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Quando tinha 24 anos, a professora Iva Maria Costa Silva sentiu na pele o que é passar a madrugada em claro por causa de uma forte dor até então desconhecida. Levada ao pronto-socorro, ela recebeu o diagnóstico: artrite reumatóide (AR). "Foi um choque. Acreditava ser muito nova para ter uma doença como essa, mas hoje sei que não passa de mito a idéia de que problemas com artrite acometem somente pessoas idosas", diz.

A doença que Iva descobriu ainda jovem é conhecida como uma das mais comuns entre as classificadas auto-imunes. É considerada uma anormalidade nas defesas do sistema imunológico do organismo, que ao invés de produzir anticorpos favoráveis, produz anticorpos contra a pessoa. No caso da AR, provoca a inflamação das articulações.

Os sintomas eram até pouco tempo atrás confundidos com outras doenças articulares. De acordo com o reumatologista e professor Ricardo Machado Xavier, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRJ), o desconhecimento dos médicos levou muitos pacientes ao tratamento incorreto da doença. "Antes começava-se somente com medidas analgésicas para confortar a dor e diminuir o inchaço. Mas tomar antiinflamatórios só ameniza os primeiros sintomas, já que a evolução da deformidade permanece. Por isso a necessidade de um diagnóstico preciso e precoce", explica.

Além do inchaço, outros sintomas característicos são rigidez das articulações (principalmente pela manhã), fadiga, febre, desconforto, perda de peso e depressão, que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas. O reumatologista e professor do Hospital Universitário Pedro Ernesto, do Rio de Janeiro, Roger Levy, exemplifica no dia-a-dia alguns dos problemas. "Já tive pacientes que tomavam café com canudinho porque não conseguiam segurar uma xícara e uma jovem de 20 anos que só utilizava roupa indiana porque não era capaz de abotoar uma camisa. São casos avançados da doença em que as articulações foram parcialmente ou totalmente lesadas, o que não permite aos pacientes ter uma vida normal", diz Levy.

Embora não haja uma cura para a doença, até mesmo pelo fato de ser uma doença com causas desconhecidas, pesquisadores continuam a procurar tratamentos para além de aliviar as dores e a inflamação, retardar a progressão da artrite a tal ponto que ela não consiga mais obstruir ossos e cartilagens. Alguns especialistas arriscam afirmar que as causas são de fatores genéticos e ambientais, outros que existem hormônios no corpo do ser humano que inibem ou impulsionam a artrite, embora nenhuma das suposições tenha comprovação.

No Paraná, o Centro de Estudos de Terapias Inovadoras do Hospital de Clínicas (HC), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), vem realizando diversos experimentos em pacientes com a doença. De acordo com Sebastião Radominski, professor adjunto e chefe da especialização de reumatologia do HC, ainda é recente o uso de medicamentos eficazes, mas o tratamento precoce já é uma maneira de inibir a doença. "A idéia é criarmos uma forma de que o paciente chegue ao reumatologista antes da destruição das articulações, fato que ainda é raro de acontecer", enfatiza. Hoje, ele conta que somente no HC existem 400 pacientes com artrite reumatóide, mas a maioria em estágio avançado. "São poucas as pessoas que detectam a doença antes dela completar 2 anos, por isso a dificuldade por parte dos pesquisadores em encontrar as causas e a cura. Entretanto, pode-se considerar uma vitória se compararmos as formas de tratamento atuais com as encontradas há dez anos".

A repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite do laboratório Abbott para o 2.º Congresso Latino-Americano de Auto-Imunidade, entre 28 e 30 de abril.

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