
Os jantares com as amigas não seriam os mesmos na casa de Regina Zilber, de 75 anos, se ela morasse junto com a família. Dificilmente ela e a filha, que é sua vizinha em um condomínio fechado no Bom Retiro, em Curitiba, conciliariam os horários dos lanches e encontros dessa comerciante aposentada. Há dez anos, ela decidiu, em acordo com os parentes, ter o seu próprio cantinho. E é isso que lhe garante a autonomia necessária para administrar a própria rotina, seja para receber visitas ou decidir se e quando vai assistir ao programa de televisão favorito.
A infra-estrutura de Regina é a que os especialistas consideram ideal para idosos que moram sozinhos. Além da filha-vizinha, ela tem empregada, carro e motorista. Cumpre uma agenda intensa de compromissos cursos, encontros, viagens, como a que faz neste momento para Paris mas não descuida da saúde. "Faço tratamento de osteoporose e sou rigorosa na minha alimentação. Morar sozinha é tudo de bom", ensina.
Regina vivia em São Paulo e veio para Curitiba depois da morte do marido. Morou um ano com a filha, depois partiu para a "carreira-solo" de dona de casa. "Casei muito cedo, aos 18 anos, e sempre vivi com a minha família. Aos poucos, fui conquistando minha liberdade. Os filhos se preocupam, mas entendem", diz. Regina tem um casal de filhos e três netos.
Iguais a ela, mais de 1 milhão de idosos em todo o país decidiram morar sozinhos entre 1996 e 2006, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de solitários na faixa etária acima de 60 anos cresceu em média 70%, enquanto que a média nacional da população em geral foi de 83%. O aumento da expectativa de vida e a viuvez ajudam a explicar esse aumento, segundo o analista do instituto, Luís Alceu Paganotto.
Apoio emocional e estrutura adequada são alguns dos suportes necessários para o idoso conquistar sua independência. Quando opta por morar sozinho, esses fatores são ainda mais importantes para garantir inclusive sua segurança física e saúde mental. "É preciso ficar atento ao convívio social. Para não correr o risco de isolamento, o idoso precisa participar de atividades de convivência e manter contato permanente com a família", aponta o psicólogo gerontólogo Guilherme Falcão, presidente da área de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Paraná (SBGG-PR). "A socialização também é aliada para reduzir sintomas de doenças. O idoso que mora só não pode restringir as atividades aos programas de tevê", lembra.
A condição de morador solitário é cada vez mais comum entre os idosos. Famílias menores onde os filhos não são mais a única opção de cuidadores e as boas condições de saúde de quem alcança os 60 anos influenciam na decisão, já que doenças crônicas podem ser controladas. Se o indivíduo goza de boa saúde e autonomia em tarefas domésticas para manter a organização da rotina, como alimentação e tratamentos médicos, não há contra-indicações. O que não pode acontecer é relaxar no preparo das refeições, negligenciando a alimentação com comida instantânea ou esquecer o uso dos medicamentos, consultas médicas e terapias. "Sempre há risco de desnutrição por causa da restrição de padrões alimentares", aponta o médico geriatra Rodolfo Augusto Alves Pedrão, presidente da SBGG-PR.
Ambientes seguros e monitorados ajudam no controle do dia-a-dia e garantem mais segurança. O perigo de quedas que causam fraturas de difícil recuperação está em objetos simples dentro de casa, como tapetes e fios. "A rede de suporte é fundamental para acionar parentes em caso de emergência e salvar a vida dele quando ocorre algum acidente mais grave dentro de casa", diz Pedrão.




