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Uma obra de engenharia a serviço do crime. O túnel de 150 metros usado por criminosos para furtar R$ 27,7 milhões de uma empresa de valores no domingo passado (6) foi planejado em detalhes.

Dentro dele, é possível ver o fio de um interfone, usado por eles para se comunicar. Havia também iluminação. A escavação começa dentro de uma casa na Zona Oeste e passa por baixo de uma praça. Termina exatamente sob o cofre da empresa de transporte de valores.

Os criminosos levaram o dinheiro sem disparar o alarme e sem dar um único tiro. Segundo a polícia, o assalto, o maior da década no estado, foi planejado com antecedência. Há sete meses, a casa usada pela quadrilha foi comprada à vista. O valor indicado na escritura é R$ 80 mil, mas a polícia diz que foram pagos R$ 150 mil. O documento mostra que o comprador é um descendente de japoneses.

Segundo a polícia, os documentos apresentados por ele são falsos, inclusive o RG. As investigações mostram que ele tinha forte sotaque oriental e justificou o dinheiro como sendo ganho em trabalho no Japão. Ele não foi localizado até agora.

Os criminosos também enganaram a vizinhança, dando a entender que todos eram da mesma família. Um homem que fazia parte da quadrilha cumprimentava quem passasse na rua todos os dias. Uma mulher limpava a calçada também diariamente, para não levantar suspeitas.

Imagens exclusivas de dentro da casa revelam uma série de mudanças no local. A área de serviço, por exemplo, foi coberta. A reforma incluiu também a instalação de pequenas rampas, para facilitar o transporte de terra. Na parede, um desenho mostra detalhes da construção do túnel.

No porão da casa, é possível ver a abertura de quase um metro de diâmetro. Nos primeiros vinte metros de escavação, é preciso se agachar para conseguir passar. Há um forte cheiro de urina. Para evitar desabamentos, os criminosos usaram cimento misturado com areia e água.

Em alguns pontos, o túnel ainda é escorado por chapas de aço e madeira. Há até sistema de ventilação. Para o presidente do Crea-SP, José Tadeu da Silva, a estimativa é que a escavação tenha avançado um metro e meio por dia. Segundo ele, a tecnologia usada demonstra que não foi um trabalho de leigo.

Local estreito

Imagens da polícia um dia depois do roubo mostram lugares estreitos dentro do túnel. A casa e a empresa estão em linha reta, mas no caminho há um trecho de subida. Andar pelo túnel não é fácil. Há muito barro. De acordo com o presidente do Crea-SP, as partes molhadas mostram que foi usada água para amolecer a terra e continuar a escavação.

Para não errar o alvo, os criminosos ainda usaram um GPS, o aparelho de localização por satélite. "Foi feita uma série de cálculos com bastante precisão. Eles sabiam certinho qual era o desnível", diz Tadeu da Silva.

A única coisa que os vizinhos notavam era a música alta dentro da casa. Era mais uma estratégia para abafar o volume dos trabalhos.

Além do túnel usado para pegar o dinheiro do cofre, outro foi construído nos fundos da casa. Com cerca de 50 metros, ele ia em direção ao estacionamento. Era uma rota de fuga, que não precisou ser usada.

Segundo um funcionário do estacionamento, dois homens pediram uma vaga de mensalista, mas não havia mais. Eles decidiram, então, fechar o acordo para sábado e domingo, justamente o dia em que ocorreu o furto. O carro foi retirado do local momentos após a ação.

Há a suspeita de que o dia e o horário do assalto não tenham sido escolhidos ao acaso. Os seguranças da empresa dizem não ter ouvido o barulho apesar de um macaco hidráulico ter arrebentado o chão do cofre. O motivo: naquele momento ocorria a final do Campeonato Brasileiro.

Antes de fugir, a quadrilha ainda teve tempo de pintar quase toda a casa: janelas, pia, lâmpadas e até o assento do vaso sanitário. O objetivo: apagar todas as impressões digitais.

Prisões

Vinte e quatro horas depois do assalto, graças a uma denúncia anônima, policiais militares prenderam seis suspeitos de participação no crime. Três já tinham passagem pela polícia por roubo. Eles estavam em uma casa no Capão Redondo, na Zona Sul da capital.

Segundo os PMs, foram encontrados pés de cabra e carrinhos provavelmente usados para carregar o dinheiro. Um furgão, com notas fiscais da empresa, estava na garagem. O carro era visto com frequência na garagem da casa usada no assalto.

Apesar da prisão, só foram recuperados até agora R$ 1.300, praticamente nada perto da fortuna levada.

Os presos negam a participação no crime. E a polícia ainda precisa saber como eles sabiam que havia tanto dinheiro no dia e como sabiam o lugar exato do cofre.

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