O percurso entre o momento em que a família aceita doar os órgãos de um parente com morte encefálica e a cirurgia de transplante requer muita agilidade. Correr contra o relógio é uma rotina dos médicos transplantadores que são acionados após a liberação do paciente pela Central de Transplantes. O prazo máximo é de quatro a seis horas entre a retirada do órgão e a implantação.
Normalmente, um paciente com morte cerebral pode doar sete órgãos (fígado, rim, pâncreas, pulmões, coração e válvulas, córneas, pele, ossos). Para a especialista em transplantes de fígado Silvania Pimentel, que faz parte da equipe de transplantes da Santa Casa de Curitiba, o tempo tem que ser aliado do paciente. Quanto mais rápida a retirada do órgão, maior a chance de a operação ser bem sucedida.
Para o coordenador da equipe de transplante do Hospital Angelina Caron, Carlos Marmanilla, o transplante entre vivos que faz parte da terceira possibilidade seguida da morte encefálica e do coração parado é eficiente, porém não é o mais ideal. "É preciso incentivar o transplante cadavérico", diz. Ele lembra que o pedido para a doação é o mais difícil nesse processo porque requer um aporte psicológico muito grande.
Os irmãos Lopes sabem bem disso. Eles são de Guarapuava e foram submetidos à cirurgia na última quarta-feira no Hospital Evangélico, em Curitiba. O agropecuarista José Airton Vieira Lopes, 45 anos, doou um rim para o irmão, o comerciante Eroclides Vieira Lopes, 58 anos, há dois em tratamento com diálise. No ano passado, José, dois sobrinhos e uma prima foram submetidos ao teste de compatibilidade. O dele deu positivo. "É uma emoção muito grande poder fazer parte do meu irmão", disse.
Incentivo
Para aumentar o número de doadores, a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (Abto) propõe um aperfeiçoamento da atual legislação. Uma das ideias em discussão é estimular que a pessoa que pretende doar seus órgãos registre sua vontade em cartório, na Central de Captação de Órgãos do estado ou em hospitais. A proposta deverá ser encaminhada para a Câmara dos Deputados nos próximos dias para que possa virar projeto de lei. "Será uma forma de preservar a autonomia do doador evitando dúvidas e mudança de planos pela família", diz o presidente da associação,Valter Duro Garcia.
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