
Há dois anos, a dona de casa Cecília Brito Teodoro, 53 anos, foi surpreendida durante uma cerimônia de casamento. Ao invés de jogar o buquê, como convém a tradição, a noiva preferiu dá-lo a Cecília de lembrança.
Diante do espanto dos convidados, já que nem os parentes mais próximos sabiam quem era a homenageada, a noiva se explicou. Disse que por conta da atitude da família daquela senhora, ela conseguia identificar o rosto de cada convidado na cerimônia, o que não era possível alguns anos antes. A moça foi uma das oito pessoas beneficiadas pela doação dos órgãos do caçula dos quatro filhos de Cecília. Desde 2003, ela enxerga com as córneas do rapaz.
O vigia Jackson Henrique Teodoro morreu dia 30 de setembro de 2003, vítima de um atropelamento em Colombo, região metropolitana de Curitiba. Ao ser constatada a morte cerebral, após dois dias de coma na UTI do Hospital Cajuru, a família optou pela doação. Por ser novo tinha 22 anos , praticamente todos os órgãos internos de Jackson puderam ser doados. Sete pessoas se beneficiaram da doação de nove órgãos. O rapaz, inclusive, foi o primeiro doador de pulmões no Paraná. "Ele dizia que se acontecesse algo era para doar tudo o que pudesse. E nós cumprimos o que ele queria", aponta Cecília.
Ter respeitado a opção do filho deixa Cecília aliviada. Mas saber que Jackson, que fazia trabalhos comunitários na igreja, segue ajudando outras pessoas conforta a perda de Cecília. "Antes eu chorava de tristeza, agora choro só de saudade. É muito bom saber que tem um pedacinho dele que faz outras pessoas viverem", afirma Cecília, que mantém contato com três dos receptores. "O rapaz que recebeu o fígado estava com os dias contados antes da doação. Agora está forte e sempre que vem a Curitiba fazer exames me visita. Pergunto se ele está se cuidando como se perguntasse ao meu filho", revela a mãe de Jackson.
O trabalho de Cecília em prol da doação de órgãos não parou com a morte do filho. A causa. Todos os anos ela é convidada pela Central de Transplantes a dar palestras em hospitais. A partir de seu relato pessoal, Cecília tenta convencer outras pessoas de que, antes de tudo, doar é um ato humano. "As pessoas têm que ter a consciência de que, mesmo na morte, ainda podem ajudar", enfatiza Cecília, que após a doação do filho também virou doadora. "Ele me deixou este exemplo."



