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O paranaense Elói Joaquim dos Santos observa o que restou do seu caminhão queimado por criminosos: 15 ataques já foram registrados em Joinville | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
O paranaense Elói Joaquim dos Santos observa o que restou do seu caminhão queimado por criminosos: 15 ataques já foram registrados em Joinville| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Consequências

Síndrome do medo paira sobre a população

Ao olhar as marcas deixadas no asfalto causadas pelo incêndio a um ônibus no bairro Fátima, de Joinville, uma comerciante revela que tem passado noites insone desde o ocorrido, no último dia 1.º. Com medo de ter o nome divulgado, ela afirma que chegou a sofrer ameaças de morte. Isso porque permitiu que os bombeiros usassem água de seu estabelecimento para apagar as chamas. "Você não sabe o que estou passando", fala, com a voz embargada. A parede de sua loja foi pichada com a sigla "PGC", que significa Primeiro Grupo Catarinense – a facção criminosa que está por trás da maioria dos atentados.

Aos 24 anos e pai de uma menina de 4 anos, Leandro de Souza não tem medo de confirmar que vive com o ‘pé atrás’. "Sempre que pego um ônibus tenho medo de bandidos entrarem e colocarem fogo. É horrível viver assim", diz. Sensação semelhante à do motorista de ônibus Moacir Frias. "A gente deixa a família para trabalhar, mas não sabe se retorna", conta.

Cadê a paz?

Morando há um ano em Joinville, Vicente Moscatelli, de 56 anos, está surpreso com a onda de violência na cidade. Natural de São Paulo, ele acreditou que viveria em paz longe da metrópole paulistana. Agora vê a insegurança que o assombrou no passado persegui-lo mais uma vez. "Voltei a viver à mercê do medo. Medo de usar transporte coletivo, de sair nas ruas, de tudo. Vivemos um conflito social que não tem fim", ressalta Vicente. (DA)

  • Policiais militares se preparam para mais uma noite de serviço: tensão nos olhos e nos gestos
  • Marcos da Silva mostra o carro danificado em um incêndio:
  • Rosa teve o carro queimado durante a noite em Garuva
  • Elói Santos observa os estragos causados pelo incêndio criminoso em seu caminhão
  • Parede de estabelecimento comercial de Joinville pichado com a sigla ‘PGC’ (Primeiro Grupo Catarinense), facção criminosa do estado vizinho
  • Central de monitoramento do Batalhão da Zona Norte da Polícia Militar de Joinville
  • Policiais militares fazem a segurança em terminal de ônibus de Joinville
  • Viatura da PM faz escolta de ônibus do transporte público da cidade

O marchar de 73 pares de botas ecoam pelo batalhão da Polícia Militar na Zona Norte de Joinville – a cidade mais atingida pelos atentados criminosos que assolam Santa Catarina desde o último dia 30. A tensão está nos olhos e nos gestos de cada um dos PMs. Agrupados, eles ouvem atentamente cada recomendação do comandante da operação, tenente Ruy Teixeira Júnior. "Usem o colete antibalístico. Temos que ter todo o cuidado para pôr um basta nesses atentados", brada o oficial.

FOTOS: Confira imagens dos atentados em Joinville

Dos 83 ataques registrados no estado, 15 ocorreram na maior cidade catarinense, que tem aproximadamente 526 mil habitantes. São ônibus e outros veículos queimados, tiros disparados contra a casa de policiais e delegacias, e até pedras arremessadas contra os coletivos. A violência obrigou a adoção de um esquema especial de policiamento. O governo de Santa Catarina anunciou a transferência de 20 presos para penitenciárias federais.

Madrugada

Com os giroflex ligados, as viaturas enfileiradas em frente ao batalhão saem uma a uma para seus destinos. A operação começa todos os dias por volta das 20 horas e invade a madrugada. Ônibus são escoltados pela PM até as 7 horas do dia seguinte e os terminais rodoviários recebem atenção especial. "Também realizamos barreiras surpresas em diferentes pontos da cidade, para flagrar qualquer atitude suspeita", ressalta Ruy. Oficialmente as operações policiais devem seguir até Quarta-Feira de Cinzas, mas poderão ser prorrogadas caso a onda de violência continue.

Histórias de medo

A forte presença policial nas ruas leva um pouco mais de segurança para pessoas como o paranaense Elói Joaquim dos Santos, 52 anos, pai de nove filhos e natural de Campo Largo. Em Joinville há 20 anos, o empresário foi vítima direta dos ataques. Há três meses, deixou um dos seus seis caminhões estacionado na frente da casa onde mora, na Vila Nova. Sem bateria e necessitando de reparos, o veículo foi "encostado".

Na última semana, ele foi surpreendido com o caminhão em chamas. "Não pode ter sido um curto-circuito porque não tinha bateria", diz, sem esconder o medo de novos ataques. "A gente tem receio de que nossos outros caminhões possam ser alvos desses bandidos", comenta.

Prejuízo

No Jardim Iririú, um ônibus foi incendiado na semana passada e por pouco o fogo não atingiu uma mercearia e uma residência. Mas um carro que estava próximo não escapou. Dono do estabelecimento comercial, Marcos da Silva, 59 anos, lamenta o estrago em seu Fusca. "Estava consertando aos poucos. Agora perdi tudo", diz. As rodas e a pintura do veículo sofreram avarias que dificilmente serão revertidas. "Nunca vi a cidade tão violenta como agora."

Devido ao calor do fogo, a casa de Lindomar Mariotti teve os portões chamuscados e o forro da garagem chegou a ceder. Para evitar o pior, ele passou a madrugada jogando água na residência. "A sensação que temos é de insegurança e de medo", resume.

Atentados chegam à divisa com o Paraná

A 38 quilômetros de Join­­­­ville, na cidade de Garuva, um Santana Quantum foi incendiado na oitava noite de ataques. Segundo a proprietária Rosa Leandro, de 68 anos, o fogo começou após os criminosos terem quebrado o vidro do carro com uma pedra e lançado para dentro do veículo um recipiente de vidro com gasolina. "Os policiais recolheram esse material. Nunca imaginei que ia ver isso acontecer na cidade", diz. Para piorar a situação, dos R$ 18 mil financiados para pagar o automóvel, ainda restam quatro prestações de R$ 420. "Perdemos todo nosso investimento", lamenta Rosa. Esse foi o único atentado registrado em Garuva, município de 14 mil moradores que é passagem obrigatória de paranaenses que seguem para as praias de Guaratuba e Itapoá via BR-376. (DA)

Número de atentados em Santa Catarina chegou a 83

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