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Drama

Teimosia eleva total de mortes para 114

Novo desmoronamento mata mais duas pessoas. Acidente ocorreu quando bombeiros tentavam tirar de morro pessoas que insistiam em ficar em suas casas

O analista de sistemas Egon Budag  desembarcou do helicóptero com quatro cães, resgatados com ele do Morro do Baú | Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
O analista de sistemas Egon Budag desembarcou do helicóptero com quatro cães, resgatados com ele do Morro do Baú (Foto: Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Equipe de socorro resgata moradora de área de risco em Ilhota |

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Equipe de socorro resgata moradora de área de risco em Ilhota

A resistência de algumas pessoas em deixar suas casas situadas em morros do Vale do Itajaí provocou mais mortes ontem, elevando o total de óbitos para 114, em função da enchente e dos desmoronamentos de terra em Santa Catarina. Dois bombeiros também ficaram feridos e estão internados em estado grave. O acidente ocorreu por volta das 18 horas de ontem, na localidade de Braço do Joaquim, em Luís Alves, no Vale do Itajaí.

Segundo a Defesa Civil, oito pessoas estavam no morro e resistiam em sair do local. O grupo de resgate foi para para retirá-las e, durante a operação de evacuação, o morro cedeu, soterrando dez pessoas, entre elas dois bombeiros. Uma mulher e uma criança morreram.

Nilton Fernando Pythan está internado no Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí, e corre risco de morte. O outro bombeiro, que não teve seu nome divulgado, foi levado para um hospital de Florianópolis. As outras vítimas resgatadas com vida foram levadas para o hospital de Luís Alves.

Resgate

No sábado, a reportagem da Gazeta do Povo acompanhou outra operação de resgate no Morro do Baú, localizado em Ilhota, município que mais registrou mortes devido à chuva (37 no total). No local, que está isolado e sem acesso por terra, quatro pessoas que haviam voltado para suas casas morreram na semana passada, durante outro desmoronamento de terra.

Equipes de resgate formadas por bombeiros de vários estados a homens da Força Nacional participaram da missão. Os socorristas dizem ter sido uma das operações mais delicadas desde que as chuvas castigaram o Vale do Itajaí há uma semana. Além das dificuldades que impediam os vôos até a região – chuvas eram constantes –, os próprios moradores do Morro do Baú tornaram a operação mais perigosa, principalmente o casal Valdemar e Cassilda Espig. Os idosos não queriam de jeito nenhum deixar sua residência. Quando o primeiro homem chegou para salvá-los, Cassilda lavava tranqüilamente a louça e falou que, se era para morrer, seria na sua casa. Horas depois, a equipe tentaria novamente.

Passava o Jornal Hoje na TV quando a costureira Josilene Sperber soube que, junto com o pai, teria que deixar sua casa no Alto Braço do Baú e ir com os socorristas imediatamente. Não entendia o porquê, já que para ela a casa estava a salvo. Mesmo assim, pegou algumas roupas, trancou a casa e partiu. Após embarcarem nos helicópteros, as pessoas eram levadas à prefeitura de Ilhota, onde estavam montados abrigos. As primeiras a chegar tinham o perfil de Josilene: meio sem entender o porquê.

Aos poucos, os desabrigados vão se dando conta do que deixaram para trás. "Deixei 40 mil pintinhos lá. Trabalhávamos com granja e verduras e a chuva acabou com a produção", lamenta a produtora rural Edla Espig. Além da preocupação com a terra e animais, os desabrigados estavam receosos de que as residências fossem assaltadas. Eles dizem ter visto motoqueiros circulando na região.

O tempo ia passando e mais vítimas iam chegando. Mila Espig estava muito abatida porque chegou no abrigo sem o marido, que tinha ido chamar os vizinhos. A filha Paola chorou durante todo o vôo. Depois de alguns minutos, o marido chegou, mas ela ainda não estava contente.

Mila é parente do casal de idosos que se recusava a sair de suas casas. Ela conta que a mulher tem dificuldades para andar e o homem, problemas de pressão. Mila implorou para eles virem, mas desistiu e embarcou no helicóptero. Os socorristas não desistiram. Voltaram, mobilizaram o médico da secretaria municipal de saúde de Florianópolis Jorn Spiller e voaram novamente para o Morro do Baú.

A equipe estava confiante que traria os idosos, já que tinha acabado de conseguir uma vitória: convenceram o analista de sistema Egon Budag a deixar o morro. Budag já tinha se recusado em outras situações, enquanto que a esposa e filho tinham sido resgatados no início da semana. O analista de sistema queria ser voluntário na região, ajudar os vizinhos e cuidar dos seus animais. Mas o tempo engrossou e tinha chegado a hora de partir. Antes, faria uma exigência. Só saía do morro se os animais fossem junto. O bombeiro negou. No desembarque na prefeitura de Ilhota, Budag causou surpresa: desembarcou com quatro cachorros, levados num compartimento externo do helicóptero.

A expectativa da população que acompanhava a operação na prefeitura era pelo casal de idosos. Já se cogitava trazê-los a força. Só por volta das 19 horas e o helicóptero pousa no abrigo de Ilhota, trazendo os idosos. O casal não queria sair de casa de jeito nenhum. Valdemar falava que se fosse para ele morrer, morreria na terra onde viveu a vida inteira.

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