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Veja algumas ações fundamentais para que o turismo seja uma ferramenta para a preservação |
Veja algumas ações fundamentais para que o turismo seja uma ferramenta para a preservação| Foto:

Degradação

Sem um bom planejamento, abandono continua igual

Planejamento é essencial para tornar a procura turística uma ferramenta a favor da preservação ambiental e não, como geralmente se espera, um catalisador para a degradação local. A falta de coordenação e visão de futuro entre os agentes envolvidos na atividade pode gerar uma renda irrisória inicialmente, mas acarreta não só danos ambientais como sociais, com a expulsão das comunidades locais para a periferia e o estabelecimento de empresários estrangeiros.

"Só infraestrutura não adianta. Se abrir uma estrada, por exemplo, a população antes isolada vai explorar a mata de forma inadequada para poder usufruir das benesses que vêm pelo asfalto", alerta Leidi Takahashi, gerente de projetos ambientais da Fundação O Boticário.

Algo semelhante aconteceu com o Canyon Guartelá, nos Campos Gerais, durante a década de 80. A região, permeada por grandes propriedades rurais e poucas comunidades foi invadida por turistas que acorreram a pousadas e trilhas particulares. O cânion, o sexto maior do mundo, virou lata de lixo e chão de fogueira para muitos desses visitantes até que foi transformado em parque estadual e passou por uma limpeza.

Caminho diferente tomou Bonito, no Mato Grosso do Sul, apesar do crescente fluxo de turistas que fazem do município o primeiro destino ecoturístico do país. A região teve seu boom no início dos anos 90, com a popularização do turismo no Pantanal. A presença de uma área de proteção, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, facilitou que o poder público colocasse restrições à atividade, forçando, por exemplo, o aumento dos preços de estadia, para manter a procura sob controle.

"O impacto de simplesmente fechar a área sem conseguir fiscalizar ou abrir sem nenhum controle é o mesmo", considera o doutor em Gestão para Planejamento Sustentável, Carlos Sampaio. "O que devemos perceber é que não precisa de muita polícia ambiental, os próprios membros das comunidades nativas cuidam da vegetação se seu sustento depender disso", observa. (PC)

  • Cerca de 40% do custo operacional do Parque Estadual de Vila Velha é coberto pela receita obtida com o pagamento de entradas
  • No Litoral, ecoturismo ajuda na proteção do papagaio-de-cara-roxa

A percepção de que fechar uma área vulnerável nem sempre é o melhor caminho para protegê-la ganha cada vez mais força entre gestores e ambientalistas – ainda mais quando os agentes da degradação (mesmo que involuntária) são as comunidades da região. Mas, é claro, permitir a visitação ou o turismo em áreas de proteção ambiental causa alguns incômodos, já que a presença de estranhos sempre tem impacto. Lixo, depredação e o hábito de levar "lembrancinhas" naturais para casa são exemplos. Por outro lado, a renda gerada pela atividade pode ser revertida para a preservação do meio ambiente e dar uma alternativa àqueles que vivem de extração ilegal.

A literatura especializada batiza com vários nomes, como ecoturismo, turismo sustentável ou de base comunitária, a prática baseada no mesmo princípio: buscar a conscientização do visitante para que ele se torne um preservador e o envolvimento das comunidades locais para formar uma espécie de "cerca viva", que cuida do meio ambiente porque é do seu melhor interesse. "Há uma mudança de mentalidade, principalmente entre os gestores públicos, de que abrir para uma atividade sustentável, como o turismo, vale a pena", diagnostica o doutor em Geografia Humana, Marcos Aurélio Tar­lombani.

Mesmo a visitação, pura e simples, se bem administrada, já traz benefícios à área protegida. O Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, retira 40% do seu custo operacional das receitas com entrada. Além disso, a procura pelo local leva o poder público a investir mais em estrutura, como trilhas seguras e sanitários. "A demanda turística ajuda a fechar as contas ao mesmo tempo em que força mais investimento. Para minimizar o impacto do visitante são necessários equipamentos, ainda mais num local cheio de elementos vulneráveis como Vila Velha", sintetiza a coordenadora do Parque, Maria Ângela Dalcomune.

"Ainda não há um envolvimento suficiente da comunidade local porque é um processo demorado, que não dá retornos imediatos", pondera Tarlombani, que desenvolve, há mais de dez anos, uma pesquisa sobre a aplicação do ecoturismo no Paraná. A região mais avançada na adoção desse tipo de turismo, de acordo com o estudo do geógrafo, é o litoral do Paraná, uma vez que sua estrutura fundiária se baseia em pequenas propriedades.

Litoral

As ilhas paranaenses foram abarcadas há dois anos pela Cooper­guará Ecotur – cooperativa de moradores voltada ao turismo, que conta com o apoio da ONG SPVS. Entre outras funções, a iniciativa une duas atividades paralelas: o monitoramento, pela SPVS, das populações do papagaio-de-cara-roxa, ou chauá, ameaçado do extinção e os passeios para levar o turista para ver a revoada dos pássaros no fim da tarde, em Ilha Rasa, "bicos" de pescadores da Ilha de Superagui na temporada. "Com a parceria eles estão capacitados para fazer isso de forma a promover a preservação e podem oferecer um serviço diferenciado ao turista, unindo qualificação com conscientização", acredita o técnico da entidade, Marcelo Bosco Pinto.

A cooperativa promove uma articulação dos moradores e os serviços que cada um oferece, possibilitando a venda de pacotes turísticos completos. Desta forma, o turismo se tornou uma alternativa de renda a quem vivia da degradação e hoje é a principal atividade de muitas famílias. "O que acontecia aqui antes era a captura e o tráfico do papagaio, até que se percebeu que havia mais a ganhar deixando os pássaros livres", repassa a secretária-geral da organização, Sueli Alves. Outra atividade gradualmente abandonada pelas populações foi a criação de búfalos, que devasta a vegetação.

O pescador Nagib França, de 64 anos, decidiu há oito ocupar o tempo livre de sua "voadeira" com passeios turísticos. Hoje, ele se dedica exclusivamente a isso e conta com dois barcos com capacidade para 15 pessoas. Sua esposa, Lourdes Castanha, de 49 anos, viu a lanchonete na rua do trapiche encher ano a ano. "Sempre tem gente para levar. No verão chegam a ir para lá oito barcos, todos os dias", observa. Boa parte de seus clientes volta para passar a noite na pousada de Florisa Michaud do Rosário, de 48 anos. "Levamos três anos fazendo cursos para atender os turistas, mas valeu a pena, porque a pessoa que vem para cá, dorme e come aqui. E o primeiro contato geralmente é pela cooperativa", comenta.

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