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A estudante Jaqueline Oliveira dos Santos percebeu as manchas vermelhas na pele no segundo dia em que estava na praia | Hedeson Alves / Gazeta do Povo
A estudante Jaqueline Oliveira dos Santos percebeu as manchas vermelhas na pele no segundo dia em que estava na praia| Foto: Hedeson Alves / Gazeta do Povo

Principal cuidado deve ser os olhos

As pessoas que se deparam com a mariposa precisam proteger os olhos, pois a substância cantaridina pode causar inflamação."As mariposas não atacam as pessoas. Elas são atraídas pela luz e ficam desnorteadas. E, ao voar, colidem com as pessoas e liberam a cantaridina", afirma o chefe do Serviço de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, o médico Luiz Carlos Pereira.

Pereira explica que o problema mais grave que pode ocorrer é a inflamação nos olhos e, se isso ocorrer, será necessário consultar um especialista. Com relação à pele, a irritação pode ser combatida com antialérgicos e anti-inflamatórios. A orientação do dermatologista é para que o veranista não se automedique . "Deve-se procurar um médico para ter a prescrição correta", afirma Pereira.

O médico disse que nunca atendeu uma pessoa com reação alérgica intensa, como um choque anafilático (quando há trancamento da glote e taquicardia, podendo até levar a morte), causado por mariposas. O dermatologista explica que a pessoa precisaria ter entrado em contato com a substância anteriormente e passado por uma reação alérgica. Nesse caso o organismo produz anticorpo. No segundo contato com cantaridina, poderá ter reação alérgica mais grave. "Mesmo assim a possibilidade de um choque anafilático é raríssima", argumenta Pereira.

Para que o veranista não entre em contato com a mariposa, é aconselhável instalar telas nas janelas e portas. Se o inseto já estiver na casa, a pessoa pode utilizar repelentes para eliminá-las. Também pode-se afastá-la ao apagar a luz. No caso de um passeio pelas ruas das cidades litorâneas, utilize óculos de sol ou de grau, chapéus para evitar que cantaridina entre em contato com os olhos.

A invasão de mariposas no Litoral do Paraná tem preocupado os veranistas. Só em Matinhos estão sendo feitos entre 80 e 90 atendimentos médicos por dia de pessoas que tiveram problemas de pele por contato com o inseto, segundo o diretor-geral do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, Luiz Antônio do Nascimento. Dos cerca de 200 atendimentos feitos no hospital só na terça-feira, 130 eram dessa natureza.

Em 14 dias (de 4 a 17 de de­­zembro), foram registrados 1.206 casos em Matinhos, Pontal do Paraná, Paranaguá, Antonina e Morretes, segundo a 1.ª Re­­gional de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde. Os dados de Guaratuba e Gua­raqueçaba ainda não haviam sido contabilizados.

O pó liberado quando o inseto bate as asas é chamado cantaridina e causa irritação na pele e nos olhos. Os insetos são atraídos pela luz, aparecem à noite e costumam voar nas proximidades das lâmpadas. A mariposa Hylesia é a que tem sido encontrada no Litoral.

Até 17 de dezembro, metade dos casos ocorreu em Matinhos (600). Em Pontal do Paraná foram 490 casos e em Paranaguá, 79, no mesmo período. Além desses, foram 26 registros em Antonina e 14 em Morretes.

No último final de semana, cerca de 150 pessoas procuraram atendimento médico em Pontal do Paraná após o contato com o pó da mariposa.

Uma das veranistas que tiveram irritação na pele foi a estudante Jaqueline Oliveira dos Santos, 14 anos. Ela chegou à praia na segunda-feira e já na terça acordou com os dois braços tomados por manchas vermelhas, como bolinhas. A dermatite atingiu também as mãos e os pés, porém, em menor proporção. "Havia uma ou outra mariposa perto de casa, mas não muitas". Ela não se lembra de ter entrado diretamente em contato com o inseto. "Sou alérgica a insetos, mas nunca chegou a esse ponto. "Coça muito. É horrível!", afirma a estudante. Ela procurou o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos, na tarde de ontem. A recomendação médica é de que, em hipótese alguma, a pessoa coce o local irritado.

Nascimento afirmou que no máximo em 10 dias o surto deve terminar, pois o ciclo de reprodução do inseto chegará ao fim. Segundo ele, não houve casos graves, apenas extensões variadas de lesão de pele.

Causas

Uma das hipóteses para o surto levantadas pelo biólogo Janael Ricetti, professor do curso de Gestão Ambiental da Fa­­culdade Evangélica do Paraná e doutorando do programa de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é de que o desmatamento no Litoral contribui para a presença do inseto.

O biólogo também afirmou que o grande número de mariposas é por causa do ciclo de reprodução do inseto. "É co­­mum que esses animais se re­­produzam intensamente no fim da primavera e início do verão", explica Ricetti.

A terceira hipótese levantada pelo biólogo é de que esses insetos tenham se reproduzido em áreas de Mata Atlântica e se espelhado pelo Litoral. "No Brasil, o local onde há maior quantidade de insetos é na Mata Atlântica", afirma Ricetti.

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