamam atenção para uma defasagem que demanda não só tempo, mas investimento em novas políticas públicas. É o que defende o professor Ângelo de Souza, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ao argumentar que a faixa de distorção idade/série no estado ainda é alta. Em escolas particulares, por exemplo, a taxa de reprovação não passa de 1,9% no ensino fundamental e de 3,9% no ensino médio.

Cultura

Souza afirma que é preciso mudar a "cultura" da reprovação, dar um novo sentido à escola e converter tudo isso em uma reforma curricular. "A população entende que reprovar não é ruim, mas reduzir a reprovação não é aprovar em massa. A taxa de reprovação nunca foi demonstração de qualidade de ensino", sustenta.

Ele assinala que a maior disparidade entre idade e série na rede pública abrange alunos dos anos finais do fundamental. É nesta época que entra em campo um modelo pedagógico que, segundo Souza, não favorece a formação completa. "É preciso pensar no aluno como sujeito que aprende. Antes era razoável que 20% reprovassem, hoje não. Todos devem aprender", enfatiza.

Para a mestre em Edu­cação Ermelina Bontorin To­macheski, professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), atribuir um novo significado ao papel que a escola tem na vida dos jovens também é um dos caminhos para reduzir esses índices. "É necessário trabalhar com a autoestima deles. Cabe à instituição levantar a defasagem, identificar as dificuldades e convocar as famílias para ajudar neste processo", define.

Ao mesmo tempo, propõe, é fundamental criar melhores condições para o desenvolvimento global dos estudantes. "As políticas públicas criam muitos apêndices, mas o básico continua com professores cansados, turmas cheias e uma comunidade sem envolvimento. Quando mexemos na avaliação estamos vendo apenas a ponta do iceberg", opina.

Distorção afeta o trabalho do professor em sala de aula

A distorção idade/série causa mais prejuízos pedagógicos do que estruturais na educação, avalia a secretária educacional da APP – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública no Paraná, Walkíria Olegário Mazeto. "A cada ano que o aluno é retido, ele vê outros chegando cada vez mais jovens e vai ficando desestimulado. Isso também é ruim para a organização do trabalho pedagógico em sala porque ele vai destoar da turma", diz.

A professora sustenta que o problema deve ser resolvido com o investimento em ações de recuperação do aprendizado. Para isso, argumenta, são necessários docentes específicos e não atuando apenas durante um período que, por lei, é voltado à hora-atividade. "Somos contrários ao PPA [Plano Personalizado de Atendimento, da Seed]. Não é garantia de aprendizado", analisa.

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