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 | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Origem

Antonio Parolin construiu a casa "com as próprias mãos"

Foi Antonio Parolin quem construiu a casa, com a madeira abundante que existia na região e, como todo bom imigrante, com sua própria serraria montada de maneira artesanal. Ele era o proprietário do imóvel. Mas a fazenda, de 100 alqueires, pertencia aos três irmãos. Antonio viveu na residência até morrer, em 1962, aos 90 anos. Duas filhas dele, Otília e Iolanda, moraram na casa, depois disso, até por volta da década de 1990. No início dos anos 2000 o imóvel foi vendido.

Os três irmãos migraram ao Brasil por volta de 1888 e conseguiram comprar áreas no atual Parolin e construir a chácara numa época em que a região não tinha mais de 10 mil habitantes.

Com o loteamento do espaço, já nos anos 70, os irmãos se separaram. Antonio ficou na residência, mas João foi para o Umbará, onde instalou uma olaria. Já Bortolo montou serrarias e outros ramos industriais pela cidade.

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Parece que ainda é possível ouvir os gritos das mulheres vindos da cozinha em dia de jogo do Atlético. É que as nove damas, filhas de Antonio e Maria, eram fanáticas pelo Rubro-Negro que tinha, entre os jogadores, o cunhado Ceccattinho. Quando a bola entrava em campo, os homens iam para a casa do tio Piti, enquanto elas, durante os 90 minutos, se apinhavam na cozinha para torcer e cuidar do doce de goiabada que dava ponto no tacho de cobre. A vida na casa da chácara, como era chamado carinhosamente o casarão Parolin pelos seus proprietários, reproduzia fielmente as tradições da imigração italiana no Brasil da metade do século 19. Toda a família se reunia ao redor da mesa, numa grande cozinha que existia como se fosse um anexo do lar. Era ampla para carnear o gado e o porco, mas também para elas, juntas, ouvirem o rádio enquanto alguma coisa assava no forno à lenha.

A casa, construída no início do século 20 pelas mãos de Antonio Parolin, era a sede de uma fazenda que deu início à colonização naquela região. E o que não faltava no fogão era pinhão na chapa ou cozido em água salgada. Laís, a neta de Antonio e Maria e filha de Ceccattinho, lembra. "Se o sertão era o mundo para Guimarães Rosa, a chácara do meu avô era o meu mundo", diz, sorrindo. Que o diga o cavalo velho de nome Tostado, que era feito de gato e sapato pelas meninas do Parolin. Travesseiro servia de sela e algum cordão achado em casa era o arreio. "São tempos que não existem mais. As galinhas eram criadas soltas e nós íamos procurar os ovos que elas botavam por todo aquele terreno." O local tinha 100 alqueires de área e, quando começou a ser loteado, por aclamação popular, passou a se chamar Vila Parolin em homenagem a Antonio e Maria e seus 16 filhos. O próprio tombamento estadual da casa, na década de 1990, chegou a relatar que as características arquitetônicas eram modestas, mas que o reconhecimento histórico se justificava pela importância que ela teve ao bairro e também para a indústria paranaense: Antonio e os dois irmãos, João e Bortolo, foram grandes empresários da madeira e da olaria.

Strauss e coquinhos

Há ainda uma peculiaridade: do sótão habitável da casa, dava para ver a cidade a partir de um dos três óculos da fachada (buraco arredondado feito para ventilar a casa naturalmente). A vida que não existe mais também está marcada em resquícios no chão do antigo jardim geométrico, onde as meninas dançavam alegremente valsas de Strauss. Entre uma música e outra saboreavam os coquinhos do butiazeiro ainda em riste no terreno.

Todas essas histórias perdem seu sentido facilmente para quem passa hoje pela Rua Brigadeiro Franco e enxerga de longe uma casa morta, com portas e janelas cimentadas. A ação tem justificativa: o imóvel poderia não existir mais se não fosse a ação da Grande Loja Maçônica do Paraná, atual proprietária do espaço. A parte interna, que tinha chão, escada e sótão habitável de madeira, se perdeu com o fogo feito pelos moradores de rua. Por sorte grande, foi nas mãos do próprio Templo Maçom que a residência agora será restaurada para virar sede administrativa e um museu particular.

Restauração vai se basear em fotos antigas

Está nas mãos do arquiteto Dirceu Contti restaurar e recriar o que foi um dia o Casarão Parolin. Ele começa o restauro neste ano e, para conseguir reproduzir o que era a casa por dentro, recorreu às lembranças familiares e às fotografias antigas. "Não existe mais nada no interior. Consegui entrar uma vez pelo telhado e o que sobrou foi chão batido e um monte de fezes de pomba", conta. Dirceu conseguiu visualizar como era a escada de madeira por meio de uma foto antiga. Ele também descobriu que os lambrequins (que adornam o beiral) não são originais e, o pior: os que existem hoje estão colocados de maneira errada (ao invés de ficarem em pé, estão de lado).

As divisões internas de alvenaria ainda existem, assim como a fachada, que continua original. As janelas têm duas folhas, já que não havia cortinas naquela época. Existem também os três óculos e uma pequena parte do que foi a cozinha anexa à casa.

Só o sótão tinha 83 m² e abrigava, de um lado, um enorme quarto para os meninos e, do outro, o das meninas. "Era uma casa típica de bairro europeu. Burguesa, mas de periferia, distante do centro", explica Contti.

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