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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Curitiba – A abertura indiscriminada de escolas de Medicina pelo país nos últimos anos criou uma grande desproporção entre o número de vagas ofertadas nas faculdades e o oferecido na residência médica. Enquanto há 17.254 vagas nas 167 escolas de Medicina, são disponibilizadas apenas 9.924 para residência nos hospitais. Essa relação explica por que entre 1996 e 2005 apenas 46% dos médicos brasileiros recém-formados fizeram residência médica, de acordo com dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

Outro problema causado pela explosão do número de cursos é a baixa qualificação dos novos médicos. "As escolas que existem, mesmo as melhores e mais tradicionais, não formam a maioria absoluta dos médicos de maneira adequada. 95% dos formandos não têm condições de exercer a profissão. Então a residência passou a ser obrigatória para todo mundo", avalia o secretário-executivo da Comissão Nacional de Residência Médica, Antônio Carlos Lopes. No entanto, ele discorda dos dados do Cremesp. Segundo Lopes, no Brasil, pouco mais de 50% dos médicos fazem residência, mas esse número tende a cair, porque as vagas de residência não crescerão na mesma proporção das faculdades, o que ameaça a qualificação dos futuros médicos.

A solução para o problema parece estar justamente em uma fiscalização maior da qualidade dos cursos para que os que não apresentam condições mínimas de ensino sejam fechados. Além disso, diz Lopes, é preciso não abrir mais escolas, porque não há necessidade. "E o mais importante: há uma má distribuição de médicos pelo país, portanto é necessário que se crie uma política de governo e de saúde, que redistribua melhor esses médicos. E, é claro, criar mais bolsas de residência médica. Sem bolsa, não há residente", afirma.

O preço

Manter um recém-formado em um hospital vai além da bolsa-auxílio de R$ 1.916,45. "Como o residente não tem experiência, ele pede exames que não são necessários, tem receio de dar alta ao paciente, encaminha para outros médicos desnecessariamente. Tecnicamente ele encarece o processo", avalia o presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Eduardo de Oliveira. Por essa razão, diz ele, muitos dos hospitais que estavam atrelados a convênios começaram a fechar as vagas de residência médica.

Para diminuir esses cancelamentos, a federação elaborou um projeto de lei que pede incentivos fiscais para hospitais particulares que mantenham as vagas para residentes. "Assim cumprimos o dever social da formação do novo médico e oxigenamos o corpo clínico do hospital, que precisa se reciclar a cada dia para ensinar aos mais novos", diz ele.

O presidente da Associação Médica do Paraná (AMP), José Fernando Macedo, ressalta que os ministérios da Educação e da Saúde precisam trabalhar em conjunto para a melhoria da qualidade dos serviços médicos no Brasil. "Esse é um problema da educação e da saúde. Os dois ministérios (da Saúde e da Educação) têm de disponibilizar verbas para aumentar o número de vagas nas residências médicas. Além disso, é preciso parar de criar faculdades de Medicina e avaliar com critério as escolas que já existem", ressalta.

Macedo chama a atenção para a falta de qualificação dos professores. De acordo com ele, há um número significativo de instituições que não possuem docentes com mestrado ou doutorado o que revela grande despreparo técnico para dar aulas. Para ele, essas escolas têm como objetivo apenas o lucro. "Você tem de ter professores com mestrado e doutorado, porque essa é uma pessoa que se qualificou para dar aula para os alunos. Essas faculdades que não possuem professores qualificados só foram criadas com o intuito financeiro", diz.

Cursinho

Como a qualidade do ensino em muitas escolas de Medicina é baixa e a concorrência nos hospitais é alta, abriu-se um novo mercado para cursos preparatórios, muito parecidos com os "cursinhos pré-vestibulares". O candidato tem um dia com 5 horas aula por semana que abordam os assuntos mais cobrados nos exames. "Esses cursos, pela curta duração e por não terem este fim, não melhoram a qualidade do novo profissional, apenas o preparam para as provas. Essa não é a solução para o problema", diz o vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Jurandir Marcondes Ribas Filho.

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