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Paraná também tem coqueirais

Em pouco tempo, pode ser que a origem do coco consumido por aqui mude. Isso porque duas regiões do Paraná já começam a produzir as primeiras levas da fruta: Morretes, no Litoral, e Diamante do Norte, no Noroeste do estado. Há 10 anos, uma parceria da Emater com a Embrapa levou as primeiras mudas para os locais e instalou duas unidades técnicas de pesquisa, de 4 hectares cada uma, onde as plantas passam por uma espécie de teste de viabilidade.

No Noroeste, que também abrange Colorado e Maringá, há cultivo em grande escala, mas no Litoral a produção ainda é doméstica.

De acordo com o coordenador estadual de Plantas Potenciais, Medicinais e Aromáticas da Emater, Cirino Corrêa Júnior, a plantação nessas regiões é viável, desde que seguidos alguns critérios. "Tem de ser plantado em locais protegidos por morros, longe da orla, pois o vento forte pode queimar as folhas. A planta precisa de clima quente, pois abaixo de 15ºC a atividade metabólica cessa." A diferença de temperatura é notada na produtividade: no Nordeste, onde é mais quente, cada pé produz por ano cinco cachos com cerca de 150 cocos cada um, contra apenas dois no Paraná.

O coordenador ainda é cético em relação à produção no Litoral, onde o clima não é sempre propício, mas, caso se viabilize, pode ajudar a diminuir o preço do coco.

  • Vendedor de coco há 40 anos, Dorival Rangel Ribeiro diz que boa conversa e amizade com veranistas compensam o preço da fruta
  • Veja o caminho que percorre o coco até chegar no Paraná

Matinhos - Você já parou para pensar de onde vem a água de coco gelada que se consome na beira-mar? A Gazeta do Povo pesquisou o trajeto da fruta para descobrir por onde ela passa até chegar à orla paranaense. Da origem até o destino, são quase três mil quilômetros percorridos e paradas em pelo menos quatro estados.

A origem

Um passeio pela orla em busca de respostas sobre a origem do coco rende alguns palpites certeiros: "Deve vir lá do Nordeste". É isso mesmo. O coco que se consome em Matinhos vem de lá, mais especificamente de Juazeiro (BA). O homem responsável por abastecer os veranistas é o produtor Clayton Luiz Silva e Souza, há 13 anos no ramo. A cada três dias, durante a temporada, Clayton despacha um caminhão com 6,5 mil cocos, ao custo de R$ 0,91 cada um, em direção a Matinhos. Ele conta que na fazenda de três hectares é possível colher até 20 mil cocos a cada 35 dias. "É uma planta abençoada por Deus, mas o cultivo depende de um bom sistema de irrigação e adubação", diz.

Para o bem dos negócios, Clay­ton não atende mais de um cliente por cidade. "Senão, um reclama que o coco que eu mando para o outro é melhor, e isso gera problemas." Ele também não descuida da qualidade do produto, afinal, a concorrência é grande e o coco é a estrela da região. E, no fim da conversa, quando perguntado se, além de vender, aprecia a fruta que produz, Clayton responde categórico: "Tomo [água de] até três cocos por dia. Como colhemos a fruta bem cedo, ela ainda está gelada por causa do orvalho. É refrescante e faz bem à saúde."

Distribuição

Todo início de temporada, Deníl­son Batista, um dos proprietários da distribuidora Rei dos Cocos, empresa de Curitiba com filial em Matinhos, precisa correr para Juazeiro. A viagem é uma estratégia comercial, e se engana quem pensa que o objetivo é só chorar por um desconto. "Isso a gente também faz, mas nem sempre consegue", brinca. "A viagem é para garantir a mercadoria, pois nesta época a demanda é grande." A certeza de que o coco virá só acontece mesmo quando chegam os quatro caminhões aguardados a cada três dias no Natal, réveillon e carnaval. Além de Juazeiro, Denilson também mantém negócios com fazendas de

Itabuna e Ilhéus (BA)

Com as frutas por aqui, chega a hora de fazer a distribuição para os cerca de 70 clientes. Em dias normais, um ambulante encomenda por dia uma média de 30 cocos, número que pode subir no Natal, réveillon e carnaval. Cinco entregadores de bicicleta ficam de prontidão para, ao longo da temporada, distribuir juntos até 250 mil cocos pela orla.

Só na simpatia

Quem vende a fruta sabe que o segredo é cativar o cliente, uma vez que o preço costuma ser salgado e a procura nem sempre é grande – em dias normais, não passam de 60 cocos, ou uma pessoa procurando o produto a cada 24 minutos. É o que contam os ambulantes Dorival Rangel Ribeiro, de 68 anos, na lida desde 1970, e Elielza Bispo dos Santos, mais conhecida como Dona Jô, nas areias desde 1987. Difícil en­­contrar veranistas da Praia Mansa ou da Praia Brava de Caiobá que não conheçam os dois.

Depois que o coco chega a Ma­­tinhos, um entregador leva o produto até os dois – e fica à espera de um telefonema para que renove o pedido. "No réveillon, vendi mais de 200. Com sol forte e praia lotada vende mais", conta dona Jô, que vende a unidade a R$ 3,50. Apesar de a fruta não ser páreo para a cerveja e o refrigerante, os tempos estão melhores. Seu Do­­rival, que vende o coco a R$ 4, lembra da época em que o pai começou a vender o produto: "Não existia refrigerador. Ele pegava um tambor, enchia de gelo e colocava os cocos lá".

Clientes assíduos de seu Dori­val, Ricardo Torres Dias, 29 anos, estudante de Medicina Veteriná­ria, e Ana Flávia Ramalho, 28, assistente social, acertaram o palpite sobre a origem do coco que acabaram de comprar. "Nordes­te?", arrisca Ricardo. Se bem que o coco poderia ter vindo da cidade natal da dupla, Colorado, no No­­roeste do estado. Por lá, começam a ser produzidos os primeiros cocos para comercialização e, segundo Ana Flávia, o preço no mercado da cidade não passa de R$ 1. "Brincamos com o seu Do­­rival que vamos encher a nossa caminhonete com uns três mil cocos e trazer para ele no ano que vem."

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