
O ambiente tomado pelo perfume não deixa dúvidas: é tarde de terça-feira, dia de baile da terceira idade no Clube Dom Pedro II, no bairro Rebouças, em Curitiba. As mesas estão ocupadas pelos cativos freqüentadores, que se revezam também em outros salões de dança da cidade. Para acompanhar o repertório clássico da banda, senhores e senhoras não economizam em elegância: cabelo arrumado, maquiagem, terno e camisa bem passados, vestido e salto alto. "Os rapazes preferem dançar com quem usa vestido", ensina Altina Rocha, 71 anos, professora de Educação Física aposentada.
Muito alinhada em um modelo vermelho, com pulseiras, bolsa e sapatos combinando, ela dá dicas preciosas para quem pretende dançar a tarde toda. "Não pode recusar um par, senão um conta para o outro e ninguém mais te convida. Se não for o parceiro que você gostaria, dá uma volta no salão, reclama de uma dorzinha no joelho e volta para a mesa." Altina e as amigas vão ao baile do Dom Pedro II toda semana. Mas também rodopiam em outros salões, como a maioria dos que vão ao Dom Pedro.
Maria Bassan, de 73 anos, e João Barbosa, 83, dançam juntos há sete anos. Viúvos, se conheceram na Universal e toda semana comparecem aos bailes. "Trago até um sapato extra, caso o meu comece a machucar. Nasci dançando. Ouço música e me dá cosquinhas nos pés", brinca Maria. O casal é especialista em tango. "São dois pés-de-valsa", entrega a amiga Maria Zeneide, de 58 anos, arrastada para o baile pela dupla. A tarde de música e dança é um refresco na rotina de Zeneide. "Me sinto uma adolescente fugindo dos pais para se divertir", conta a dama de companhia, em dia de folga das tarefas domésticas e dos cuidados de uma senhora de 89 anos.
Durante os bailes, há quem não dê folga aos calcanhares. Elenice Lins, de 70 anos, sai suada da pista depois de dançar cinco músicas seguidas, dos mais diversos ritmos e com diferentes pares. "Todo baile é diferente. A música, o clima, as pessoas, a gente mesmo. O gostoso é a expectativa do encontro", diz. Elenice é daquelas que investe na produção para freqüentar o baile. Compra roupa, sapato, capricha no visual. E não esquenta cadeira. "Quando não me tiram, vou lá e chamo. Tenho maturidade até para aceitar um não", explica.
Roupa alinhada e muita disposição para riscar o salão fazem parte do "modus operandi" de Valdir Arantes, 72 anos, o Salgadinho. Viúvo, ele conta que sempre foi freqüentador de bailes, inclusive quando a companheira era viva uma exceção à regra, já que muitos casados vão ao clube sem as esposas ou só retomam o hábito depois da viuvez. "Ela era uma excelente dançarina", suspira. Salgadinho justifica os quatro bailes por semana como orientação médica. Depois de um enfarte aos 59 anos, ele precisou escolher uma atividade física. "O médico sugeriu a natação. Mas só gosto de água do chuveiro. Então vim dançar." A receita deu certo. Há 16 anos Salgadinho não coloca um medicamento na boca e vai muito bem de saúde, obrigado. O figurino impecável tem uma boa justificativa: "Se elas podem se produzir, a gente também pode, não é? Estou aqui para acompanhar as damas".
Engana-se quem pensa que o clima dos bailes para terceira idade é carregado de melancolia, de gente que vive no passado e tenta resgatar algo perdido na juventude. A animação está em toda parte e continua quando a banda pára, garantem os participantes. "Deixo a tristeza do lado de fora e me divirto. Quando saio, ela cansou de esperar e foi embora", ensina Altina Rocha, a dama de vermelho.







