Ouça este conteúdo
Este conteúdo foi corrigido
O vereador Renato Freitas, do PT, liderou uma invasão da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Curitiba, neste sábado (5), logo após a missa das 17 horas. Dezenas de pessoas, com bandeiras do PT e do PCB, entraram à força no templo e começaram a gritar palavras como "racistas" e "fascistas".
>> Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram
Leia também: “Temos o direito de ter paz para fazer nossas celebrações”, diz padre de igreja invadida
Ao entrar na igreja, Freitas fez um discurso dizendo, perto do altar, que os católicos tinham apoiado um "policial que está no poder". Para ele, os assassinatos de pessoas como Moïse Mugenyi e Durval Teófilo Filho teriam relação com a conivência das pessoas com fé católica a autoridades "fascistas". Apesar de não estar provado que a principal causa das mortes de Mugenyi e Teófilo Filho seria a cor da pele, Freitas anunciou que eles teriam morrido pela existência de um suposto "racismo estrutural".
De acordo com o artigo 208 do Código Penal brasileiro, escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso; ou ainda impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso são considerados crimes contra o sentimento religioso. A pena prevista é de detenção de um mês a um ano, ou ainda pagamento de multa. Quando há emprego de violência, a pena pode ser aumentada em um terço.
Na manha desta segunda-feira (07), a Arquidiocese de Curitiba divulgou uma nota oficial sobre o incidente, sem informar se irá processar os organizadores do ato. Assinada pelo arcebispo dom José Antonio Peruzzo, o texto considera a ação dos manifestantes como "agressividades e ofensas". A nota ainda ressalta que "a posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa".
Veja abaixo a íntegra da nota:
Nota da Arquidiocese de Curitiba sobre a manifestação ocorrida dentro da Igreja do Rosário
No dia 05 de fevereiro, em torno das 17.00hs, um grupo apresentou-se junto à porta da Igreja do Rosário, para protestar contra a violência havida no estado do Rio de Janeiro, cujo desdobramento final foi a morte de um cidadão congolês e, em outro caso, a morte de um brasileiro afrodescendente. Era no mesmo horário da celebração da Missa. Solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.
É verdade que a questão racial no Brasil ainda requer muita reflexão e análises honestas, que promovam políticas públicas com vistas a contemplar a igualdade dos direitos de todos. Mas não é menos verdadeiro que a justiça e a paz nunca serão alcançados com destemperos ou impulsividades desequilibradas.
Desde a sua primeira inauguração, em 1737, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos sempre foi um lugar de veneração e de celebração da fé. Foram os escravos a edificá-la. Hoje, muitos afrodescendentes, a visitam. E o fazem em grupos ou individualmente. Sempre primaram pelo profundo respeito, até mesmo quando não católicos.
Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem as estimulou.
A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer “politizar”, “partidarizar” ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo.
Curitiba, 07 de fevereiro de 2022.
Dom José Antonio Peruzzo
Arcebispo
Outro lado
Depois da repercussão desta notícia, o vereador Renato Freitas publicou uma nota confirmando ter feito o protesto em memória e por justiça pelas mortes de Moïse Mugenyi e Durval Teófilo Filho. De acordo com Freitas, durante manifestação realizada em frente ao templo, "um diácono responsável pela igreja, solicitou que os manifestantes fossem para outro local, sob a justificativa de que o ato não deveria coincidir com a saída dos religiosos da missa que havia se encerrado". Na verdade, o vereador se equivocou: a missa estava começando.
"Como parte simbólica da manifestação, entramos juntos na Igreja que estava vazia, de forma pacífica, relembrando que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida", escreveu Freitas. Por outro lado, as imagens do protesto mostram que a igreja não estava vazia, havia fiéis para a assistência da missa e o local foi invadido, impedindo a celebração.
Já os diretórios do Partido dos Trabalhadores do Paraná e de Curitiba divulgaram nota conjunta e afirmaram que o partido “não participou da decisão momentânea de adentrar o templo religioso, assim como não fazia parte da coordenação do ato”. As informações sobre a manifestação petista foram publicadas pelo colunista Roger Pereira, da Gazeta do Povo.
VEJA TAMBÉM:
- Igreja Universal afirma que cristãos não devem compactuar com ideias esquerdistas
- Lula orienta PT a criar núcleos evangélicos e partido quer construir “interpretação” da Bíblia
- Por que as igrejas cristãs são alvos de ataques da extrema-esquerda?
- A CNBB é de esquerda? Ela representa a Igreja Católica?
- O que ainda há de católico nas PUCs?
O vereador Renato Freitas e seu grupo atrapalharam a missa desde o início, às 17 horas, mas só invadiram o recinto após o término da cerimônia. Na versão original desta notícia, estava escrito que a missa teria sido interrompida.
Corrigido em 31/05/2022 às 09:18