
A percepção de que fechar uma área vulnerável nem sempre é o melhor caminho para protegê-la ganha cada vez mais força entre gestores e ambientalistas ainda mais quando os agentes da degradação (mesmo que involuntária) são as comunidades da região. Mas, é claro, permitir a visitação ou o turismo em áreas de proteção ambiental causa alguns incômodos, já que a presença de estranhos sempre tem impacto. Lixo, depredação e o hábito de levar "lembrancinhas" naturais para casa são exemplos. Por outro lado, a renda gerada pela atividade pode ser revertida para a preservação do meio ambiente e dar uma alternativa àqueles que vivem de extração ilegal.
A literatura especializada batiza com vários nomes, como ecoturismo, turismo sustentável ou de base comunitária, a prática baseada no mesmo princípio: buscar a conscientização do visitante para que ele se torne um preservador e o envolvimento das comunidades locais para formar uma espécie de "cerca viva", que cuida do meio ambiente porque é do seu melhor interesse. "Há uma mudança de mentalidade, principalmente entre os gestores públicos, de que abrir para uma atividade sustentável, como o turismo, vale a pena", diagnostica o doutor em Geografia Humana, Marcos Aurélio Tarlombani.
Mesmo a visitação, pura e simples, se bem administrada, já traz benefícios à área protegida. O Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, retira 40% do seu custo operacional das receitas com entrada. Além disso, a procura pelo local leva o poder público a investir mais em estrutura, como trilhas seguras e sanitários. "A demanda turística ajuda a fechar as contas ao mesmo tempo em que força mais investimento. Para minimizar o impacto do visitante são necessários equipamentos, ainda mais num local cheio de elementos vulneráveis como Vila Velha", sintetiza a coordenadora do Parque, Maria Ângela Dalcomune.
"Ainda não há um envolvimento suficiente da comunidade local porque é um processo demorado, que não dá retornos imediatos", pondera Tarlombani, que desenvolve, há mais de dez anos, uma pesquisa sobre a aplicação do ecoturismo no Paraná. A região mais avançada na adoção desse tipo de turismo, de acordo com o estudo do geógrafo, é o litoral do Paraná, uma vez que sua estrutura fundiária se baseia em pequenas propriedades.
Litoral
As ilhas paranaenses foram abarcadas há dois anos pela Cooperguará Ecotur cooperativa de moradores voltada ao turismo, que conta com o apoio da ONG SPVS. Entre outras funções, a iniciativa une duas atividades paralelas: o monitoramento, pela SPVS, das populações do papagaio-de-cara-roxa, ou chauá, ameaçado do extinção e os passeios para levar o turista para ver a revoada dos pássaros no fim da tarde, em Ilha Rasa, "bicos" de pescadores da Ilha de Superagui na temporada. "Com a parceria eles estão capacitados para fazer isso de forma a promover a preservação e podem oferecer um serviço diferenciado ao turista, unindo qualificação com conscientização", acredita o técnico da entidade, Marcelo Bosco Pinto.
A cooperativa promove uma articulação dos moradores e os serviços que cada um oferece, possibilitando a venda de pacotes turísticos completos. Desta forma, o turismo se tornou uma alternativa de renda a quem vivia da degradação e hoje é a principal atividade de muitas famílias. "O que acontecia aqui antes era a captura e o tráfico do papagaio, até que se percebeu que havia mais a ganhar deixando os pássaros livres", repassa a secretária-geral da organização, Sueli Alves. Outra atividade gradualmente abandonada pelas populações foi a criação de búfalos, que devasta a vegetação.
O pescador Nagib França, de 64 anos, decidiu há oito ocupar o tempo livre de sua "voadeira" com passeios turísticos. Hoje, ele se dedica exclusivamente a isso e conta com dois barcos com capacidade para 15 pessoas. Sua esposa, Lourdes Castanha, de 49 anos, viu a lanchonete na rua do trapiche encher ano a ano. "Sempre tem gente para levar. No verão chegam a ir para lá oito barcos, todos os dias", observa. Boa parte de seus clientes volta para passar a noite na pousada de Florisa Michaud do Rosário, de 48 anos. "Levamos três anos fazendo cursos para atender os turistas, mas valeu a pena, porque a pessoa que vem para cá, dorme e come aqui. E o primeiro contato geralmente é pela cooperativa", comenta.





