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SEXUALIDADE

Solução está além de proibição de pulseiras

Para especialistas, acessório pode ser substituído por outros adereços. Eles defendem que a saída passa por discussão sobre sexualidade com adolescentes

Lei pode proibir comércio de “pulseiras do sexo” em Londrina e Curitiba | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Lei pode proibir comércio de “pulseiras do sexo” em Londrina e Curitiba (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)

Será votado, em segunda discussão, hoje em Londrina, no Norte do estado, o projeto de lei que proíbe a comercialização das "pulseiras do sexo". Se aprovada, a lei segue para sanção do prefeito – o acessório se tornou uma preocupação do legislativo depois que uma menina de 13 anos, que usava os adereços, foi estuprada na cidade. De acordo com os especialistas, porém, a proibição das pulseiras não será a solução, já que elas são apenas parte do problema.

O raciocínio é simples: se meninos e meninas não estiverem preparados para dizer "não", amanhã outros adereços, como colares e anéis, por exemplo, poderão trazer as mesmas consequências. Para os especialistas, na verdade, no âmago da questão está a sexualidade dos adolescentes e a discussão sobre limites.

A vereadora Lenir de Assis (PT), autora do projeto de lei londrinense, diz que a decisão de criar a legislação surgiu após conversas com órgãos de defesa da criança e do adolescente. "Precisávamos de um projeto que proibisse a comercialização das pulseiras para não compactuar com isso. A conscientização continua, mas o produto não estará mais acessível". Em Curitiba, o vereador Algaci Túlio (PMDB) propôs uma lei semelhante, que será analisada agora pelas comissões da casa – na próxima semana, será realizado um debate na Câmara com integrantes da rede de proteção à infância.

Os especialistas ouvidos pela reportagem, porém, são categóricos: somente a legislação não basta. Falar sobre sexo é uma discussão que deve ser iniciada em casa e debater o assunto com os filhos é papel dos pais. Segundo eles, é melhor que os adolescentes tenham acesso a informações seguras com a família e não com terceiros. Assim, os pais podem passar os valores que acreditem ser coerentes.

"Sabemos que é difícil e complicado para os pais reconhecer que a criança já se tornou adolescente e tem desejos, mas é um debate importante", afirma a orientadora do Colégio Dom Bosco Rita Egashira.

Os pais precisam dialogar com os adolescentes para que eles entendam os perigos a que estão expostos ao usar adereços que sinalizem a "vontade" de fazer sexo. Isso porque, por mais que em alguns casos os meninos e meninas entendam o que significa usar as pulseiras, não compreendem a amplitude e consequências que esse ato pode ter. "A família deve focar na autoestima e mostrar que os filhos não precisam entrar em uma relação sexual para agradar os outros. O dizer ‘não’ deve ser algo consciente", explica a psicóloga Cleia Oliveira.

Além dos pais, a escola também tem uma missão importante na discussão sobre a sexualidade. Se a família vai passar os valores e comportamentos que acredita serem adequados, são os educadores que vão contextualizar os assuntos e debater a sexualidade dentro da sala de aula. "Os professores têm o papel de ajudar a desenvolver o pensamento crítico. O conteúdo não pode estar desvinculado da realidade. E temos exemplos ótimos de prevenção nas escolas", diz a professora da Universidade Federal do Paraná e doutora em educação Araci Asinelli.

De acordo com a orientadora do Colégio Dom Bosco Francisca Ma­­ria de Fawn, a escola não pode se omitir destas discussões. "De­­vemos questionar qual é a ética dos dias atuais", diz. "Os jovens têm uma característica contestadora e os educadores podem direcionar isso para boas ações", explica.

Segundo Araci, em locais onde a escola cumpre seu papel de contextualizar os fatos e os pais dialogam com os filhos, casos de abuso, como o ocorrido com a menina londrinense, são raros. "Este tipo de abuso não é a regra, mas a exceção", diz. "O adolescente deve estar preparado para dizer ‘não’ e para isso precisa de informação", opina.

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