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Transferência  movimentou cerca de R$ 60 milhões em 2010: bom negócio para a cidade e para o setor imobiliário | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Transferência movimentou cerca de R$ 60 milhões em 2010: bom negócio para a cidade e para o setor imobiliário| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Ferramenta

Simulador na internet

Para facilitar a vida dos empresários do setor imobiliário, a prefeitura de Curitiba disponibiliza um simulador de potencial construtivo no site www.curitiba.pr.gov.br. Formatado em uma planilha de Excel, o sistema ajuda a definir o melhor uso e aquisição de potencial construtivo na capital, via consulta de dados como metragem, zoneamento e tipo de uso da edificação.

De acordo com a prefeitura, o sistema foi criado para agilizar um processo que levava dias para ser concluído. Com o simulador, é possível calcular o potencial de solo criado, transferência de potencial de unidade de interesse de preservação e do programa especial de governo. O simulador também verifica se a legislação autoriza o uso do potencial construtivo na região solicitada.

Qualquer pessoa pode acessar a ferramenta. Para isso é preciso ter o número da identificação fiscal – uma espécie de RG do terreno – e as informações contidas na guia amarela, baixada no mesmo site.

Copa 2014

Conclusão da Arena popularizou o termo

Embora antigo, o termo "potencial construtivo" ganhou popularidade no ano passado, quando a prefeitura buscava uma alternativa para viabilizar a Copa do Mundo em Curitiba. Sem recursos para reformar o Estádio Joaquim Américo – a Arena da Baixada –, a solução encontrada foi repassar R$ 90 milhões em potencial construtivo para o Clube Atlético Paranaense, proprietário do estádio.

A medida foi duramente criticada na ocasião. O temor era que o derramamento de títulos de potencial construtivo provocasse deságio, o que poderia prejudicar, por exemplo, programas para a construção de casas populares e creches. A prefeitura rebateu as críticas, afirmando que o montante do potencial criado para finalizar a Arena não corresponderia a 20% do total disponível atualmente. Além disso, não causaria impacto nas fatias destinadas à manutenção de áreas verdes, do patrimônio histórico, de desapropriação e de fundo de habitação.

Em outubro de 2010, os vereadores aprovaram, por 26 votos a 2, o uso do potencial construtivo para terminar o estádio. Na próxima segunda-feira, uma reunião na sede do Atlético definirá como ele será usado.

A oferta de potencial construtivo pela prefeitura de Curitiba cresceu 125% nos últimos quatro anos. Só em 2010, 153 mil metros quadrados foram cedidos. Usado desde a década de 1980 e inserido em 2000 no Plano Diretor Muni­­cipal, o instrumento permite que uma empresa construa, por exemplo, um edifício mais alto e com maior área em regiões determinadas pela Lei de Zoneamento e Uso do Solo Urbano em troca de um repasse em dinheiro a uma uma obra de interesse público, como a restauração de prédios históricos ou de valor cultural e social ou a preservação de uma área verde.

Só no ano passado, as transferências geraram uma movimentação financeira de aproximadamente R$ 60 milhões, o que ajudou a viabilizar reformas e obras de manutenção na Catedral Basílica, na Sociedade Garibaldi e na Casa do Estudante Univer­­sitário. Atualmente, 90% das construções e ampliações de prédios na capital paranaense usam o potencial construtivo, de acordo com a prefeitura.

Para o superintendente de projetos da Secretaria Municipal de Urbanismo, Roberto Marangon, o crescimento da oferta é uma evidência de que o instrumento de política urbana está totalmente difundido e assimilado no meio empresarial da construção civil. "Ele é naturalmente incorporado nos estudos de viabilidade econômica dos empreendimentos", diz

A previsão da prefeitura e do setor imobiliário é que o uso do potencial construtivo cresça ainda mais. Até maio deste ano, 110,7 mil metros quadrados já foram cedidos. "A opção dos empresários pela aquisição de potencial construtivo se deve à crescente escassez de áreas disponíveis para construção no município e a viabilidade econômica verificada na utilização deste instrumento", afirma.

Benefícios

Em Curitiba, existem diferentes tipos de potencial construtivo. Eles se dividem em uso habitacional, áreas verdes, prédios históricos e especiais, como as edificações de preservação especial (imóveis considerados ícones históricos na cidade). Para cada tipo de uso, diferentes cálculos são realizados para definir o coeficiente de aproveitamento do solo em metros quadrados ou em número de pavimentos.

De acordo com a arquiteta do plantão técnico do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Mariane Romeiro, existem várias formas de adquirir o potencial. Dá para comprar diretamente da prefeitura, da Companhia de Habitação de Cu­­ritiba (Cohab) ou de terceiros, como proprietários de imóveis tombados.

Segundo ela, em todos os casos, existe vantagem para o empresário do setor imobiliário. "O potencial sempre foi um bom negócio, desde que se pesquise bem, analise as fontes e veja qual opção se adequa melhor ao empreendimento. Dificilmente as construtoras, mesmo as pequenas, constroem sem avaliar a possibilidade de potencial construtivo. É muito vantajoso e lucrativo", argumenta.

Para prefeitura e sociedade, o potencial ajuda a financiar obras e recuperar o patrimônio. É o caso da Rua da Cidadania que será construída no bairro Tatuquara. Orçada em R$ 20 milhões, a obra será financiada com dinheiro adquirido via transferência de potencial construtivo. "É um instrumento muito interessante. Você pode induzir o crescimento de uma determinada região e ainda ajuda a preservar bens históricos e naturais da cidade", diz Carlos Hardt, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Mecanismo também tem efeito colateral

Nem todos os aspectos que envolvem o potencial construtivo são positivos. Na opinião do professor e arquiteto Fábio Duarte, diretor do doutorado em gestão urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), quando uma área recebe muito potencial, consequentemente ganha mais moradores, que demandam mais infraestrutura, como água, luz, transporte público.

Para Duarte, a solução mais adequada seria que parte do recurso fosse destinada para o bairro ou região em que o potencial foi utilizado. "Com o adensamento populacional, aumenta a demanda por infraestrutura de trânsito, por exemplo. São mais carros circulando", diz. "A solução seria destinar parte do dinheiro para obras públicas, restauração e outra parte para investir na própria região", complementa.

Quando o potencial é concedido incontrolavelmente, sem qualquer planejamento, ele se torna nocivo, comenta o especialista. "É perigoso não fazer um planejamento adequado antes de transferir potencial construtivo. É fundamental que o poder público planeje o setor de acordo com o contingente de população. É necessário prever o acréscimo populacional", defende.

A prefeitura de Curitiba afirma que este risco não existe. Segundo Roberto Marangon, da Secretaria Municipal de Urbanismo, o uso do potencial construtivo é definido por uma legislação específica, que determina as zonas urbanas passíveis de acréscimo de área de construção, assim como os limites deste acréscimo. O benefício só é concedido para áreas preparadas para crescer. "A definição é realizada com base em estudos técnicos que determinam as regiões ou eixos de adensamento em função da infraestrutura urbana implantada", ex­­plica.

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