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Colonos durante o cerco à região de Porecatu enfrentaram o avanço da polícia | Reprodução/Marcelo Oikawa
Colonos durante o cerco à região de Porecatu enfrentaram o avanço da polícia| Foto: Reprodução/Marcelo Oikawa

Curiosidades

Conheça outros detalhes e curiosidades que fizeram parte dos quase dez anos de conflito na região de Porecatu:

Mortos: O saldo de mortos no combate é incerto. O historiador Ângelo Priori estima que pelo menos 20 pessoas morreram nos enfrentamentos, sendo 12 jagunços.

Latifundiário: Um dos primeiros cafeicultores e grileiros a comprar terras onde estavam os posseiros foi Ricardo Lunardelli. Ele adquiriu uma grande gleba, fez o loteamento e vendeu a terceiros com um contrato em que constava a entrega das terras "livre de intrusos".

Delator: Um dos dirigentes do PCB, Celso Cabral de Mello, conhecido como Capitão Carlos, acabou preso no dia do Cerco de Porecatu e, na prisão, resolveu contar aos policiais tudo sobre a organização dos camponeses. Depois de entregar os camponeses, Mello conseguiu fugir.

Ligas: As primeiras Ligas Camponesas no Brasil remetem-se à guerrilha de Porecatu, ainda em 1942. Os posseiros, organizados pelas Ligas, lutavam pela posse definitiva de suas terras. Nesse período, registrou-se a criação de mais de uma dezena dessas associações.

Inspiração: O interventor Manoel Ribas se inspirou numa política norte-americana do ex-presidente Abraham Lincoln, o Homestead Act, que incentivava a ocupação territorial dos Estados Unidos. A ideia era que as famílias que cumprissem com o trato de desenvolver o oeste americano receberiam o título de propriedade de terra.

Telegrama

Com a situação tornando-se insustentável, o então prefeito de Porecatu, Ângelo Nino, e o presidente da Comissão de Terras, nomeado pelo governo, mandam telegramas ao Governo Estadual e ao chefe de polícia, registrando os fatos ocorridos na região como graves. A resposta foi rápida: três dias após o recebimento do telegrama, em 1951, foi deflagrado o cerco à região, que culminou com o fim da guerrilha. Mesmo em menor número, os posseiros se distribuíam estrategicamente na mata para poder fugir das tropas militares enviadas pelo governo, vigiar as estradas e promover a expulsão daqueles que não participavam da luta em favor dos posseiros.

Reintegração

O governador Bento Munhoz, em meio ao ápice do conflito, criou uma comissão especial para realocar posseiros de Porecatu. Alguns historiadores afirmam que foi a primeira desapropriação de terra com base no interesse social no Brasil. O problema é que apenas 380 famílias chegaram a ser reassentadas. "Mas foram alojados em outras terras que já eram devolutas de Campo Mourão e Centenário do Sul", explica Priori. Uma estratégia adotada pelos posseiros foi um abaixo-assinado em que pediam a garantia de suas posses, a indenização pelos prejuízos sofridos e a punição para os culpados pelos crimes contra eles, mas não foi suficiente.

  • Policial durante o cerco à região de Porecatu que debelou a rebelião
  • Posseiros reunidos durante a guerrilha tinham o objetivo de afastar os jagunços

Uma promessa não cumprida e muito sangue derramado pelas terras roxas do Norte do Paraná. A Guerrilha de Porecatu começou com o desejo do então interventor do estado, Manoel Ribas, de povoar 120 mil hectares de terras devolutas na região de Porecatu. Através do Departamento de Terras, o governo determinou que iria ceder os lotes a quem derrubasse a mata, plantasse, pagasse impostos e vivesse no local por pelo menos seis anos. O resultado foi uma corrida desordenada ao quase desconhecido sertão paranaense no início da década de 40, principalmente entre os anos 1941 e 1943.

Aventureiros, agricultores, especuladores e até grandes proprietários avançaram para a região que era tida como terra de ninguém. Imigrantes, principalmente vindos de São Paulo, tinham a perspectiva de conseguir melhores condições de trabalho e a posse de uma parcela de terra.

O problema é que, como conta o historiador Ângelo Priori, muitos grileiros se aproveitaram da situação e também queriam seus pedaços de terra. Pelo menos dez grandes grileiros forjavam documentos e atestavam que os lotes já tinham donos. "Eles inventavam documentos em cartórios e solicitavam ao juiz, que também era grileiro, a reintegração de posse", explica.

A situação piorou com o governo de Moisés Lupion, a partir 1947, quando foram distribuídas terras a empresários e parceiros políticos. Muitas delas já estavam ocupadas e desbravadas por posseiros que aguardavam o sexto ano para ter o título da propriedade. Aliado dos latifundiários, Lupion não cumpriu o acordo com os posseiros. "Ele não concedeu nenhum título de terra aos posseiros", completa o jornalista e pesquisador do tema, Marcelo Oikawa.

Cenário de guerra

De um lado ficaram os posseiros que lutavam por suas terras e, do outro, grileiros que queriam alargar seus territórios. Muitos jagunços foram contratados pelos ‘coronéis’ para ameaçar, espancar, incendiar casas, matar animais e destruir as colheitas das cerca de 3 mil famílias de posseiros.

A tensão era tanta que o governo prometeu que iria ceder dez alqueires a cada posseiro que decidisse abandonar a zona conflituosa. Quem aceitou o acordo, ficou com as mãos abanando. O governo, mais uma vez, não cumprira o pacto. Em 1948, os posseiros resolveram apelar à ajuda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que na época estava em situação ilegal.

Organizados em grupos armados, os posseiros tinham a vantagem de conhecer a região. Fizeram tocaias contra os jagunços, atacaram as grandes fazendas e tentaram manter jagunços, grileiros e os cem policiais militares longe.

Quando Bento Munhoz assumiu o governo em 1951, Porecatu estava no auge do conflito. Munhoz tentou ainda uma negociação com os posseiros. Uma das alternativas propostas era o reassentamento. "O problema é que o PCB não queria acordo e proibiu as famílias de concordarem", explica Oikawa. Diante do impasse, o governo decidiu organizar o Cerco de Porecatu, mobilizando a polícia do Paraná, São Paulo e até o batalhão de fronteira de Foz do Iguaçu.

Na madrugada de 17 de julho de 1951, os policiais invadiram a região. O historiador Priori relata que os líderes dos posseiros foram presos e muitos fugiram em direção a Maringá. "Ao todo, 17 posseiros foram condenados, mas muitos fugiram". As penas variavam de sete a 14 anos.

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