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Excluindo doenças, os acidentes de trânsito em geral são a principal causa de morte entre crianças de 1 a 14 anos, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica (Sbop), Edílson Forlin. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, considerando causas individuais de morte, incluindo doenças e acidentes como afogamentos e atropelamentos, as mortes de crianças ocupantes de automóvel ficaram em 11.º lugar no ano passado. Segundo Forlin, isso ocorre porque, na maioria das vezes, as crianças não estão presas com o cinto e ficam soltas no carro, às vezes até no banco da frente, o que é proibido para menores de 10 anos.

"Existem orientações internacionais sobre como transportar crianças no carro, mas elas não viraram resolução dos órgãos responsáveis pela legislação de trânsito no Brasil. E como fiscalizar se não existe o instrumento legal?", questiona o médico, que também atende no Hospital Pequeno Príncipe. Uma pesquisa realizada pela concessionária Viapar nas praças de pedágio, 80% das crianças que viajavam no banco de trás estavam soltas, 13% estavam no colo de alguém e apenas 7% usavam a cadeirinha. O dado mais preocupante, no entanto, revela que 13% do total de crianças observadas viajavam no banco da frente – 64% delas soltas. "A criança no colo é o air-bag do adulto que a segura. Mas quem vai protegê-la?", diz Forlin.

Sua experiência na área mostra que são três as principais causas da falta de uso do cinto: a desinformação dos pais, a falsa noção de segurança e a rebeldia infantil. "No consultório, todo pai diz que é o filho quem não quis usar", brinca, para logo depois refutar a tese de que, por ter um banco estofado à frente, a criança no banco de trás estaria segura mesmo sem cinto. "O peso que o corpo dela adquire com o impacto é suficiente para quebrar o banco do carro", alerta.

Trauma

No caso das crianças, as possíveis conseqüências para a saúde são ainda mais graves, explica Forlin. Por ter o corpo menor, seus órgãos estão mais próximos uns dos outros, então mesmo o impacto em uma área pequena pode ter conseqüências graves. No entanto, conta o médico, na maioria dos casos de crianças feridas em acidentes de trânsito há traumatismo craniano, na face ou no pulso, quando a criança usa as mãos para se segurar em algum lugar na hora do impacto.

Uma das fraturas comuns em crianças nem precisa de acidente para acontecer. "Temos vários casos de fratura de nariz, que ocorre quando a criança está em pé, entre os bancos da frente, e uma simples freada já é suficiente para jogá-la na direção do painel", diz Forlin, admitindo que a curiosidade infantil tem um papel importante nas circunstâncias dos acidentes. "É natural que a criança queira ver tudo o que está à sua volta, e ficar em pé no meio do carro é o melhor modo de fazer isso, já que sentada ela não observa nada", explica, ressaltando que os equipamentos de proteção para crianças também cumprem a função de deixá-la mais altas. "Colocando a cadeirinha no meio do banco de trás, por exemplo, a criança pode olhar para os lados e para a frente, e ainda assim estar segura."

Prevenção

A ONG Criança Segura, que atua em Curitiba desde 2001, tem uma campanha dirigida a todas as idades sobre o uso do cinto. A assistente de projetos da ONG, Nanci Takada, conta que, enquanto as crianças participam de gincanas educativas e são aconselhadas por seus professores, os adultos recebem treinamento de capacitação. "Os pais são nosso principal público. Eles é que são responsáveis pela segurança dos filhos", diz, acrescentando que a entidade também participa de blitze em parceria com órgãos de trânsito, com abordagens informativas em semáforos e rodovias. A Sbop também deve lançar uma campanha em outubro, inclusive pedindo que os órgãos de trânsito adotem resoluções impondo o uso de equipamentos de segurança adequados a cada idade.

Para os pais com crianças que insistem em não usar o cinto, Nanci dá o conselho: "O adulto tem de se impor, dizer que não vai sair com o carro enquanto a criança não estiver com o cinto". Forlin completa: "Se o pai for acatar todos os desejos da criança, ela não vai à escola, não toma banho, não escova os dentes, não dorme no horário. No entanto, ela acaba fazendo tudo isso. Pode também começar a usar o cinto".

Serviço: ONG Criança Segura: (41) 3023-7070.

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