A notícia de que, entre o fim deste ano e o início de 2009, serão instaladas 400 máquinas distribuidoras de camisinhas em escolas públicas do Brasil virou motivo de discussões. De um lado, os defensores do projeto pregam a prevenção e a proteção acima de tudo. Do outro, há quem diga que a máquina gera efeito reverso, incentivando os jovens ao ato sexual.
Para a diretora do Programa Nacional de DST/Aids, Mariângela Galvão Simão, a polêmica só surgiu porque parte da sociedade não vê os adolescentes como cidadãos sexualmente ativos. Desde abril de 2006 responsável pelas ações de combate às doenças sexualmente transmissíveis no país, a curititibana defende o projeto em entrevista à Gazeta do Povo.
Qual a sua posição a respeito da colocação de máquinas para a distribuição de camisinhas nas escolas?
Existe uma visão mais conservadora na sociedade, que ignora a vida sexual ativa dos jovens. Isso, muitas vezes, por parte dos próprios pais. Sempre é a filha do vizinho que fica grávida. Ou as doenças sexualmente transmissíveis acometem algum conhecido. A importância da máquina afeta também a gravidez na adolescência. Cerca de 30% dos atendimentos para grávidas do SUS são para adolescentes.
Como se dará a colocação dessas máquinas nas escolas?
Já existem cerca de 10 mil escolas que trabalham com essas máquinas. Quando a escola decide fazer a disponibilização do preservativo, ela não coloca na porta com uma cesta para os alunos simplesmente entrarem e pegarem. Há um projeto pedagógico dentro da escola, que visa ao esclarecimento.
Por que o jovem não compra preservativos ou retira de alguma unidade do SUS?
Ainda existe muito constrangimento em comprar ou pedir o preservativo. Um dado importante: dos jovens que não usaram preservativo na primeira relação, 40% afirmam que não se lembraram na hora, mas 10% disseram que não tinham dinheiro. É justamente aí que entra a prevenção, como, por exemplo, levar camisinha sempre que for à balada. E, apesar do discurso contrário, não dá para dizer que a sociedade é contra isso: 60% dos pais aprovam a disponibilização do preservativo nas escolas.
Quem defende a não-colocação das máquinas aponta que a simples existência delas no espaço motiva os jovens a fazerem sexo...
O jovem não precisa de incentivo maior do que a televisão e os seus próprios hormônios. Não é a presença do preservativo ou da máquina que resulta em relações sexuais. Uma prova disso é que 40% dos adolescentes não usaram camisinha na relação porque não se lembraram na hora. O que a gente defende é que os jovens precisam da informação para decidir por conta própria. Muitas vezes, só a informação não basta, é preciso fornecer o acesso.
A colocação das máquinas mostra que as campanhas informativas sobre a Aids não têm o resultado esperado?
São atitudes complementares. Se, em 1986, 9% dos jovens usaram preservativos na primeira relação, os dados de 2004/2005 mostram que entre 63% e 67% utilizam. Todo jovem que começa a vida sexual hoje já sabe da necessidade da camisinha e mais de 90% sabe como se transmite a Aids e como se prevenir. Já o adulto, muitas vezes, julga que não corre riscos.



