
Eles iniciam a abordagem sempre com a mesma frase: "Boa noite amigo, tudo bem por aí?" É assim que deve ser, sem maiores surpresas, porque um educador social nunca sabe o que vai encontrar embaixo do cobertor de um morador de rua. As luvas usadas para o manuseio são finas as mesmas utilizadas pelos médicos e servem como ferramenta para evitar contaminação. Mesmo assim, elas não protegem de um possível incidente com uma faca ou qualquer objeto cortante.
Na noite da última terça-feira, a dupla Elaine e Tito foi uma das escolhidas para trabalhar na missão de tirar as pessoas das ruas de Curitiba. Era uma noite chuvosa, o que de certa forma facilitou o trabalho. "Quando chove, conseguimos convencer com mais facilidade a pessoa a ir para o albergue. A mesma coisa ocorre quando a noite está mais fria ", conta Elaine Murmel Lopes, que trabalha há 13 anos na Fundação de Ação Social (FAS) e está há três anos no Resgate Social.
A Kombi que leva a dupla e o motorista é como coração de mãe: tem lugar para todo mundo. E é aí que mora o perigo: estes trabalhadores estão suscetíveis a pegar várias doenças, inclusive a tuberculose. "Tem de gostar do que faz, senão a pessoa desiste logo", afirma Tito de Souza Santos Júnior, que trabalha há 16 anos na FAS e há sete anos está no Resgate. Uma das regras que se aprende é estar atento a quem senta no banco de trás. "Já tivemos casos em que a pessoa tentou nos atacar. Por isso é bom sentar meio de lado e prestar atenção", diz Elaine.
Eles não revelam o salário que recebem o que poderia justificar tanto sacrifício , mas afirmam que a remuneração já foi melhor. "Para ser educador social é preciso ter o segundo grau. Quando você começa a trabalhar recebe diversos cursos, incluindo primeiros socorros", explica Elaine. Também não podem faltar cursos de autoestima, porque o trabalho se renova quase que diariamente. Afinal, o morador de rua que Elaine e Tito recolheram ontem, hoje pode estar novamente nas ruas em situação ainda pior. "Nosso trabalho não funciona na pressão. Não obrigamos ninguém a entrar na Kombi, pelo contrário, a missão é tentar criar vínculo com estes moradores para que eles confiem em nosso trabalho e, quem sabe um dia, consigam abandonar de vez a rua", afirma Tito. (PM)



