
O jornalista Eduardo Bueno, conhecido como Peninha, diz que não imaginaria fazer um livro de história sem "figurinhas". A verdade é que seu novo livro Brasil: uma história cinco séculos de um país em construção traz nada mais que 1,1 mil imagens e iconografias da História brasileira que nenhuma outra obra nacional, em apenas um volume, conseguiu reunir até agora. Tem pintura de índio deitado, dançando ou só de rosto. Imagens de personalidades que todo brasileiro já ouviu falar aos montes nas aulas de História, mas que dificilmente identificaria em uma foto. Você seria capaz de descrever como era o patrono da Marinha, o almirante Tamandaré, ou qual era a fisionomia do engenheiro Euclides da Cunha, que descreveu a Guerra de Canudos em seu livro Os Sertões?Fácil é lembrar da imagem do gordinho dom João VI, dos óculos pretos do ex-presidente Jânio Quadros e da barba comprida de Tiradentes. Mas também há controvérsias. O símbolo brasileiro de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é pura invenção. Os retratos que temos dele são fictícios e poucos documentos que falam sobre sua imagem dizem que ele era feio e espantado, como o caracterizou Alvarenga Peixoto durante o seu julgamento. Bueno lembra no livro que o depoimento do frei Penaforte indicava que Tiradentes foi conduzido ao patíbulo com a barba e a cabeça raspadas. Esses fatos, porém, foram ignorados porque não faziam parte do processo de mitificação do herói que ficou mais parecido mesmo é com a imagem de Jesus Cristo.
E o que falar de um artista que esculpiu diversos rostos mas que ninguém, até hoje, saberia descrever com certeza como era o dele? Aleijadinho é uma incógnita para a iconografia brasileira, apesar de uma lei municipal de 1971 ter dado a ele o retrato oficial que está reproduzido nesta página como o próprio Bueno escreve, são feições que não condizem com descrições de Aleijadinho feitas muito anteriormente. "A história também se faz com registro iconográfico. Vivemos em uma época de tanto impacto visual por causa de televisão e da internet que não penso em fazer livros de história sem figurinhas. As novas gerações vivem um mundo de grande incentivo visual", explica Bueno.
A grande aposta de Peninha, na terceira reedição de seu livro, foi fazer, nas últimas páginas, uma iconografia comentada. "Digo que a história é uma fabricação porque é feita com base em documentos que precisam ser interpretados. As fotos também o são. O ângulo da imagem, a pose de quem é fotografado, tudo isso é uma fabricação. Sem contar com as pinturas que realmente foram encomendadas para não representar efetivamente a realidade (como o quadro do Grito da Independência)", afirma.
Em termos pictóricos, Bueno afirma que tem uma queda maior pelas pinturas feitas a pedido do conde Maurício de Nassau, governador do Brasil holandês. "Ele chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para pagar as pinturas. É um dos momentos mais incríveis do país porque Nassau teve o fascínio de registrar um Brasil que nunca tinha sido mostrado até então", diz. E há uma explicação histórica para isso. Segundo Peninha,os portugueses fizeram questão de não divulgar o Brasil ao mundo não por ignorância, mas porque este ato poderia despertar cobiça, ou seja, havia uma preocupação em não mostrar o país para não atrair outros exploradores. Ao desembarcar no Recife, Nassau trouxe uma comitiva com 46 artistas e cientistas e os encarregou de catalogar, pintar, estudar e preservar plantas e animais do Novo Mundo. Entre os pintores de Nassau estavam Frans Post e Albert Eckhout o livro de Peninha traz quatro páginas só sobre este assunto (com ilustrações, claro).






