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A Zombie Walk já virou tradição no carnaval de Curitiba. A caminhada dos "mortos-vivos" curiosamente dá um pouco de vida à cidade, que pareceria mais vazia nesse período. Assim que a brincadeira se encerra e as ruas voltam a ficar semidesertas, no entanto, é possível ver que a capital é território de um grupo esparso, mas que parece cada vez maior, de pessoas que poderiam ser chamadas de zumbis da vida real: "noias" do crack, drogaditos, alcoólatras sem-teto, mendigos, andarilhos, desajustados.

Cada sociedade cria seus próprios monstros, que expressam os medos daquela época. Zumbis são recentes no imaginário popular. Há várias formas de interpretar o que os mortos-vivos representam. Por exemplo: o temor de que uma doença contagiosa infecte a humanidade, levando à luta entre doentes e sãos (algumas histórias da ficção falam que a origem dos mortos-vivos seria um vírus).

Também é possível vê-los como um retrato da ameaça que a sociedade civilizada sente em relação àqueles para quem a razão não parece mais fazer sentido. Afinal, zumbis não agem com a razão, mas sim como animais desesperados em busca de alimento.

Para quem está do lado de cá, na civilização, moradores de rua parecem ter perdido a racionalidade. É difícil enxergar uma razão que justifique esse modo de viver – que para muitos é uma semivida. Também é difícil entender por que muitos não lutam para deixar essa condição. Essa incompreensão produz insegurança. São pessoas que parecem não ter nada a perder – como os zumbis da ficção.

Não é segredo que a sociedade teme a presença daqueles que, à margem dos costumes civilizados, povoam ruas das grandes cidades. Provavelmente uma parcela da fascinação que o carro exerce está relacionada a esse medo. O automóvel evita o contato; dá sensação de isolamento dentro da "armadura metálica". Faz até mesmo com que a presença desses "zumbis" seja esquecida. Ainda assim, eles estão por aí todos os dias. E é justamente quando a cidade se recolhe dentro de suas casas – à noite, nos feriados e fins de semana – que se percebe mais sua presença. Afinal, eles não têm uma residência para onde ir.

Ignorá-los não os fará desaparecer. São uma multidão, ainda que esparsa. Representam um sinal do mal-estar do mundo atual. E isso não é nenhuma brincadeira.

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