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10,1 mil eleitores

possui a cidade de Marmeleiro, no Sudoeste do Paraná. O município é o maior colégio eleitoral entre os que têm apenas um candidato a prefeito.

1,4 mil votantes

estão registrados no município de Jardim Olinda, no Noroeste do Paraná. É o com menor colégio eleitoral entre as cidades paranaenses com candidatura única.

Em 18 dos 399 municípios do Paraná não haverá disputa na eleição deste ano para prefeito. Nessas cidades, há apenas um candidato. O estado é o terceiro com maior número de candidaturas únicas do país, segundo o DivulgaCand, sistema gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que acompanha o registro de concorrentes nas eleições municipais.

O Paraná tem a mesma quantidade de cidades com chapa única que o estado de São Paulo, que tem 645 municípios. Paraná e São Paulo só perdem para Minas Gerais (com 21 candidaturas únicas entre 853 prefeituras) e para o Rio Grande do Sul (com 19 chapas solitárias nas 497 cidades). Em todo o Brasil, dos 5,5 mil municípios, em 112 municípios não haverá competição na eleição para a prefeitura. Esses números, porém, ainda podem sofrer alterações, já que muitos partidos aguardam posicionamento da Justiça Eleitoral para deferimento das candidaturas.

Reeleição

Entre os candidatos únicos do Paraná, mais da metade está concorrendo à reeleição. Ao todo, são dez prefeitos que tentam dar sequência ao mandato. Para os chefes dos Executivos de Miraselva (Norte do estado), João Marcos Ferrer (PTB); Tupãssi (Oeste), José Carlos Mariussi "Cal" (DEM); e Paraíso do Norte (Noroeste), Betto Vizzotto (PT), a eleição sem concorrente não será novidade. Os três já se elegeram em 2008 sem participação de outros candidatos.

Apesar da aparente facilidade para permanecer no cargo, Betto Vizzotto diz que esse tipo de pleito também tem suas dificuldades. "Em eleições com muitos candidatos, alguns podem se eleger com 30%, 35% dos votos. Eu tenho de fazer mais de 50%", explicou o petista, que na última eleição municipal conquistou o apoio de aproximadamente 60% do eleitorado. "Não dá pra conseguir agradar todo mundo, mas numa eleição normal, esses votos seriam distribuídos para outros candidatos." Caso os votos brancos ou nulos somem mais de 50%, uma nova eleição é convocada.

Sem oposição

Em três cidades do No­­­­roeste do Paraná – Guapo­­rema, Indianópolis e Nova Aliança do Ivaí –, a eleição deste ano será a grande chance para candidatos que foram derrotados no pleito de 2008 e que agora não têm adversários.

Em Presidente Castelo Branco (Norte), a única candidata é Gisele Faccin (DEM), filha do ex-vereador Aquiles Faccin, o Tilera, que acabou perdendo as últimas duas disputas para a prefeitura. Mesmo com a vitória praticamente garantida, a candidata, que tem 29 anos, disse que levará a campanha para as ruas. "Vamos levar nossas propostas para o eleitor, manter contato. Acredito que é uma forma de respeitar a comunidade."

Análise

De acordo com Luciana Veiga, coordenadora da pós-graduação em Ciência Política da UFPR, as campanhas nestas 18 cidades paranaenses devem ser focadas contra a rejeição dos candidatos. "Sem adversário concreto, não há uma competição real. A formação da candidatura é feita muito mais para buscar apoio, para referendar a eleição", diz ela.

Na visão do cientista político Emerson Cervi, também da UFPR, o fato de políticos lançarem candidaturas únicas não significa necessariamente que estejam se aproveitando de uma situação. "Podem ter tido competência para costurar alianças políticas e neutralizar possíveis concorrentes."

Todas as cidades paranaenses sem bate-chapa são pequenas e têm menos de 11 mil eleitores

As eleições a prefeito com apenas um candidato costumam ocorrer em pequenas cidades do Paraná. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os 18 municípios paranaenses sem "bate-chapa" neste ano têm menos de 11 mil eleitores. Marmeleiro, no Sudoeste do estado, é a cidade que tem o maior colégio eleitoral, com 10,1 mil votantes. Já a menor cidade é Jardim Olinda, no Noroeste, tem apenas 1,4 mil eleitores.

De acordo com o cientista político Antônio Octávio Cintra, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esse cenário já é verificado no Brasil desde os anos 1940. "À medida que as cidades crescem, obviamente há uma diversificação de grupos, atividades, anseios. E isso se expressa na pluralidade de candidaturas", diz Cintra. "Em cidades menores, isso é mais difícil. Temos municípios que são influenciados por um determinado grupo, uma certa família, com aquelas típicas políticas de coronéis."

Para o cientista político Ricardo Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a situação dessas pequenas cidades é um sinal de fragilidade política. "Isso ocorre porque não existe uma oposição viável e competitiva, seja pela desorganização do grupo de oposição ou pelo fato de a candidatura existente estar ligada a uma estrutura de poder fortalecida", diz o cientista político.

Oliveira destaca que, em cidades com candidaturas únicas, não há debate de propostas durante a campanha eleitoral. E isso, afirma ele, pode se estender para a administração do município. "Essa falta de opção eleitoral é ruim, pois indica que não haverá uma oposição organizada para fiscalizar as ações da prefeitura."

Já o cientista político Emerson Cervi, também da UFPR, não vê grandes problemas na eleição com candidatura única. "Para a eleição em si, [a candidatura única] não é boa porque o eleitor perde a possibilidade de comparar dois projetos. Mas, não é tão grave, pois não significa que o candidato vai ser eleito automaticamente. Embora o eleitor não possa escolher o candidato, ele pode aceitar a proposta ou rejeita-la", opinou Cervi.

Cervi afirma que outro motivo para as candidaturas únicas pode ser creditado à formação de municípios nas décadas de 1980 e 1990. "Tivemos nos últimos 30 anos uma tendência de divisão dos municípios, criando localidades muito pequenas, que não têm de fato uma autonomia e grupos políticos próprios. Isso favorece o número elevado de candidaturas únicas."

Entre as 18 cidades paranaenses sem bate-chapa nas eleições deste ano, quatro foram criadas em 1993: Boa Esperança do Iguaçu (no Sudoeste), Bom Sucesso do Sul (Sudoeste), Pinhal de São Bento (Sudoeste) e Rancho Alegre D’Oeste (Centro-Oeste). Godoy Moreira (Centro-Norte) teve sua emancipação em 1990 e São José das Palmeiras (Oeste) em 1986.

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