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O petista Luiz Inácio Lula da Silva ganhou o apoio do tucano Mário Covas (à esquerda) e do pedetista Leonel Brizola na disputa do segundo turno contra Fernando Collor, que acabou vencendo a eleição e se tornou o primeiro presidente civil após o golpe militar de 1964 | Renato dos Anjos/AE
O petista Luiz Inácio Lula da Silva ganhou o apoio do tucano Mário Covas (à esquerda) e do pedetista Leonel Brizola na disputa do segundo turno contra Fernando Collor, que acabou vencendo a eleição e se tornou o primeiro presidente civil após o golpe militar de 1964| Foto: Renato dos Anjos/AE

A polêmica do último debate

O primeiro turno da eleição de 1989 acabou levando Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva para o embate direto, a ser decidido na segunda fase da eleição – realizada no dia 17 de dezembro.

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O "L" de Lula é paranaense

O gesto com as mãos simbolizando um L – fazendo um ângulo de 90° com o polegar e o dedo indicador – ficou popular na eleição de 1989 e até hoje é repetido pelos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Há 20 anos, os eleitores brasileiros foram às urnas escolher o primeiro presidente civil eleito por voto direto após a ditadura militar (1964-1985). Haviam se passado 29 anos desde a última eleição presidencial, realizada em 1960 – Jâ­­nio Quadros foi o vencedor. Daque­le pleito histórico até hoje muita coisa mudou. Tanto que é até difícil imaginar que possa voltar a acontecer uma nova disputa presidencial com 22 candidatos, de forte caráter ideológico e com alguns vídeos de campanha tão precários que chegam a ser engraçados.

A distância daquela eleição presidencial para a atual começa pela quantidade de partidos com candidatos na disputa. Dos partidos nanicos às grandes legendas, todos estavam dispostos a entrar na briga pela cadeira presidencial. A disputa foi vencida por Fernando Collor, que se filiou ao pequeno PRN apenas para se candidatar. Junto com outros quatro partidos pequenos, Collor alcançou dez minutos de tevê e surpreendeu os adversários durante a campanha.

"A tônica partidária mudou a partir de 1994, com uma polarização entre PSDB e PT na disputa presidencial. E essa polarização deve continuar. Hoje o que percebemos é que não teria mais espaço para uma situação como a de Collor, que criou um partido para se candidatar", comenta a cientista política Denise Paiva, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Para Denise, nesses 20 anos, houve um fortalecimento do sistema partidário do Brasil, o que resulta em avanços para o sistema democrático. "Naquele período estava havendo um rearranjo do sistema multipartidário pelas elites políticas."

Esse rearranjo e a necessidade dos partidos se autoafirmarem são dois pontos importantes para explicar o motivo de a eleição ter sido concorrida por 22 pessoas – sem contar com o apresentador Silvio Santos, que foi candidato por menos de 15 dias. Além disso, a eleição foi "solteira" – apenas o cargo de presidente estava na disputa. "Como era uma eleição só para presidente, todos os partidos lançaram seus candidatos", comenta Roberto Freire, que concorreu em 1989 pelo Partido Comunista Brasileiro.

A partir de 1994, toda eleição presidencial foi realizada simultaneamente com a de deputado federal, senador, governador e deputado estadual. Dos que entraram na disputa de 1989, apenas Luiz Inácio Lula da Silva e Enéas Carneiro voltaram a concorrer à Presidência nas eleições seguintes. Em 1998, Brizola foi para a disputa, mas como vice na chapa de Lula.

Ideologias

Uma eleição tão ideologizada como a de 1989 também dificilmente se repetirá no Brasil. "O mundo mudou muito nesses 20 anos. Havia ainda um contexto internacional em que a ideologia ainda importava para o cidadão comum", comenta a cientista política Luciana Veiga, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"Houve uma mudança de mundo e no Brasil, os partidos mais de centro conseguiram uma eficiência maior", diz. Luciana explica que hoje o cenário político do país se divide entre um grupo de centro-esquerda – ligado a PT e PMDB – e um de centro-direita – ligado ao PSDB e ao DEM.

Essa mudança no mundo e o enfraquecimento das ideologias ajudam a entender as diferenças no discurso de Lula entre a época em que ele era candidato e o momento atual, em que já acumula quase sete anos no comando do país. Em 1989, Lula falava em suspender o pagamento da dívida externa e era considerado um candidato raivoso. Hoje ele mantém a política financeira numa linha semelhante ao do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso e se tornou um exemplo de carisma.

Para o jornalista Mário Milani, militante histórico do PT, Lula foi aperfeiçoando o seu discurso e se reciclando. "Começou a se entender que ele precisava afinar mais o discurso. Porque tinha votos na classe média, mas não entre os mais pobres, que era quem ele defendia."

Marketing

O discurso mais "afinado" de Lula veio amparado por uma equipe de marketing de primeira linha em 2002 – ano da eleição do petista à Presidência pela primeira vez. Em 1989, Collor usou o marketing político como nenhum outro candidato da disputa da época.

"A campanha dele já nasceu com um indicativo de profissionalismo muito grande. Contou com pesquisas de opinião pública, programas de rádio e tevê com recursos sofisticados. A partir da experiência de Collor é que nós chegamos a resultados da profissionalização de hoje", comenta Adolpho Queiroz , professor de Marketing Político da Universidade Metodista de São Paulo.

Ele conta que aquela foi uma eleição que marcou uma fase da euforia do marketing político. "Havia a possibilidade da utilização plena de todos os recursos. Era permitido distribuir brindes, santinhos, fazer showmícios... Foi uma campanha certamente muito cara em função disso."

A liberalidade nos debates de 1989 é destacado pelo professor do Departamento de Direito Público da UFPR, Fabrício Tomio. "Há um total engessamento dos debates. Se você tem um número muito grande de candidatos, alguns deles pouco criveis, de fato se restringe o debate", avalia. Em junho daquele ano, o Congresso votou uma lei que obrigava a participação de todos os candidatos nos debates. Mas o Tribunal Superior Eleitoral entendeu, na época, que as emissoras poderiam realizar o debate apenas com aqueles que lideravam as pesquisas. Assim, alguns não eram convidados, outros se negavam, a participar. Collor, por exemplo, só foi aos debates do segundo turno contra Lula.

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