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O psiquiatra Dagoberto Requião, especialista em dependência química e diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz, explica que, das dezenas de substâncias tóxicas e irritantes encontradas no cigarro, o componente viciante é a nicotina – ao lado do alcatrão, ela ainda causa o maior estrago à saúde do fumante. E a dependência é mais forte que a causada, por exemplo, pelo álcool. Ele ilustra esse dado com um exemplo chocante: cenas como a de "O Informante", em que uma pessoa fuma pelo orifício da traqueotomia, não são invenções do cinema. "Eu mesmo já vi. Isso dá uma idéia de como é difícil parar de fumar", diz.

Embora a nicotina tenha propriedades de drogas estimulantes, a sensação que o fumante tem quando a fumaça chega ao sistema nervoso – o que leva 15 segundos – é de calma. Depois, a pessoa fica em estado de alerta. "A nicotina ativa certos ‘centros de recompensa’ do cérebro, proporcionando uma sensação de prazer", diz o médico. Enquanto isso, os ácinos, unidades funcionais dos pulmões onde é feita a oxigenação do sangue, são inutilizados aos poucos. Com o tempo, os bronquíolos, uma das últimas etapas do transporte do ar dentro do pulmão, também são obstruídos pelas substâncias do cigarro que se depositam. "A tosse e o chiado típicos dos fumantes são a tentativa do corpo de se livrar desses componentes e desbloquear as vias respiratórias", afirma Requião.

Os componentes do cigarro ainda provocam problemas cardiovasculares, estimulam a produção de ácidos que resultam em úlcera gástrica e destroem a elastina, causando enfisema pulmonar – a dificuldade de expandir o pulmão para receber o ar. O fumante passivo, que convive com quem fuma, pode ter os mesmos problemas de saúde, mas a nicotina jogada no ar com a fumaça não é suficiente para causar dependência.

Assim como não existe uma quantidade certa de cigarros para criar dependência, também não há um tempo certo para alguém deixar de fumar. "São raros os casos em que basta apenas largar o cigarro. Normalmente é como tirar antes da hora a muleta de quem quebrou a perna", compara o psiquiatra. Antidepressivos diminuem a compulsão causada pela ausência do fumo, e adesivos e chicletes de nicotina ajudam no processo. Requião cita o escritor norte-americano Mark Twain, que dizia "parar de fumar é fácil. Eu mesmo já parei umas mil vezes", para mencionar que, antes do controle definitivo da dependência, o ex-fumante tem, em média, 7 recaídas. "O importante é não desistir depois de uma delas", aconselha.

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