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Policiais em treinamento para grandes eventos no Rio de Janeiro: estrutura de segurança receberá reforços estaduais e nacionais durante os Jogos Olímpicos. | Rogério Santana/GERJ
Policiais em treinamento para grandes eventos no Rio de Janeiro: estrutura de segurança receberá reforços estaduais e nacionais durante os Jogos Olímpicos.| Foto: Rogério Santana/GERJ

Os atentados recentes em Paris elevaram a preocupação do mundo com um elemento que parecia distante dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016: o terrorismo. Esse fator estava considerado no planejamento de segurança do evento, assim como foi levado em conta na preparação da Copa do Mundo 2014, mas com pouca probabilidade de ocorrências.

Ontem (22), o governo francês ofereceu à presidente Dilma Rousseff o apoio dos serviços de inteligência e informação para reduzir os riscos de terrorismo durante os jogos. Em audiência com Dilma, o chanceler da França, Laurent Fabius, disse que o atentado no dia 13 de novembro poderia ter ocorrido em qualquer outro país.

Histórico

O histórico de atentados em Olimpíadas reforça o receio. Em 1972, o ataque do grupo Setembro Negro aos atletas israelense deixou 18 pessoas mortas. Em Atlanta, 1996, um americano “plantou” uma bomba no parque Centenário dos jogos, em meio a um concerto de rock. O saldo do terror foi de dois mortos e mais de uma centena de feridos.

Radar

Até o ano passado, a principal preocupação estava relacionada aos black blocs. Hoje, o Estado Islâmico (EI) e os chamados “lobos solitários”, simpatizantes que agem de forma independente [como na Maratona de Boston em 2013], estão no radar da segurança pública do maior evento esportivo do planeta.

Apesar de o discurso oficial não expor o reforço na preparação, a realidade brasileira escancara a necessidade e mostra a dependência brasileira de informações de agências de inteligência de outros países para tentar se antecipar a qualquer ataque.

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O Brasil não é foco preferencial de ataques terroristas – principalmente porque não usa forças bélicas para atacar outros países –, mas pode se transformar em alvo por concentrar 10 mil atletas de 200 países, muitos dos quais inimigos de grupos fanáticos.

Radiografia

Jogos Olímpicos 2016

10.500 atletas

204 países

33 locais de competição, em quatro regiões do Rio de Janeiro

7,5 milhões de ingressos

Intensificar a segurança se torna ainda mais importante em razão da falta de experiência para enfrentar atentados terroristas. A Tríplice Fronteira conta com monitoramento deficiente – só a fronteira com o Paraguai tem mais de 1,3 mil quilômetros. As agências de inteligência têm pouca estrutura e faltam sistemas de integração dentro dos estados.

“Até os ataques em Paris, a possibilidade era remota, mas a ousadia ligou a luz amarela no país. A preocupação está em grau máximo. Eu conversei recentemente com autoridades do Rio de Janeiro que atestam isso. Só para ter uma ideia, o país não consegue conter os milhares de ataques a caixas eletrônicos com dinamites que acontecem a cada ano”, afirma o ex-secretário nacional da Segurança Pública, coronel da Polícia Militar paulista, José Vicente Silva.

Estrutura

O problema brasileiro para preservação da segurança nos Jogos começa na série de obstáculos estruturais que dificultam o trabalho das agências de inteligência no Brasil, essenciais para antecipar ataques como os que ocorreram na França. O primeiro deles é legal. A Lei das Interceptações, n.º 9.296/1996, não autoriza que esses órgãos usem “grampos” para investigar ameaças. São previstas autorizações judiciais para apurar apenas crimes que já ocorreram.

“Os Estados Unidos não usam tanto grampos em investigações policiais [até pela estrutura tecnológica ser mais ampla], por exemplo, mas é uma ferramenta essencial para a segurança do estado lá”, comenta um policial civil que trabalhou no setor de inteligência do estado.

Trabalho mais complexo do que a Copa

O Ministério da Defesa (MD) do Brasil considera o trabalho de segurança na Olimpíada no Rio de Janeiro muito mais complexo que o da Copa do Mundo 2014. Mesmo assim, serão empregados quase 20 mil homens das Forças Armadas a menos que no evento de futebol.

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Ele falou com a Gazeta do Povo sob a condição de anonimato. No Brasil, de acordo com ele, a inteligência usa uma manobra legal, sustentando pedidos para interceptar crimes ocorridos. Assim, tenta colher dado de acontecimentos futuros. Nos EUA há ainda a previsão do crime de conspiração, diferente da realidade local.

Sem uma mudança drástica nesta lei, segundo o policial civil, a inteligência brasileira sempre dependerá da cooperação das agências de outros países, que deverão enviar informações sobre possíveis “riscos” para, então, agir ou intensificar a prevenção, a exemplo da França.

Segundo o coronel José Vicente, as agências deveriam detectar possíveis eventos perigosos antes que eles aconteçam. “Mas não há essa interligação quase nunca”, diz. O país nem sequer conseguiu unificar as identidades. Hoje, cada brasileiro pode ter um RG em cada estado.

Um policial militar, que também trabalhou na inteligência da polícia paranaense, comenta– com o acordo de não ter o nome revelado – que a integração de softwares entre as forças de segurança é outro grande obstáculo. “Os softwares usados pelas polícias do país são exemplos. Não há essa integração dentro das polícias de um mesmo estado, como o Paraná. Se uma pessoa tiver o carro roubado e chamar a PM, só a PM vai ter a informação”, ressalta.

A fonte consultada pela Gazeta do Povo lembra que no país há pouca fiscalização nas rodovias. Outro policial civil, que atua na inteligência, afirma que a integração de informações se restringe a conversas quase que diárias entre os estados. O entrevistado defende, no entanto, que faltam investimentos na inteligência, em tecnologia e em recursos humanos. Dessa forma, a realização de ações preventivas ficaria prejudicada.

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