
O corpo de Osíris Del Corso, o estudante de 22 anos assassinado neste fim de semana no Morro do Boi, em Caiobá, foi enterrado ontem. No mesmo dia, a família de sua namorada, uma jovem de 23 anos, baleada e estuprada pelo mesmo homem que matou Osíris, soube que ela provavelmente nunca mais voltará a andar. Um dos tiros acertou a coluna e ela tem grandes chances de ficar paraplégica.
Parentes e amigos dos dois repetiam ontem que não sabiam como isso pôde acontecer a eles. E pediam que o responsável por encerrar abruptamente os projetos dos dois seja punido. Até agora, a polícia não sabe quem foi o homem que levou os dois até uma gruta perto da Praia dos Amores a principal pista já encontrada é um pedaço de camisa achado no local.
A família de Osíris enfrentou a dor da perda em silêncio. O enterro foi feito apenas com a presença de amigos e colegas do garoto a entrada de repórteres e de fotógrafos foi proibida. Amigos prometeram cuidar de alguns dos projetos do estudante. E projetos não faltavam para Osíris.
Eleito Embaixador da Paz pelo Rotaract, grupo de jovens do Rotary Clube, Osíris era tido como alguém que não sabia dizer não. Um dos seus últimos atos foi a criação de uma biblioteca itinerante para as crianças carentes do Uberaba e da Vila das Torres. O estudante arrecadou 800 livros com empresas e voluntários. Nos últimos dias, o rapaz e a namorada tentavam angariar dinheiro em eventos para comprar uma caminhonete, que seria transformada em biblioteca ambulante.
No último Natal, o casal e os amigos rotarianos compraram 500 panetones que foram distribuídos para os carrinheiros da Vila das Torres. Era Osíris também quem encabeçava o projeto de compra de leite do grupo: os produtos são doados para uma casa que atende portadores do vírus da aids.
No próximo domingo, os companheiros do Rotaract vão sair às ruas para protestar contra a violência sofrida por Osíris e pela namorada. Eles saem, às 10 horas, da Praça Santos Andrade até o Largo da Ordem.
"Ele era um idealista e, acima de tudo, um grande homem", diz o amigo de infância Rafael Wowk. O primo Jansen Maia Del Corso lembra de Osíris como o adolescente que fazia muito pelos outros. "Queremos um mundo melhor. Nossa família é assim."
Força
O gosto pela natureza e pela solidarieridade uniu Osíris e sua namorada, que se conheceram no Rotaract há quatro anos. Antes do crime, a moça morava sozinha em uma casa seu hobby era criar passarinhos no pátio, soltos, fora de gaiolas. Agora, com a possibilidade da paraplegia, a família pensa que ela pode ser obrigada a mudar de cidade, para morar com a mãe em João Pessoa, na Paraíba.
A estudante, que cursa três faculdades ao mesmo tempo, nasceu em Dourados, Mato Grosso do Sul, mas veio para Curitiba ainda pequena. Morava com o pai até um ano atrás, quando ele teve de voltar para Dourados a negócios.
O pai disse que vai respeitar a decisão dela, mas o quadro médico não é animador. "É difícil olhar os cômodos, que estão cheios de lembranças", diz o pai sobre a casa da filha. "Ela tem fotos do Osíris por todos os cantos. A moto dele estava na garagem até hoje (ontem). Ele era um bom rapaz", afirma.
O pai da garota já faz planos para construir uma casa adaptada à realidade da filha. Ela foi atingida por um tiro que afetou a coluna e a medula óssea o que pode comprometer os movimentos das pernas. Havia esperanças de que, após a sedação, a jovem voltasse a movimentar as pernas. Mas o pai já recebeu a notícia dos médicos de que há quase 100% de chances de ela ter parte dos movimentos comprometidos. Os médicos ainda não confirmam a hipótese de a jovem ficar paraplégica.
Apesar disso, o quadro de saúde dela é estável. Ela continua sedada para descansar e respira com a ajuda de aparelhos. O Hospital Vita, onde ela está internada, promete publicar, dentro de 24 horas, um boletim médico com a avaliação neurológica definitiva sobre possíveis lesões. Amigos visitaram a adolescente ontem. O pai diz que pretende fazer parte da passeata de domingo, para tentar pôr para fora um grito de esperança e justiça. "Vou tentar ir. Mas tenho de reunir mais forças. Não tem sido fácil."



