Paraná também tem coqueirais
Em pouco tempo, pode ser que a origem do coco consumido por aqui mude. Isso porque duas regiões do Paraná já começam a produzir as primeiras levas da fruta: Morretes, no Litoral, e Diamante do Norte, no Noroeste do estado. Há 10 anos, uma parceria da Emater com a Embrapa levou as primeiras mudas para os locais e instalou duas unidades técnicas de pesquisa, de 4 hectares cada uma, onde as plantas passam por uma espécie de teste de viabilidade.
No Noroeste, que também abrange Colorado e Maringá, há cultivo em grande escala, mas no Litoral a produção ainda é doméstica.
De acordo com o coordenador estadual de Plantas Potenciais, Medicinais e Aromáticas da Emater, Cirino Corrêa Júnior, a plantação nessas regiões é viável, desde que seguidos alguns critérios. "Tem de ser plantado em locais protegidos por morros, longe da orla, pois o vento forte pode queimar as folhas. A planta precisa de clima quente, pois abaixo de 15ºC a atividade metabólica cessa." A diferença de temperatura é notada na produtividade: no Nordeste, onde é mais quente, cada pé produz por ano cinco cachos com cerca de 150 cocos cada um, contra apenas dois no Paraná.
O coordenador ainda é cético em relação à produção no Litoral, onde o clima não é sempre propício, mas, caso se viabilize, pode ajudar a diminuir o preço do coco.
Matinhos - Você já parou para pensar de onde vem a água de coco gelada que se consome na beira-mar? A Gazeta do Povo pesquisou o trajeto da fruta para descobrir por onde ela passa até chegar à orla paranaense. Da origem até o destino, são quase três mil quilômetros percorridos e paradas em pelo menos quatro estados.
A origem
Um passeio pela orla em busca de respostas sobre a origem do coco rende alguns palpites certeiros: "Deve vir lá do Nordeste". É isso mesmo. O coco que se consome em Matinhos vem de lá, mais especificamente de Juazeiro (BA). O homem responsável por abastecer os veranistas é o produtor Clayton Luiz Silva e Souza, há 13 anos no ramo. A cada três dias, durante a temporada, Clayton despacha um caminhão com 6,5 mil cocos, ao custo de R$ 0,91 cada um, em direção a Matinhos. Ele conta que na fazenda de três hectares é possível colher até 20 mil cocos a cada 35 dias. "É uma planta abençoada por Deus, mas o cultivo depende de um bom sistema de irrigação e adubação", diz.
Para o bem dos negócios, Clayton não atende mais de um cliente por cidade. "Senão, um reclama que o coco que eu mando para o outro é melhor, e isso gera problemas." Ele também não descuida da qualidade do produto, afinal, a concorrência é grande e o coco é a estrela da região. E, no fim da conversa, quando perguntado se, além de vender, aprecia a fruta que produz, Clayton responde categórico: "Tomo [água de] até três cocos por dia. Como colhemos a fruta bem cedo, ela ainda está gelada por causa do orvalho. É refrescante e faz bem à saúde."
Distribuição
Todo início de temporada, Denílson Batista, um dos proprietários da distribuidora Rei dos Cocos, empresa de Curitiba com filial em Matinhos, precisa correr para Juazeiro. A viagem é uma estratégia comercial, e se engana quem pensa que o objetivo é só chorar por um desconto. "Isso a gente também faz, mas nem sempre consegue", brinca. "A viagem é para garantir a mercadoria, pois nesta época a demanda é grande." A certeza de que o coco virá só acontece mesmo quando chegam os quatro caminhões aguardados a cada três dias no Natal, réveillon e carnaval. Além de Juazeiro, Denilson também mantém negócios com fazendas de
Itabuna e Ilhéus (BA)
Com as frutas por aqui, chega a hora de fazer a distribuição para os cerca de 70 clientes. Em dias normais, um ambulante encomenda por dia uma média de 30 cocos, número que pode subir no Natal, réveillon e carnaval. Cinco entregadores de bicicleta ficam de prontidão para, ao longo da temporada, distribuir juntos até 250 mil cocos pela orla.
Só na simpatia
Quem vende a fruta sabe que o segredo é cativar o cliente, uma vez que o preço costuma ser salgado e a procura nem sempre é grande em dias normais, não passam de 60 cocos, ou uma pessoa procurando o produto a cada 24 minutos. É o que contam os ambulantes Dorival Rangel Ribeiro, de 68 anos, na lida desde 1970, e Elielza Bispo dos Santos, mais conhecida como Dona Jô, nas areias desde 1987. Difícil encontrar veranistas da Praia Mansa ou da Praia Brava de Caiobá que não conheçam os dois.
Depois que o coco chega a Matinhos, um entregador leva o produto até os dois e fica à espera de um telefonema para que renove o pedido. "No réveillon, vendi mais de 200. Com sol forte e praia lotada vende mais", conta dona Jô, que vende a unidade a R$ 3,50. Apesar de a fruta não ser páreo para a cerveja e o refrigerante, os tempos estão melhores. Seu Dorival, que vende o coco a R$ 4, lembra da época em que o pai começou a vender o produto: "Não existia refrigerador. Ele pegava um tambor, enchia de gelo e colocava os cocos lá".
Clientes assíduos de seu Dorival, Ricardo Torres Dias, 29 anos, estudante de Medicina Veterinária, e Ana Flávia Ramalho, 28, assistente social, acertaram o palpite sobre a origem do coco que acabaram de comprar. "Nordeste?", arrisca Ricardo. Se bem que o coco poderia ter vindo da cidade natal da dupla, Colorado, no Noroeste do estado. Por lá, começam a ser produzidos os primeiros cocos para comercialização e, segundo Ana Flávia, o preço no mercado da cidade não passa de R$ 1. "Brincamos com o seu Dorival que vamos encher a nossa caminhonete com uns três mil cocos e trazer para ele no ano que vem."
-
Energia nuclear “de bolso”: Brasil quer testar pequenos reatores, a nova aposta do setor
-
A magistocracia: Lula ressuscitará “saidinhas” e crime de “fake news” no STF
-
“Deus nos escolheu”, diz Tarcísio na Marcha para Jesus, e pede orações
-
Ministros e assessores do TCU gastam R$ 3,5 milhões com viagens internacionais
Deixe sua opinião