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Desabrigados improvisam cozinha e alojamentos na cancha de esportes da Escola Municipal Henrique de Souza, em Piraquara | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Desabrigados improvisam cozinha e alojamentos na cancha de esportes da Escola Municipal Henrique de Souza, em Piraquara| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Amontoar os móveis que sobraram, improvisar uma cozinha e pendurar lonas para conter o frio. É essa a rotina de 70 das cerca de 350 famílias que viviam em uma área de proteção ambiental desocupada na semana passada, no bairro Guarituba, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba. Sem ter onde morar, parte dessas pessoas está em um abrigo provisório na quadra de esportes da Escola Municipal Henrique de Souza, mesmo local onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou em 2007 no início das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Naquele ano, Lula anunciou o investimento de R$ 1,25 bilhão em obras de saneamento, urbanização e ocupações irregulares no estado.

As obras do PAC estão atrasadas em Piraquara, segundo o prefeito Gabriel Jorge Samaha. Oitocentas casas devem ser entregues, mas as famílias desabrigadas não serão levadas para lá por não estarem inscritas em cadastros sociais. "Já tem fila de pessoas para essas casas. Foram três anos de análise de risco social. A única solução para o pessoal foi dar um abrigo temporário", diz.

As famílias tinham até o último domingo para sair da escola, mas o prazo foi prorrogado por tempo indeterminado. A prefeitura forneceu cestas básicas e dois banheiros químicos para os desalojados. Porém, muitos estão sem banho há dias, já que não há chuveiro no local. Uma reunião com a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), cancelada ontem, deve acontecer hoje com participação da prefeitura e de moradores.

Uma das desabrigadas, Anair Vidal, está preocupada com a condição das crianças, entre elas sua filha Elisama, de um ano. "Ela tem bronquite e não consigo largar ela no chão para brincar porque tem muita poeira. Além disso, nos primeiros dias, muitas tiveram de dormir no chão, já que os colchões estavam todos molhados". Beatriz Urch dos Santos está vivendo na quadra com o marido e os dois filhos. Ela conta que famílias que haviam conseguido abrigo na casa de parentes estão retornando para a escola. "Estamos improvisando do jeito que a gente pode para acolher".

Uma cozinha com botijões de gás doados e fogão dos moradores foi montada no meio da quadra. A responsável pelo almoço, Leoni da Silva, afirma que os mantimentos fornecidos vão durar apenas dois dias. "Também estamos praticamente sem leite. Boa parte do que chegou nós já usamos para as crianças", conta.

Escola

A direção da Escola Municipal Henrique de Souza suspendeu as aulas dos 800 alunos na última sexta-feira para organizar as famílias que estão na quadra esportiva, separada do restante da escola por um muro. O portão fica trancado e cinco vigias cedidos pela prefeitura fazem a segurança do local dia e noite. As aulas recomeçaram ontem e não há registro de nenhum desentendimento, segundo a diretora Sandra Kuchnir. "Re­­cebemos algumas doações e encaminhamos para eles. Vim no final de semana e ninguém desrespeitou a área. Estamos mantendo uma política de boa vizinhança. Essas pessoas estão em condições desumanas. Temos de ajudar".

Porém, algumas mães de alunos, como Elisa Pereira, preferiram levar os filhos para casa. "Como posso ter a garantia de que meu filho está seguro? Prefiro não arriscar". A secretária de Educação de Piraquara, Loireci Dalmolim de Oliveira, acredita que essa preocupação é desnecessária. "Pessoas da própria comunidade estão ali. Essa atitude [de não deixar o filho na escola] é exagerada. Nossos servidores estão orientados para dar suporte em alguma eventualidade e não há nenhum tipo de violência", garante.

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