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"Tenho pavor da Justiça brasileira", desabafou o representante de vendas austríaco Sasha Zanger neste domingo (21). Sua filha, Sophie Zanger, de 4 anos, morreu na última sexta-feira (19) no Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, na Baixada Fluminense.

Sasha conta que gastou cerca de 100 mil euros com detetives e advogados para conseguir reaver os dois filhos, entre eles a menina de 4 anos.

Mesmo com a guarda compartilhada das crianças, sua ex-mulher, a brasileira Maristela dos Santos, embarcou com os dois sem sua autorização em janeiro do ano passado. Segundo a família, ela sofre de problemas mentais e está desaparecida há alguns meses.

"Paguei e pagaria de novo para ter a minha filha de volta. Tenho pavor da Justiça brasileira. Foi petição atrás de petição e nada foi feito. Para quê o Brasil assinou a Convenção de Haia se não a cumpre? As crianças já deveriam ter voltado para a Áustria", reclama.

Segundo o laudo do hospital, ela pesava 14 kg, estava desnutrida, desidratada e com marcas de agressão no corpo, como hematomas, contusão na cabeça e punhos quebrados. "Embarquei no dia em que soube que ela estava internada. Cheguei às 5h e fui direto para o hospital. Só deu tempo de ver o corpo frio e morto da minha filha", disse Sasha, com o choro embargado.

De acordo com o irmão mais velho de Sophie, de 12 anos, há pouco mais de uma semana ele encontrou a irmã sentada no banheiro, no escuro e machucada, na casa da tia Geovanna dos Santos, com quem os dois moravam. Ele chegou a assumir as agressões à polícia, mas depois contou que era ameaçado pela prima, Lílian Vianna. Ele também apresentava marcas de agressões no corpo.

Pai acusa tios

De acordo com Sasha, ele ganhou na Justiça austríaca a guarda integral dos filhos porque sua ex-mulher saiu da Áustria com as crianças sem a sua autorização. Mesmo assim, ele não conseguiu reaver seus filhos.

"Esses tios só queriam uma coisa dos meus filhos: dinheiro. Apesar de terem recebido remessas de 500 euros, recebiam bolsa-família e cesta básica do conselho tutelar. Quando consegui visitá-los, em abril, estavam os dois sujos, morando num barraco, numa favela. Me senti morto ali", lembra ele.

A versão da família

Mãe de criação de Maristela, Anayá Caldas conta que a vida da filha no Brasil não foi fácil, marcada pela piora de sua doença, possivelmente algum tipo de esquizofrenia. Depois da volta ao país, os três ficaram cerca de seis meses com irmãos de Maristela, que a expulsaram por não querer cuidar de sua doença.

Maristela foi, então, procurar Anayá, que a orientou a procurar o conselho tutelar. Orientada pelo órgão, a mãe instalou a família num apartamento e afirma que a visitava diariamente. Até que, um dia, o apartamento estava vazio. Foram dois meses até ter notícias.

"Descobrimos que a Geovanna tinha estado lá e os levado embora. Ligamos, mas diziam que eles não estavam lá. Um tempo depois, encontramos Maristela vagando maltrapilha pelas ruas pedindo ajuda. Ela contou que a irmã a havia expulsado de casa e ficado com os filhos. Logo depois ela voltou a sumir", lembra Anayá.

Abuso sexual

Anayá reforça ainda que, na chegada de Maristela ao Brasil, ela mesmo, o resto da família e amigos dificultavam o acesso de Sasha, porque ela contava que o ex-marido havia abusado sexualmente do filho.

"Hoje sabemos que isso dificultou as coisas. O menino nunca tinha sido ouvido e mal sabia o que aquilo significava. Até porque não compreende o português completamente", diz ela.

"Na Áustria nunca havia tido essa história. Aqui eu virei abusador?", indaga Sasha. O menino inocentou o pai na última sexta-feira (21), em depoimento à Justiça na 27ª Vara Federal do Rio.

Irmão poderá ser ouvido pela polícia

O caso foi registrado na 36ª DP (Santa Cruz). Sasha pretende comparecer à delegacia para prestar depoimento.

O conselho tutelar de Santa Cruz informou que não sabia que os filhos do casal eram coagidos pela tia. "Nós não tínhamos a informação de que o menino era coagido pelos tios. Pelo que sei, ele nunca falou isso à polícia. Se não houve esse relato, acho que a polícia terá que ouvir o menino novamente", disse o conselheiro tutelar de Santa Cruz, Marcelo Machado. Procuradas pelo G1, Geovanna e Lílian, tia e prima de Sophie, não foram encontradas. O delegado responsável pela investigação também não foi localizado pela reportagem.

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