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“Se um segurança ou professor tivesse me dito algo, eu humildemente voltaria para casa e trocaria de roupa”, Geisy Arruda, em entrevista coletiva no escritório de seus advogados | Marlene Bergamo/Folha Imagem
“Se um segurança ou professor tivesse me dito algo, eu humildemente voltaria para casa e trocaria de roupa”, Geisy Arruda, em entrevista coletiva no escritório de seus advogados| Foto: Marlene Bergamo/Folha Imagem

Mais de 13 mil comentários no Twitter

Na internet, a decisão da Uniban de expulsar Geisy Arruda também causou grande repercussão. O serviço de microblog Twitter chegou a registrar mais de 500 mensagens por hora com protestos de internautas – até a tarde de ontem, cerca de 13 mil comentários sobre a atitude da universidade, grande parte de repúdio, já haviam sido postados. Em tom de piada, eles associam o nome da instituição ao grupo ultraconservador Taleban e dizem que o trabalho com maior adrenalina do mundo é o de assessor de imprensa da universidade. Em alguns comentários os internautas mostram a imagem de uma burka, roupa usada por mulheres que vivem em algumas sociedades muçulmanas, e dizem que este é o novo uniforme dos estudantes. Ontem também já circulavam abaixo-assinados on-line contra a universidade e no Orkut foram criadas seis comunidades com o nome da garota. Uma delas já tinha mais de 300 pessoas.

Paola Carriel

São Paulo - A repercussão negativa da expulsão da aluna Geisy Arruda fez o reitor e dono da Universidade Bandeirante (Uniban), Heitor Pinto Filho, revogar a decisão no início da noite de ontem. A decisão foi tomada depois de um dia inteiro de discussões com as áreas de comunicação e publicidade da instituição.

No dia 22 de outubro Geisy, que foi para a aula do curso de Turismo trajando um minivestido rosa, foi xingada de prostituta e ameaçada de estupro por colegas. Recebeu críticas de funcionários, foi obrigada a vestir um jaleco branco e teve de ser retirada da universidade sob escolta da Polícia Militar. No sábado passado, a instituição anunciou sua expulsão alegando "flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade". Os estudantes que agrediram a universitária foram suspensos.

Conforme havia prometido, o Ministério da Educação pediu explicações ontem à instituição. Também o Ministério Público Federal e a delegacia da mulher de São Bernardo do Campo anunciaram a abertura de apurações sobre a medida, criticada por senadores, deputados e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A reportagem apurou que, apesar de a expulsão ter sido atribuída em nota ao conselho superior da unidade, ela teria partido do próprio reitor, descrito por funcionários como um administrador centralizador que com frequência ignora sugestões dos seus conselheiros.

Ontem, no entanto, o dirigente resolveu voltar atrás, avaliando que teria ocorrido um grande prejuízo à imagem da universidade. Segundo a presidente do conselho de comunicação da Uniban, Mariana Alencar, filha do reitor, as explicações sobre a revogação só serão apresentadas hoje, durante entrevista coletiva do vice-reitor Ellis Brown.

Controvérsia

De acordo com pessoas que participaram das discussões sobre o futuro da estudante, Pinto Filho, na semana passada, rechaçou com irritação a sugestão das áreas de comunicação e publicidade da universidade para manter a aluna e realizar seminários sobre cidadania.

Figura controversa no meio universitário, o reitor é descrito ainda como administrador "intempestivo", cujas decisões variam segundo o humor, de acordo com pessoas que o auxiliam.

O reitor foi militante do então partido Arena, durante a ditadura, no bairro de Santana, berço da universidade. Ele se graduou em Direito na PUC de São Paulo e ainda antes de terminar o curso investiu recursos da família na compra de escolas da região, que foram o embrião da Uniban. Em 2002 Pinto Filho foi candidato a vice-governador do Estado de São Paulo, na chapa do hoje deputado federal Paulo Maluf, com quem mantém laços próximos até hoje.

Coletiva

Com maquiagem e cabelos impecáveis, vestida com blusa vermelha floral e calça jeans justa, Geisy participou ontem de uma entrevista coletiva no escritório de seus advogados, para anunciar o posicionamento dos advogados e da estudante sobre a expulsão. A notícia da revogação da decisão da Uniban só foi divulgada no início da noite.

Cercada por sete advogados dentro de uma sala abafada e lotada de jornalistas, no Centro de São Paulo, Geisy se emocionou ao falar sobre a humilhação que sofreu. Segundo ela, a nota da Uniban que anunciava a expulsão relata fatos opostos ao que ela depôs na sindicância. "É uma grande mentira que eu levantei a saia", conta. Geisy nega que tenha "desfilado" na rampa da faculdade e diz que nunca foi orientada pela faculdade a mudar seu jeito de vestir. "Se um segurança ou professor tivesse me dito algo, eu humildemente voltaria para casa e trocaria de roupa."

Ela afirma que quer voltar à Uniban para concluir pelo menos o semestre, para não perder o investimento que seu pai fez ao pagar as mensalidades.

Ontem, um inquérito foi aberto na Delegacia da Mulher de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

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