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Terminal Maracanã (Colombo) amanheceu assim. Dois milhões de pessoas ficaram na mão ontem | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Terminal Maracanã (Colombo) amanheceu assim. Dois milhões de pessoas ficaram na mão ontem| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Motorista faz bico com Kombi

Motorista de uma das empresas de transporte coletivo da capital, Lindiomar Pietrangelo (foto), 39 anos, foi até a garagem às 4 da manhã e descobriu que não teria que trabalhar. Resolveu cadastrar a Kombi da floricultura que toca com a esposa e encarar a rota Rui Barbosa/Pinheirinho, durante todo o dia. "Meu vale é R$ 725, peguei R$ 36,30. Teve cobrador que pegou R$ 20. Hoje, pelo menos, uns R$ 250 limpinho eu tirei", contabilizou, por volta das 18h30. Para conseguir passageiros, ele conta que ficou circulando pelas ruas. "Agora que cansei e dei uma parada [na Rui Barbosa]."

Apesar dos transtornos, entre os usuários do transporte coletivo também havia apoio à greve. A auxiliar de consultório Rebeca Inácio de Oliveira, 34 anos, veio da CIC até o centro com o namorado pela manhã. Às 18 horas, encontrou uma van para voltar para casa na Rui Barbosa. "É um absurdo trabalhar e não receber salário. Mas é uma questão política, entre Fruet e Richa", opinou. Sem ter como faltar ao trabalho, ela tentava descobrir que hora o transporte alternativo começaria a circular hoje.

Comércio no centro e nos terminais foi prejudicado

Diego Ribeiro e Bruna Komarchesqui

O comércio do Centro de Curitiba e nos terminais de ônibus foram os mais prejudicados pela greve ontem. Várias lojas permaneceram fechadas o dia todo. Outras até chegaram a abrir com o esforço de poucos funcionários, mas fecharam ainda no meio da tarde por falta de movimento.

"Em um dia normal, com liquidação, a loja estaria cheia neste horário. Hoje não tem ninguém, só um ou outro olhando", lamentou Marlene do Rocio, gerente de uma das lojas Savina, no Calçadão da XV. "Veio só um funcionário, tivemos de emprestar pessoal das outras duas unidades. Mas não compensa buscar, tem gente que mora na Fazenda Rio Grande, Almirante Tamandaré, para levar depois dificulta." Ela não soube calcular o prejuízo financeiro, mas garante que foi "bastante".

Nos arredores do Terminal do Hauer, tudo ficou parado. "Essa greve está judiando da gente. Nós dependemos do movimento do terminal", contou o gerente de uma loja de móveis situada em frente do terminal, Alessandro Assunção, 37 anos.

Ao menos os shoppings e o setor industrial parecem não ter sido afetados. A Federação das Indústrias do estado (Fiep) explicou que as empresas do setor costumam contar com transporte próprio para os funcionários. Já os shoppings informaram funcionamento normal, apesar de um número mais reduzido de funcionários em algumas lojas.

Após quatros horas, a audiência de conciliação que poderia dar um fim à greve do transporte público de Curitiba e região terminou com a promessa de que os trabalhadores retomariam parcialmente o trabalho à meia-noite de ontem. O desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) Luiz Eduardo Gunther determinou que seja cumprida a frota mínima de 70% dos ônibus no horário de pico (entre 5 e 9 horas e entre 17 e 21 horas) e 50% nos demais horários.

Apesar da aparente trégua, a situação ainda está longe de ser resolvida. A discussão em torno do pagamento dos 40% de adiantamento salarial foi tomada pela briga política entre prefeitura de Curitiba e governo do estado.

PARALISAÇÃO: Veja imagens da greve de ônibus desta segunda-feira (26)

Essa discussão, inclusive, deixou uma incógnita sobre o cumprimento da frota mínima por parte do Sindimoc. Anderson Teixeira, presidente da entidade, disse que não será fácil convencer os trabalhadores a voltarem ao trabalho sem que eles ainda tenham recebido os vales atrasados. "Chegamos aqui sem uma proposta de pagamento e continuamos sem ela". Motoristas que acompanharam a audiência saíram revoltados dizendo que não concordavam com a volta ao trabalho.

As empresas de ônibus alegam não conseguir pagar o vale dos funcionários – que deveria ter sido depositado no último dia 20– porque convivem com atrasos frequentes dos repasses devidos pela Urbs. A dívida no último dia 22 estava em R$ 18,7 milhões, segundo os empresários.

A Urbs, por sua vez, reclama de uma dívida de R$ 16,5 milhões do governo estadual referente a subsídios do último trimestre de 2014. Esses valores são utilizados para equilibrar o quanto é pago pelo usuário metropolitano e o quanto é repassado às empresas.

Carlos Almeida do Rego Filho, coordenador geral da região metropolitana na Comec, reconheceu que o estado deve R$ 15,8 milhões ao Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC). É desse fundo que saem as verbas para as empresas de ônibus. Em determinado momento da audiência, ele disse que o governo pretende pagar o valor, mas de forma parcelada. Indagado pelo desembargador sobre como esse parcelamento ocorreria, ele sugeriu que a quantia fosse paga em sete vezes. Mas argumentou que a proposta ainda precisa passar pelo crivo de pastas como a da Fazenda e da Casa Civil.

O pagamento desse valor, segundo todos os envolvidos no imbróglio – com exceção do governo estadual, é a única forma de resolver o impasse em torno dos vales dos funcionários. Tanto que, ao fim da audiência, Roberto Gregório, presidente da Urbs, disse que a verba não precisará passar pelo FUC. A empresa já teria informado à Comec que o órgão estadual poderá fazer o repasse diretamente paras os empresários do setor.

Os representantes do estado foram os únicos que não pararam para falar com a imprensa após a primeira audiência conciliatória do setor. Na nova audiência marcada para hoje, às 14h30, Urbs, Comec e empresários deverão apresentar um plano de pagamento dos vales atrasados. A Justiça do Trabalho informou que pretende estabelecer sansões caso esses órgãos não apresentem propostas concretas para os trabalhadores.

R$ 18 milhões

É a dívida que Urbs e principalemte Comec acumulam com as empresas do sistema de transporte coletivo, segundo Setransp. Até outubro, o governo estadual repassava R$ 7,5 milhões mensais de subsídio. Após o aumento de R$ 0,15 na tarifa, esse subsídio caiu. Ainda assim, o estado teria de repassar R$ 12,5 milhões entre novembro e dezembro. Ontem, a Comec admitiu que deve R$ 15,8 milhões ao sistema e propôs algum tipo de parcelamento.

Comec quer licitar Lote 4 neste semestre

Fernanda Trisotto

A licitação das linhas metropolitanas, o Lote 4 da Rede Integrada de Transporte, pode ser lançada neste semestre de 2015, segundo o presidente da Comec, Omar Akel. Ele explica que a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP) foi contratada para fazer a modelagem do edital de licitação e já mandou uma proposta. "Nós estamos analisando e a intenção é, até o final do primeiro trimestre, definirmos todos os parâmetros para podermos realizar as consultas populares e, no primeiro semestre ainda, termos as linhas licitadas". Akel diz que é importante que a integração do sistema seja mantida, já que o movimento pendular de Curitiba e região metropolitana é intenso, mas de uma maneira mais "adequada" e considerado a pesquisa origem-destino feita pelo órgão. Hoje, sem a licitação, as mais de 180 linhas que atendem a RMC atuam de forma precária, com uma permissão do governo estadual apenas.

Transporte alternativo

Ao longo do dia, por causa da greve, 679 veículos foram cadastrados pela Urbs para serviço alternativo de transporte. São 547 carros e vans, 118 da Prefeitura, e 14 micro-ônibus.

Caso a paralisação continue, os já cadastrados podem operar e outros motoristas devem procurar a Urbs para requerer a autorização para trabalhar com transporte alternativo. O cadastramento terá início às 6h30, na Área de Inspeção e Cadastro, que fica na ala ferroviária, na ponta interna da Rodoviária.

O transporte alternativo é autorizado a operar enquanto durar a paralisação com cobrança de R$ 6 por pessoa, sem mudança deste valor.

A população pode denunciar motoristas que estejam cobrando valores maiores, ou operando sem autorização, pelo telefone 156.

Para fazer o cadastro é preciso apresentar documentos pessoais (RG e CPF, carteira de motorista) e do veículo, que devem estar em dia com as exigências do trânsito. O carro será submetido a uma rápida vistoria e, se autorizado, receberá um cartaz identificando tratar-se de veículo autorizado pela Urbs. O cartaz deverá ficar em lugar visível para a fiscalização e para o usuário.

Taxistas interessados em fazer transporte alternativo também poderão se cadastrar. Da mesma forma, o táxi deverá colar o cartaz de veículo autorizado pela Urbs a fazer transporte alternativo e não poderá ligar o taxímetro, cobrando R$ 6 por pessoa.

Os veículos particulares e táxis que fizerem transporte alternativo e estiverem cadastrados têm autorização da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) para usar as canaletas do sistema expresso.

Os táxis que optarem por continuar usando o taxímetro não poderão cobrar nenhum centavo a mais do que a tabela e não poderão circular nas canaletas. Os preços do táxi estão em tabela afixada no vidro da porta de trás do carro e podem ser conferidos pelo usuário. Qualquer denúncia ou reclamação deve ser feita pelo 156.

A distribuição dos carros de transporte alternativo será feita levando em conta os pontos de maior concentração de usuários e também regiões conhecidas pelo motorista.

Parada irregularNo fim do dia de ontem, várias vans e carros particulares que tinham se cadastrado para fazer o transporte de passageiros pararam próximos a praças e ruas do Centro da cidade para esperar pelos "clientes" de forma irregular. Uma agente da Setran chegou a notificar alguns veículos que estavam parados na Rua Pedro Ivo por falta de EstaR. Segundo o órgão, somente os pontos de ônibus são locais autorizados para o estacionamento dos veículos

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