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Instalada no número 2.425 da Avenida Visconde de Guarapuava há 23 anos, a indústria e comércio de telas Tecnotelas resistiu à turbulência de vários planos econômicos, à desvalorização da moeda e à alta carga de impostos. Mas o negócio do empresário Jefferson Slomp num dos mais tradicionais endereços de Curitiba não foi páreo para a última adversidade: o fim do estacionamento na Visconde de Guarapuava.

Em maio deste ano, Slomp baixou definitivamente as portas na Visconde e transformou a filial da Avenida Sete de Setembro em matriz. "Não tive alternativa. Em três meses o movimento caiu de 45% a 50%. Demiti oito funcionários, mudei o depósito da Visconde para São José dos Pinhais e deixei um espaço de 420 metros quadrados para um ponto de venda que não tem 50 metros quadrados", conta ele, com a voz embargada de quem viu perdido um trabalho de mais de duas décadas. "Até hoje é difícil de assimilar o que aconteceu", lamenta.

Faltavam poucos dias para o carnaval quando a prefeitura resolveu proibir a parada de veículos em 23 quadras da Visconde de Guarapuava, entre as ruas Ubaldino do Amaral (no Alto da XV) e Ângelo Sampaio (Batel). A repercussão foi imediata. Em uma semana, três protestos bloquearam o trânsito na avenida.

Mas a campanha de desobediência civil foi barrada pela Justiça quando a prefeitura conseguiu uma liminar para coibir as manifestações. Contida a resistência, cerca de 400 vagas para estacionamento de carro e motos foram eliminadas durante o feriado. Um nova pista de rolamento foi criada em cada uma das vias, totalizando seis faixas na avenida. Desde então, é proibido estacionar das 7 às 20 horas, de segunda a sexta-feira. Nos fins de semana o estacionamento é liberado.

Seis meses depois da medida da prefeitura que chocou o comércio local, o conflito deixou traumas e seqüelas difíceis de cicatrizar. "Perdi uma parcela muito grande de consumidores. A migração de clientes para a loja da Sete de Setembro não chega a 10%", explica Slomp.

Assim como a Tecnotelas, outras lojas fecharam ou mudaram de endereço para evitar a queda do faturamento. Não há uma contagem oficial, mas estima-se que até o mês passado pelo menos 20 pontos comerciais foram desativados. E outros comerciantes podem tomar o mesmo rumo. A empresária Rosilei Nunes da Rosa, proprietária da revenda Kareka’s Motos, viu cair pela metade as vendas de motocicletas desde que o estacionamento foi proibido e agora considera a possibilidade de sair da Visconde. "Já estou procurando um outro ponto porque do jeito que está não dá mais para continuar", afirma ela, que alterna momentos de revolta e conformismo. "Fazer o quê? O que não tem remédio, remediado está. E agora fica essa cambada [carros de candidatos] passando aí na frente toda hora, com o volume alto, pedindo voto para gente".

O maior impacto parece mesmo ter sido sobre o comércio de motocicletas. No Ceará Motos, o prejuízo varia de 30% a 40%, avalia o vendedor Dayran Magalhães Silva, sobrinho do proprietário. "Quem queria vender a moto e trazia para a gente dar uma olhada já não vem mais porque a moto não pode nem entrar dentro da loja que os guardas já estão multando. Esse cliente foi para outras lojas", diz. Apesar disso, fechar o negócio está fora de cogitação, pelo menos por hora. "O que a gente pensa é abrir uma filial e manter as duas ao mesmo tempo. Se a outra for melhor aí sim podemos até fechar essa da Visconde".

Para os comerciantes que ficaram, a saída foi fazer convênio com os estacionamentos particulares da avenida, os únicos que lucraram com a medida, embora eles próprios não admitam. "O movimento não cresceu muito não. Só os convênios que aumentaram uns 25%", diz Laércio de Souza, manobrista do Estacionamento Anel Central. O aumento, na verdade, foi superior a 50% – passou de sete para 11 lojas conveniadas. Em geral, os clientes podem estacionar por 30 minutos, período pago pelas lojas.

Recorrer ao convênio foi a saída encontrada pela farmácia de manipulação O Formulário, no mesmo endereço há 20 anos, que registrou uma queda de 20% a 30% no número de clientes, segundo a gerente Vânia Fávaro. "Temos contrato com três estacionamentos. Não fosse isso, a gente teria perdido muito mais clientes", afirma.

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