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Perspectiva de um cenário econômico ruim, problemas de caixa, aliados políticos sedentos por mais espaço, dificuldades em executar obras e até de dialogar entre si e com o mundo pontuam as principais dificuldades das segundas gestões do governador Beto Richa (PSDB) e da presidente Dilma Rousseff (PT). Em muitos aspectos, os desafios de ambos para os próximos quatro anos têm origens e estratégias de enfrentamento similares. Superá-los será determinante para o sucesso das duas gestões.

Economia

• "Pibinho, Pibelho, Pibículo"

Nos corredores do Planalto, sabe-se que nada incomoda mais a presidente Dilma Rousseff que gozações sobre o desempenho da economia. Nos três primeiros anos da gestão, o aumento médio anual de 2,1% do Produto Interno Bruto do governo Dilma só não foi pior do que nas gestões Fernando Collor (1990-1992) e Floriano Peixoto (1891-1894). A previsão da evolução para 2014 varia entre 0,15% e 0,18% de acréscimo. Também não há refresco para 2015 – o próprio governo reduziu a estimativa de 2% para 0,8%. A nomeação da nova equipe econômica, liderada pelo "fiscalista" Joaquim Levy, é uma mostra de que Dilma dará dois passos atrás, em 2015 e 2016, para tentar engrenar o crescimento a partir de 2017. O primeiro desafio é recuperar a credibilidade perdida com a manobra feita depois das eleições para descumprimento do superavit fiscal. O reforço das demais bases do tripé econômico – câmbio flutuante e metas de inflação – também depende diretamente de os investidores privados voltarem a confiar no governo.

• Ressaca do tarifaço no estado

A principal amostra de que o Paraná se descolou da onda de baixo crescimento nacional nos últimos quatro anos é o avanço de 56% da receita corrente líquida do estado entre dezembro de 2011 e abril de 2014. A porcentagem de aumento é a maior entre todas as unidades da federação. Os ganhos, porém, foram corroídos pelo inchaço da máquina. O remédio amargo para conter a ampliação dos gastos foi prescrito com a aprovação do tarifaço. Se por um lado os aumentos de IPVA e ICMS são apontados como a salvação do caixa estadual, por outro podem atrapalhar a dinâmica da economia. Segundo a Fiep, serão R$ 1,6 bilhão a menos nos bolsos dos paranaenses, somados à previsão de aumento da inflação. Embora as ações dos governos estaduais tenham impacto reduzido na macroeconomia, o desafio de Beto Richa é manter o horizonte limpo para o setor produtivo. O desafio é recuperar-se do impacto negativo do aumento dos impostos e, ao mesmo tempo, manter o ambiente para atração de negócios.

Gestão

• Deixa o ministro trabalhar

Quem foi o ministro da Fazenda durante 2011 e 2014: Guido Mantega ou Dilma Rousseff? A dúvida que paira na Esplanada remete à ingerência pessoal da presidente em toda condução da política econômica. Da nova equipe econômica, a escolha de Nelson Barbosa para o Planejamento seria o maior indício de que ela estaria disposta a mudar. Ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, ele deixou o governo em 2013 justamente por problemas em se contrapor ao núcleo duro da equipe econômica (leia-se, Dilma). Voltou por cima. Grande parte dos escolhidos também durou pouco tempo no cargo. No primeiro mandato, Dilma trocou de ministros 37 vezes.

• Paraná à procura de um líder

Seja no comando das contas estaduais, seja na interlocução do Palácio Iguaçu com o restante do governo, faltaram líderes à primeira gestão Beto Richa. Também houve trocas de comando nas três principais secretarias. Quatro nomes se revezaram na Casa Civil, quatro na Segurança Pública e mais três na Fazenda (sem contar Mauro Ricardo Costa, que assume em janeiro). Apesar de ser descrito por membros da equipe como um gestor "acessível", Richa também não avoca para si a liderança do cotidiano do governo. A falta de alguém que capitaneie a articulação teria sido o principal motivo para o descontrole nas contas estaduais. A escolha do novo secretariado, no entanto, dá sinais de mudança. Costa montou e teve respaldo de Richa para bancar o pacote tarifário. Na Segurança Pública, Fernando Francischini tem repetido que ganhou "carta branca" para trabalhar. A dúvida é saber se eles serão mesmo coadjuvantes com lampejos de fama ou protagonistas duradouros.

Política

• "Meus Malvados Favoritos"

Quando assumiu o mandato, em 2011, a oposição a Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados reunia quatro partidos (PSDB, DEM, PPS e PSol), reduzidos a 111 (22%) das 513 cadeiras. Com a criação do PSD, o número minguou para 82 logo no segundo ano de mandato. A maioria folgada da base governista, no entanto, rendeu dor de cabeça a Dilma. Aliados como o PMDB vão continuar impondo dificuldades. No Senado, a ‘paz’ depende de uma parceria arriscada com Renan Calheiros (AL). Na Câmara, o principal nome na disputa pela presidência da Casa, Eduardo Cunha (RJ), inspira mais medo que confiança – nos bastidores é chamado de "Meu Malvado Favorito". Dilma terá ainda pela frente uma oposição mais combativa, com a chegada de José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) ao Senado. Além disso, os desdobramentos políticos da Lava Jato vão consumir parte do tempo que a petista precisaria dedicar, por exemplo, à economia.

• Pouco espaço para aliados de Richa

A proeza de vencer no primeiro turno proporcionou a Beto Richa uma calmaria política poucas vezes vista no Paraná. O resultado minimizou os efeitos das críticas de Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT) e permitiu a aprovação do impopular tarifaço. Mas a vitória conquistada com o apoio de 17 siglas vai exigir um esforço constante de acomodação dos aliados. A eleição para o comando da Assembleia Legislativa e a escolha do secretariado inauguraram as primeiras rusgas. PSD, PPS e até o PMDB pleiteiam mais espaço no governo. A situação vai se acirrar com a aproximação de 2018. Como não dá sinais de quem pretende apoiar, Richa terá pela frente conflitos entre parceiros que podem respingar na gestão.

Obras

• Três "joias" precisam sair do forno

As três principais obras de infraestrutura planejadas ao longo das gestões Lula e Dilma estão prontas para sair do forno. A hidrelétrica de Belo Monte, a transposição do Rio São Francisco e a ferrovia Norte-Sul têm o começo das operações previsto para 2015. Resta saber se os prazos serão cumpridos. Belo Monte, na região amazônica, vai custar R$ 25,9 bilhões e a previsão é que a primeira das 24 turbinas comece a funcionar em 20 de fevereiro. A transposição, no Nordeste, vai custar R$ 8,2 bilhões e tem entrega prevista para 31 de dezembro. Dois terços da Norte-Sul, que vai ligar nove estados ao longo de 1.941 km, também devem acabar até o final do ano. A obra é avaliada em cerca de R$ 10 bilhões. O percalço para essas e outras obras, além da burocracia, será o legado da operação Lava Jato. A expectativa é de um ajuste nas relações do governo com as empreiteiras.

• Richa quer duplicação de 750 km

Prejudicado pelas dificuldades para liberar mais de R$ 3 bilhões em empréstimos e pelo aumento dos gastos com a máquina pública, o primeiro mandato de Beto Richa foi marcado por problemas para achar espaço para obras no caixa estadual. Em 2011, apenas 3,1% do total das despesas foi direcionado a investimentos; em 2012, 4,6%, e, em 2013, 5,6%. O índice deve melhorar com o fechamento das contas de 2014, mas há nuvens negras previstas para 2015. O governo reduziu de R$ 2,9 bilhões para R$ 2 bilhões a previsão para investimentos em 2015. Na lista das prioridades no próximo mandato estão 750 km de duplicações. Também estão previstos R$ 570 milhões para obras de modernização dos portos de Paranaguá e Antonina. O "Projeto Pontal do Sul" prevê a construção de 24 km entre a PR-407 e a Ponta do Poço (rodovia com pista dupla, ferrovia, dutos e linhas de transmissão) para viabilizar o novo porto.

Relações

• Grandes barreiras esperam pelo "anão"

Desde a gestão Lula, o governo sofre com críticas à politização da diplomacia e a preferência por países governados por militantes de esquerda. Dilma não deu sinais de mudança no primeiro mandato. E, depois de uma aproximação inicial com o presidente Barack Obama, deu um passo atrás com a revelação de que autoridades brasileiras teriam sido vítimas de espionagem dos EUA. O plano de governo para o segundo mandato estabelece como prioridades América do Sul, América Latina e Caribe, além do empenho para fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Comunidade de Países da América Latina e Caribe. Na sequência, fala também em "ênfase" nas relações com a África, com os países asiáticos e o mundo árabe. O desafio é, mesmo nessa linha, romper o estigma da politização, estabelecer o protagonismo proporcional à importância do país em organismos multilaterais e recuperar prestígio para evitar situações constrangedoras – como ser chamado de "anão diplomático" por Israel.

• No estado, hora de rediscutir a relação

Na primeira entrevista após a reeleição de Dilma, Beto Richa disse esperar por diálogo com a presidente, mas reafirmou a tese de que foi discriminado pela gestão petista. Segundo ele, o governo federal dedicou ao Paraná "um tratamento indigno". Era o primeiro sinal de que as feridas do primeiro mandato, em especial pelas dificuldades na liberação de empréstimos, continuavam abertas. O restabelecimento de pontes com o Planalto será um dos primeiros desafios. O governador trabalha com uma lista de 12 demandas, que começa pela renegociação da dívida dos estados e inclui obras em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

Perspectiva de um cenário econômico ruim, problemas de caixa, aliados políticos sedentos por mais espaço, dificuldades em executar obras e até de dialogar entre si e com o mundo pontuam as principais dificuldades das segundas gestões do governador Beto Richa (PSDB) e da presidente Dilma Rousseff (PT). Em muitos aspectos, os desafios de ambos para os próximos quatro anos têm origens e estratégias de enfrentamento similares. Superá-los será determinante para o sucesso das duas gestões.

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